A pista do aeroporto de Cabul foi reparada e já consegue receber voos humanitários, anunciou o embaixador do Qatar no Afeganistão, citado pela Al Jazeera. De acordo com o diplomata, os trabalhos foram feitos por uma equipe técnica do Qatar “em cooperação com as autoridades do Afeganistão”.


O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, vai no início da semana ao Qatar, onde estão refugiados muitos afegãos. A Organização das Nações Unidas (ONU) vai reunir-se para debater a ajudar humanitária ao Afeganistão.


Além de voos humanitários, o aeroporto de Cabul também poderá começar a operar voos civis “em breve” e indica que já foram realizados dois voos internos, com destino às cidades de Mazar-i-Sharif e Kandahar.


O aeroporto esteve fechado desde o fim da ponte aérea entre Cabul e países ocidentais na passada segunda-feira, pondo fim a uma presença de 20 anos das forças americanas no Afeganistão.


Morreram pelo menos 17 pessoas durante celebrações com tiros para o ar, o que motivou uma declaração do porta-voz talibã no Twitter. “Evitem disparar para o ar e, em vez disso, agradeçam a Deus. As balas podem ferir civis, por isso não as disparem desnecessariamente”, escreveu Zabihullah Mujahid.


Os talibãs também declaram ter conquistado a região do vale de Panjshir, a última província afegã fora do controle dos extremistas islâmicos. No entanto, o líder da resistência não confirmou a derrota.


Ajuda humanitária


O reforço da ajuda humanitária ao Afeganistão será o principal tema da reunião da ONU no próximo dia 13, em Genebra. O porta-voz de António Guterres adiantou que será proposto “um rápido aumento no financiamento, para que as operações humanitárias que salvam vidas possam continuar”.


“O Afeganistão enfrenta um desastre humanitário iminente”, devido a “um conflito prolongado, uma seca severa e à pandemia de covid-19”, disse Stéphane Dujarric. O porta-voz acrescentou que os voos humanitários para o Norte e Sul do Afeganistão foram retomados, permitindo que “160 organizações humanitárias continuassem a sua atividade nas províncias afegãs”.


Dujarric confirmou o número de voos com auxílio humanitário devem ser aumentados em breve. Entre 2020 e 2021, a ONU organizava voos para mais de 20 localidades afegãs e o objetivo é retomar estas operações logo que as condições de segurança e financeiras o permitam.


Com uma população de 38 milhões de habitantes, o Afeganistão está dependente da ajuda humanitária. Um em cada três pessoas não sabe quando terá a próxima refeição, sendo ainda estimado que metade das crianças com menos de cinco anos apresentem graves sinais de malnutrição dentro de 12 meses.


Estados Unidos
 
De acordo com a Reuters, o Congresso dos Estados Unidos deverá participar no financiamento do trabalho das Nações Unidas, através do Programa Alimentar Mundial e do Alto Comissariado para os Refugiados, que promovem a ajuda humanitária no Afeganistão. No entanto, vão querer impor condições à aplicação das verbas.


Já o cenário de uma eventual ajuda ao país diretamente através do governo talibã é muito remoto. A falta de supervisão e a relutância “em apoiar um governo que é um anátema para nós” torna “muito difícil convencer os membros do Congresso a fazer alguma coisa que pareça um apoio ao governo talibã”, declarou um assessor democrata à agência Reuters. Uma posição corroborada à mesma agência por um assessor republicano. “Os republicanos não apoiariam de forma alguma a entrega de dinheiro aos talibãs”, afirmou.


Qatar
 
Os governantes Qatar têm desempenhado o papel de facilitadores do diálogo entre americanos e talibãs. Por isso, o secretário de Estado norte-americano planeia transmitir a sua “profunda gratidão” pela ajuda na retirada do Afeganistão de estrangeiros bem como de afegãos suscetíveis de sofrerem represálias dos talibãs. Os Estados Unidos moveram para Doha os diplomatas nacionais que tratam das questões afegãs.


Foram transportadas cerca de 123 mil pessoas, 75%o das quais “afegãos em risco”, durante a segunda quinzena de agosto. Mais de 55 mil pessoas foram transportadas via Doha, a principal base de apoio da operação de resgate.


Por isso, Antony Blinken vai deslocar-se ao Qatar, entre segunda e quarta-feira da próxima semana, para viabilizar a retirada de mais pessoas que ainda querem deixar o Afeganistão (cerca de 200 americanos continuam no país), mas não tem planos para encontrar-se diretamente com os representantes afegãos.


“Se for necessário que o secretário de Estado fale com um líder talibã sobre algum assunto do nosso interesse nacional, ele o fará, mas neste momento ainda não temos planos para tal”, declarou um diplomata, citado pela Reuters.


No entanto, Blinken disse esperar que o governo talibã seja “realmente inclusivo”, com “não-talibãs” e “representantes das diferentes comunidades e dos diferentes interesses no Afeganistão”.


Depois, Blinken prossegue viagem para a Alemanha, onde vai copresidir a uma reunião do “grupo de contato” para a crise afegã, que junta representantes de duas dezenas de países.