Para uns, “largo”. Para outros, simplesmente “maior que Eto’o”. O certo é que Manuel de Brito Filho, o famoso Obina, tornou-se um dos nomes mais folclóricos do futebol brasileiro. Mas chega uma hora que o corpo pede um basta e o atacante soube, como poucos, reconhecer que era a hora do adeus. A despedida dos gramados do “Capitão Obina”, aos 35 anos, foi cercada de mensagens de apoio e a certeza de que este baiano, de sorriso fácil, marcou seu nome no futebol mineiro. Atleticanos e americanos agradecem.
Como você recebeu o carinho dos torcedores de Atlético e América após o anúncio de sua aposentadoria dos gramados?
Não tenho palavras para agradecer por tudo que essas duas torcidas maravilhosas fizeram por mim. Eu amo a torcida do Atlético, tenho um apego e respeito muito grandes, algo que começou quando eles foram me buscar lá no aeroporto. Foram os melhores anos da minha carreira. E quando eu vesti a camisa do América, me senti muito bem. Um time como o América, com a estrutura que tem, não merecia nunca disputar a Segunda Divisão. Sempre tive essa certeza.
Muitos torcedores se recordam da atuação do “Capitão Obina” no 4 a 3 sobre o Cruzeiro no Campeonato Brasileiro de 2010. Teve até “Tropa de Elite” no “Fantástico”. Foi sua grande performance com a camisa do Galo?
Foi o momento que coroou minha passagem pelo Atlético. Cada hora que eu fazia um gol, os torcedores do Cruzeiro iam embora. Foi um jogo de torcida única em Uberlândia, e eu estava realmente muito inspirado. Lembro de cada um dos meus três gols, até o quarto marcado de cabeça pelo Réver. Aquela partida foi especial para mim e, definitivamente, me fez atingir um novo patamar para a torcida atleticana. A melhor maneira de retribuir o carinho era entrar com tudo. Sempre 100%.
Quem era o seu grande companheiro no Atlético?
Tinha grandes companheiros como o Zé Luís, Diego Souza, Ricardinho, Daniel Carvalho, Tardelli e o Serginho, que era meu companheiro de quarto. Criamos uma amizade muito forte e que eu vou levar para a vida.
O que deu errado naquele time do Atlético?
Mesmo com grandes medalhões e o comando do Luxemburgo, o time não conseguiu emplacar e brigou para não cair. O Kalil até afirmou que foi a primeira vez que ele viu jogadores derrubarem um técnico. Tem coisas que acontecem na vida que a gente não consegue explicar. Era um time muito forte, com craques como Ricardinho, Diego Souza, Fábio Costa, Marques. No início, até deu certo, conquistamos o Mineiro de 2010, mas os resultados não apareceram no Brasileiro. E a gente sabe que as coisas ficam ainda mais complicadas quando as vitórias não vêm. Eu não posso confirmar o que o Kalil disse sobre o Luxemburgo, mas eu sei que dei tudo de mim e sempre fazia a minha parte. Sabia da minha responsabilidade com o torcedor atleticano. Isso vai de cada um.
Você acabou deixando o Atlético no início de 2011, mas prometeu que voltaria ao clube mineiro algum dia. O que aconteceu que essa promessa não foi cumprida?Você chegou a receber alguma sondagem do Galo neste período?
Voltar ao Atlético era um dos maiores sonhos que eu tinha. Quando eu decidi voltar para o Brasil depois do período na China até perguntei para os meus representantes se o Atlético tinha feito alguma sondagem. A prioridade sempre seria do Galo. Mas a equipe tinha acabado de contratar o André. Acabou que eu nunca pude concretizar esse sonho de voltar a defender a camisa atleticana, fui para o Palmeiras e outros clubes, mas o respeito e o carinho permaneceram intactos. Lembro de uma partida que eu fiz dois gols no Atlético e não comemorei. E olha que eu fiquei no clube um ano. Era minha forma de reconhecer o carinho do torcedor.
Qual é a sua relação com o rival Cruzeiro? As provocações do clássico ficavam só em campo?
O gol tem que ser comemorado e cada torcedor escolhe sua maneira. Lembro do Tardelli com a maquiagem. Foi a forma que ele encontrou. Mas o futebol é isso. Comemorar. O que eu posso garantir é que sempre tive respeito pelo Cruzeiro, mas dentro de campo era eu contra eles buscando o melhor para a Massa atleticana.
O torcedor do América lembra com muito carinho de sua passagem pelo clube. Você foi o artilheiro do Coelho na Série B em 2014, com 13 gols, e é o maior goleador do América no Novo Independência, também com 13 tentos. O quanto o Coelho significou para a sua carreira?
O América é grande. É muito maior do que muitas pessoas imaginam. O clube sempre tem que pensar que é grande. Já joguei em grandes clubes que não tinham a estrutura que o América tem. Fico feliz com o carinho do torcedor americano, mas tenho uma frustração de não ter conseguido subir em 2014. Ficamos a um ponto do acesso e o pior é que fomos penalizados por um erro administrativo (a escalação irregular do lateral Eduardo). Tínhamos o acesso com a gente e aí veio isso. Não perdemos essa vaga no campo, foram situações externas que nos impediram de fazer história com a camisa do América.
Em que momento você decidiu que o “Obina é melhor que Eto’o” deveria se aposentar dos gramados? E o que você planeja para o futuro?
Eu ainda não tenho planos para o futuro. Quero estudar e poder ajudar mais crianças a realizarem o sonho de jogar futebol, assim como eu consegui chegar lá. As dores (oriundas de uma lesão no tendão de Aquiles) influenciaram na minha decisão de parar, mas eu sei que poderia jogar mais um ou dois anos. O problema é que, a cada partida, eu tinha que fazer uma sessão de fisioterapia. Foi aí que eu pensei: será que vai valer a pena continuar jogando? Será que vale sofrer? Decidi dar espaço para outras pessoas. Eu consigo fazer tudo, jogo minhas peladas, mas nem todos os clubes aceitariam essa condição de tratamento. E eu não sou assim. Fui um jogador que sempre se entregou.