Leandro Zago explicou o trabalho 'transdisciplinar' feito à frente do time sub-17

Pouco mais de cinco meses após assumir o comando do time sub-17 do Atlético, o técnico Leandro Zago conquistou a Taça BH, principal competição da categoria. Para o treinador, o título, garantido nessa terça-feira em vitória por 3 a 1 sobre o Fluminense, no Independência, premia o trabalho de resgate às origens do clube alvinegro.
“A gente tem uma preocupação grande que o time tenha um jogo que tenha dentro da identidade do clube. É ter uma equipe competitiva, um jogo vertical e de alta intensidade. Temos isso tanto por conta do perfil dos atletas, quanto pelo trabalho desenvolvido. Temos boa imposição física, e a gente busca jogadores que tenham boa técnica e velocidade, porque o futebol moderno exige isso”, disse Zago, em entrevista ao Superesportes.
Na campanha rumo ao hexacampeonato da competição - que anteriormente era disputada por times sub-20 -, o Galinho eliminou equipes tradicionais. Após se classificar como segundo colocado na chave liderada pelo Juventude, o time de Zago passou por Flamengo, Santos e São Paulo no mata-mata antes de encarar o Fluminense na decisão.
Além de questões técnicas e táticas, o treinador destacou outro fator fundamental para o sucesso da equipe numa competição de ‘tiro curto’: a preparação física. Afinal, o Atlético se destacava nos segundos tempos das partidas. Dos 19 gols marcados pelo time na competição, 13 - ou 68% - foram anotados na etapa final dos jogos.
“Tivemos a preocupação de rodar o elenco na primeira fase para equilibrar a carga dos jogadores que a gente considerava fundamentais, que eram uns 16, 17. A partir do jogo com o Flamengo (o primeiro do mata-mata), tínhamos uma condição física e técnica de grupo, para escolher os melhores, ver os que estavam desempenhando melhor no momento. É uma competição caracterizado pelo momento. Nem sempre o melhor jogador tem que jogar, mas sim o que estiver em um momento melhor”, explicou.
Destaques
Ramon Lisboa/EM/D.A Press
Jogadores do time sub-17 do Atlético comemoram título da Taça BH, conquistado sobre o Fluminense
Leandro Zago destacou seguidamente o bom rendimento coletivo durante a competição. Entre os atletas que entraram em campo, entretanto, um em especial chamou atenção de torcedores e jornalistas: Guilherme, um dos artilheiros da competição, com cinco gols.
“O Guilherme tem uma capacidade de absorver informação muito boa, foi para o sub-20, passou por um período lá. Voltou para o sub-17 antes da competição. É muito concentrado. É fundamental no futebol que tem muitos conceitos, ideias e desenvolvimento de jogo e pessoal”, analisou.
Leia a entrevista com o técnico Leandro Zago
Quais pontos foram importantes para a conquista do título da Taça BH?
Tivemos a preocupação de rodar o elenco na primeira fase para equilibrar a carga dos jogadores que a gente considerava fundamentais, que eram uns 16, 17. Estabelecemos uma carga equilibrada de minutos em campo para que não tivéssemos jogadores cansados ou sem rodagem no mata-mata. A partir do jogo com o Flamengo (o primeiro do mata-mata), tínhamos uma condição física e técnica de grupo, para escolher os melhores, ver os que estavam desempenhando melhor no momento. É uma competição caracterizado pelo momento. Nem sempre o melhor jogador tem que jogar, mas sim o que estiver em um momento melhor.
Qual o perfil desse time?
A gente tem uma preocupação grande que o time tenha um jogo que tenha dentro da identidade do clube. É ter uma equipe competitiva, um jogo vertical e de alta intensidade. Temos isso tanto por conta do perfil dos atletas, quanto pelo trabalho desenvolvido. Temos boa imposição física, e a gente busca jogadores que tenham boa técnica e velocidade, porque o futebol moderno exige isso. O jogador lento acaba sofrendo muito. É o que a gente está praticando hoje no sub-17, que visa a pressionar o adversário, recuperar a bola rapidamente e ter um jogo de bastante finalização.
A gente tem buscado identificar a identidade do clube. Estamos partindo desse pressuposto. Cada treinador tem a liberdade de fazer ajustes ideais, para não cercear a liberdade da comissão. Mas é preciso entender que se está dentro de uma instituição que tem uma identidade de jogo histórica. Pelo que vimos na Copa do Mundo, talvez haja maior influência no futebol mundial atual do Jurgen Klopp do que do Guardiola. É um futebol com altíssima intensidade com e sem bola. É isso que a gente buscou construir nesses cinco meses de trabalho para a gente ter vantagens. Por estarmos acostumados a treinar com intensidade, conseguiu impor isso nos adversários e também conseguimos nos recuperar melhor entre os jogos. Não foi por acaso, foi também pelo perfil do nosso trabalho, que chegamos bem nos segundos tempos.
Há influências do time profissional ou, por exemplo, do Liverpool de Klopp na equipe juvenil?
Há mais coincidências que influências. Vejo que o time joga assim mais por uma questão de resgate histórico. O futebol atual tem algumas formas de ocupar o espaço que são padrões. O Thiago (Larghi) usa no profissional, o Klopp usa no Liverpool, a gente usa no juvenil. O 4-3-3 é uma formação muito boa, dá largura, velocidade, você consegue pressionar e, quando você é pressionado, você consegue construir linhas largas para sair da situação. O desenho é um meio para resolver e colocar as ideias em prática. Não é um fim por si mesmo.
Quais os pontos fortes de Guilherme (artilheiro da Taça BH)?
O Guilherme tem uma capacidade de absorver informação muito boa, foi para o sub-20, passou por um período lá. Voltou para o sub-17 antes da competição. É muito concentrado. É fundamental no futebol que tem muitos conceitos, ideias e desenvolvimento de jogo e pessoal. Não é do nada, esse é a grande qualidade do Guilherme. Tem o perfil de ser muito concentrado.
Nesses cinco meses de Atlético, o que você destacaria no trabalho de base do clube?
Vou falar evitando qualquer tipo de comparação com o que tinha sido feito antes. A estrutura física é de altíssimo nível, talvez entre as três melhores do Brasil. Várias áreas de grande potencial de utilização, nível de excelência... Venho de um clube de estrutura mais enxuta, em que muitas vezes eu perdia rendimento nas competições, porque perdia atleta lesionado, o atleta não se recuperava no tempo devido, não tinha suporte do departamento de psicologia. No Atlético, dois atletas se machucaram gravemente antes da competição. Conseguimos recuperá-los. Temos o envolvimento do departamento médico, da fisiologia, da psicologia, da nutrição. Meu papel como treinador é a transdisciplinaridade. Não é um título de um treinador ou da comissão técnica. Eu consigo envolver todo mundo. Para mim, esse título é resultado disso, da potencialização de todas as áreas. Isso foi o fundamental, porque vai dar consistência para o resultado. A gestão deu suporte total. O Marques (coordenador da base), o Gustavo Cupertino (gerente) e o Guilherme Sousa (sub-gerente). Nos conhecemos numa entrevista. Eles têm confiança total no trabalho que a gente faz, deu o suporte que a gente pediu. Pedimos um período de atividades em São Paulo, para jogar com outros adversários. Teve um investimento para ficar uma semana em São Paulo fazendo jogos. Compraram bem a ideia. Conseguimos envolver todos, então isso foi decisivo.