RFI - O ministro das Relações Exteriores da Espanha, José Manuel Albares, convocou nesta segunda-feira (20) o embaixador argentino no país, Roberto S. Bosch, para exigir um novo pedido de desculpas públicas do presidente argentino, Javier Milei. Ele chamou Begoña Gomez, esposa do premiê espanhol, Pedro Sánchez, de “corrupta” durante um evento de líderes de extrema direita organizada pelo partido espanhol Vox, em Madri, neste domingo (19).

“Exijo mais uma vez um pedido público de desculpas de Javier Milei", declarou o chanceler espanhol à rádio Cadena Ser. Questionado sobre a possibilidade de romper relações diplomáticas, Albares declarou que estaopção não estava descartada caso Milei não se desculpasse. "Nós não queremos exercer estas medidas, mas se não houver um pedido público de desculpas, vamos fazê-lo", acrescentou.

No domingo, o chanceler espanhol convocou a embaixadora da Espanha em Buenos Aires, María Jesús Alonso Jiménez, e exigiu um pedido de desculpas do presidente argentino.

O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sánchez, acusou Milei de não estar "à altura" dos "laços de irmandade" entre Espanha e Argentina. "Tenho plena consciência de que quem falou ontem, não o fez em nome do grande povo argentino", declarou Sánchez.

Milei não citou diretamente o nome da esposa de Sánchez, mas não deixou dúvidas ao fazer sua declaração. “As elites globais não percebem quão destrutivo pode chegar a ser implementar as ideias do socialismo", declarou. "Então não sabem que tipo de sociedade e país podem produzir e os abusos que pode gerar, como quando a mulher é corrupta, se 'suja' e tira cinco dias para pensar”, disse Milei.

Investigação visando mulher de Pedro Sánchez - Segundo as autoridades espanholas, o líder argentino estaria fazendo alusão a uma investigação aberta contra a mulher de Pedro Sánchez após uma denúncia da associação "Mãos Limpas", um coletivo próximo à extrema direita. O inquérito se concentra nas ligações entre Begoña Gómez com o grupo de turismo Globalia, patrocinador de uma fundação onde ela trabalhava.

O grupo Globalia é dono da companhia aérea Air Europa, que estava em discussões com o governo para obter um resgate durante a pandemia de Covid-19.

Em novembro de 2020, o governo de Sánchez ofereceu uma linha de ajuda de € 475 milhões (R$ 2,7 bilhões de reais na cotação da época) à Air Europa, procedente de um fundo de € 10 bilhões destinado a apoiar empresas estratégicas em dificuldades devido à pandemia. A empresa espanhola foi a primeira a se beneficiar deste fundo.

Investimentos da Espanha na Argentina - Esta é a primeira viagem de Milei à Espanha desde que assumiu o cargo em dezembro. Ele não se encontrou com o rei Felipe VI e com o primeiro-ministro Sánchez, que apoiou o seu adversário Sergio Massa nas eleições.

O presidente da CEOE (Confederação Espanhola de Organizações Empresariais), Antonio Garamendi, criticou as declarações de Milei. "Rejeitamos profundamente" algumas declarações, que constituem um "ataque gratuito", disse Garamendi na rádio Cadena Ser.

A Espanha é o segundo país que mais investe na Argentina, atrás apenas dos Estados Unidos, em um volume estimado em € 15 bilhões (R$ 83,8 bilhões na cotação atual), segundo o Instituto Espanhol de Comércio Exterior (ICEX).

O líder do partido de oposição conservador Partido Popular (PP), Esteban González Pons, considerou a declaração de Milei como uma "intromissão" na política nacional e um espetáculo "chocante", em declaração à rádio COPE.

Governo argentino também exige desculpas - Para o governo argentino, Sánchez é quem deveria pedir desculpas. "Nenhum pedido de desculpas é necessário. Pelo contrário, acredito que deveria haver vários pedidos de desculpas do governo espanhol por tudo o que disseram sobre o presidente Milei", declarou o ministro do Interior argentino, Guillermo Francos, ao canal TN.

Recentemente, o ministro dos Transportes da Espanha, Óscar Puente, pediu desculpas após afirmar que Milei havia ingerido "substâncias" antes de um discurso. Na sexta-feira (17), a número três do Governo Sánchez, Yolanda Díaz, acusou o presidente argentino de semear o "ódio".