CRUZEIRO


O amargor de estar onde não lhe pertence não se explica. É algo que se sente e se percebe pelas expressões do rosto, pelo tom de voz, pelo canto tímido, abafado. A angústia se disfarça de esperança. Vão esforço de não demonstrar fraqueza, de manter-se firme diante de quem tanto lhe ironizou. Mas o dia da glória, enfim, chegou para a torcida do Cruzeiro.

Aquele fatídico 8 de dezembro de 2019 contrasta com a euforia deste 21 de setembro de 2022. Quis o destino que o palco da angústia do rebaixamento e da alegria do retorno fosse o mesmo. O Mineirão, o mesmo que em outros tempos viu títulos nacionais e internacionais, coloriu em azul e branco a noite desta quarta-feira e ecoou um grito de felicidade e alívio.

Desde cedo, o entorno do estádio indicava: era dia de decisão. Aos poucos, as ruas foram tomadas por torcedores - desde os que pediram folga e armaram um churrasco aos que pegaram o ônibus cheio na saída do trabalho. Havia chegado a noite de celebrar não apenas o acesso, mas o orgulho de ser cruzeirense.


Em algum momento, o tetracampeão brasileiro subiria de todo modo, seja qual fosse o resultado desta noite. Mas o clube precisava dessa vitória. Diante do Vasco, outro gigante nacional que luta para reviver os tempos de conquista, num Mineirão lotado por 59.204 apaixonados. A festa aguardada por 1019 dias.


Na entrada dos jogadores, o mosaico com a palavra 'Cabuloso' deu a dimensão do que seria esta noite. À frente, uma imagem de Ronaldo - o ídolo, o chefe e o torcedor-símbolo de um 2022 marcante na centenária trajetória celeste. Um ano histórico.


Durante o jogo, não houve angústia. O clima era de festa do início ao fim. No primeiro gol, do improvável Machado, a explosão de quem sabia que nada poderia estragar aquela noite. O segundo, do artilheiro Edu, fez as arquibancadas se tornarem uma declaração de amor ao clube. O terceiro, de Luvannor, garantiu a merecida goleada.


A volta à Série A, ao lugar que lhe pertence, fez o cruzeirense se dar o direito de provocar um rival. Ou melhor, reconquistá-lo. "Arerê, o Vasco vai jogar a Série B" foi o canto daqueles que fizeram sofrer quem sorriu.