As aulas não voltaram, os estádios seguem fechados, o home office ainda é uma realidade para muita gente e, na média, quase 700 brasileiros morreram em decorrência da Covid-19 na última semana. Os infectologistas, no mundo inteiro, apresentam apenas uma maneira de minimizar o problema relacionado a um vírus extremamente contagioso: o distanciamento social.

Esta prática foi definitivamente abandonada por americanos, atleticanos e cruzeirenses em Belo Horizonte neste mês de setembro. Com a bola rolando desde o final de julho, nos últimos dias, na alegria ou na tristeza, torcedores promoveram aglomerações em vários locais da capital e da Região Metropolitana.

Os últimos episódios foram registrados por duas noites seguidas, na última sexta-feira (25) e no último sábado (26), antes de a bola rolar no Mineirão para Cruzeiro 0 x 1 Avaí, pela Série B, e Atlético 3 x 1 Grêmio, pelo Brasileirão, respectivamente.

O mais impressionante é que na última quinta-feira (24), em reunião com a Federação Mineira de Futebol (FMF) para tratar do jogo do Galo contra o tricolor gaúcho, já percebendo nas redes sociais a mobilização de atleticanos para fazerem a “Rua de Fogo” no entorno do Mineirão, a Polícia Militar fez constar na Ata da partida que não permitiria a ação.

Confira a nota divulgada pela FMF sobre o assunto:

"Boa tarde! Em reunião de alinhamento operacional para o jogo Atlético x Grêmio, que será realizado no próximo sábado (26/09), às 21h, no Mineirão, a PMMG informou que não será permitida a "Rua de Fogo", tradicionalmente organizada pela torcida do Atlético em momentos anteriores à pandemia. Além de evitar aglomerações, a medida busca impedir acidentes ou outros problemas causados pela utilização de artefatos pirotécnicos em via pública.

A PMMG reforça a recomendação para evitar aglomerações no entorno do estádio, em respeito à prevenção da contaminação pelo coronavírus, e informa que, por este motivo, não será permitida a "Rua de Fogo", evitando, também, possíveis acidentes causados pela utilização de artefatos pirotécnicos, em obediência ao protocolo de segurança preventivo em jogos nos estádios e normas legais vigentes."

Na sexta-feira, a torcida do Cruzeiro fez a “Rua de Fogo” no entorno do Mineirão, apesar da posição da PM no dia anterior. No último sábado, milhares de atleticanos voltaram a ocupar as ruas próximas ao estádio e também fizeram o ato de apoio ao seu time.

“É uma situação muito complexa. A gente recomenda, mas o problema é uma atuação enérgica que você pode ter uma ação muito pior. A Polícia acompanha o local, não tivemos nenhum problema, mas infelizmente falta conscientização das pessoas”, disse ao Hoje em Dia o Major Flávio Santiago, chefe da comunicação da Polícia Militar, na noite do último sábado, após o segundo dia seguido de “Rua de Fogo” no entorno do Mineirão.

Assim, o desafio ao novo coronavírus tem sido a marca dos torcedores mineiros em setembro. São dez episódios de aglomeração, em que milhares de pessoas, mais do que se colocarem em risco, o que é uma opção pessoal, colocaram em risco familiares, colegas de trabalho, amigos, vizinhos.

Confira as aglomerações de torcedores neste mês:

3 de setembro
Um grupo de torcedores do Cruzeiro vai ao Aeroporto de Confins protestar pela derrota do time para o Brasil-RS, em Pelotas, pela 7ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro.

7 de setembro
Torcedores do Cruzeiro vão à porta da Toca da Raposa II esperar a saída do ônibus do clube para o jogo contra o CRB, no Mineirão. O ato é de apoio ao time, que empata o jogo, o que resultou na queda do técnico Enderson Moreira.

15 de setembro
Torcida do Atlético protesta na porta da sede, em Lourdes, porque o clube poderia contratar Thiago Neves, o que já era uma certeza, naquela data, que não aconteceria.

18 de setembro
Um grupo de torcedores do Atlético vai ao Aeroporto de Confins apoiar o time que estava embarcando para Goiânia, para encarar o Atlético-GO, em partida onde a liderança da Série A foi recuperada pelo Galo.

20 de setembro
A derrota de 3 a 1 para o então lanterna CSA, em Maceió, revolta a torcida cruzeirense, que novamente vai ao Aeroporto de Confins protestar contra o péssimo desempenho do time na Série B.

22 de setembro
Cruzeirenses vão para a porta da Toca da Raposa II protestar mais uma vez contra a péssima campanha do time na Série B. A aglomeração só não é maior por causa de um pedido do presidente Sérgio Santos Rodrigues a um grupo de organizadas para que não participassem do protesto.

22 de setembro
Torcedores do América se reúnem na Rua Pitangui para promover uma “Rua de Fogo” na chegada do ônibus do clube para encarar a Ponte Preta, pela Copa do Brasil. A Macaca afirma que foram dados socos e chutes em seu ônibus. Os americanos negam.

24 de setembro
Torcedores se aglomeram na porta da Arena MRV por causa de uma visita de Ronaldinho Gaúcho à obra do novo estádio atleticano. O grupo se revolta e xinga o ex-jogador por ele não ter atendido a pedidos de fotos e autógrafos.

25 de setembro
No dia seguinte em que a PM proíbe em Ata na FMF a chamada “Rua de Fogo” da torcida do Atlético, antes da partida contra o Grêmio, os cruzeirenses vão aos arredores do Mineirão antes do jogo contra o Avaí e promovem exatamente a “Rua de Fogo”.

26 de setembro
Milhares de atleticanos ignoram a recomendação da Polícia Militar e vão ao entorno do Mineirão fazer a “Rua de Fogo”.