O presidente Jair Bolsonaro atacou o pai de Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para direitos humanos e ex-presidente do Chile. Ele foi morto pela ditadura chilena em 1974. 


Publicada nas redes sociais na manhã desta quarta-feira (4), a crítica foi uma resposta à entrevista concedida por Bachelet em Genebra, na qual ela afirma que o Brasil sofre uma "redução do espaço democrático", sobretudo com ataques contra defensores da natureza e dos direitos humanos. 

 "Michelle Bachelet, seguindo a linha do Macron em se intrometer nos assuntos internos e na soberania brasileira, investe contra o Brasil na agenda de direitos humanos (de bandidos), atacando nossos valorosos policiais civis e militares", escreveu o presidente. 

"Diz ainda que o Brasil perde espaço democrático, mas se esquece que seu país só não é uma Cuba graças aos que tiveram a coragem de dar um basta à esquerda em 1973, entre esses comunistas o seu pai brigadeiro à época", prosseguiu Bolsonaro. O texto acompanha uma foto em que Bachellet - à época, presidente do Chile -, ao lado de Dilma Rousseff e Cristina Kirchner, da Argentina.

Duranta a entrevista coletiva concedida em Genebra, Bachelet observou um aumento no número de pessoas - especialmente afro-brasileiros e moradores das favelas - que morreram nas mãos da polícia brasileira e também lamentou o "discurso público que legitima execuções sumárias" e a persistência de alguma impunidade.  

A comissária também recuperou ao menos oito defensores dos direitos humanos foram mortos no Brasil entre janeiro e junho. A maioria das mortes está relacionada a disputas de propriedade e "exploração ilegal de recursos naturais, principalmente agrícolas, florestais e minerais". 

"Dissemos ao governo que ele deve proteger aos defensores dos direitos humanos e do meio ambiente, mas também examinar as medidas que podem desencadear violências contra esses defensores", afirmou Bachelet.


Alberto Bachelet

Alberto Bachelet, pai de Michelle, era general da Força Aérea e se opôs ao golpe dado por Augusto Pinochet em setembro de 1973. Bachelet foi preso três dias depois da queda de Salvador Allende e morreu, ainda no cárcere, em 12 de março de 1974, aos 50 anos.

Em 2012, a Justiça do Chile mandou prender os coronéis Benjamin Cevallos e Ramón Cáceres Jorquera, acusados de torturar e causar a morte do pai de Bachelet. Na ocasião, ela era candidata a presidente do país. 

Foi a primeira vez em 38 anos que a Justiça se pronunciou sobre o caso do general Alberto Bachelet. A ordem foi dada após o Serviço Médico Legal determinar que a morte foi causada por problemas cardíacos decorrentes da tortura que ele sofreu na Academia de Guerra Aérea (AGA). À época, o órgão estava sob responsabilidade de Jorquera e Cevallos. “Há uma relação direta entre a morte da vítima e o seu último interrogatório”, escreveu o juiz.

Quando foi preso, o general chegou a enviar uma carta para sua mulher, Ângela Jeria, na qual relatava que o mais humilhante era que a tortura era praticada por seus companheiros de armas.

Alberto Bachellet e Michelle estão entre as 32 mil pessoas torturadas e presas durante a ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990). A apuração dos crimes cometidos pelo Estado chileno durante a ditadura Pinochet levou a dezenas de condenações e prisões.