O prefeito Renato Carvalho (Republicanos) classificou a chuva como “uma das mais fortes da história de Araguari” e afirmou que a intensidade superou a capacidade do sistema de drenagem. “Esses 70 milímetros caíram em cerca de 40 a 45 minutos, o que provocou um volume de enxurrada muito grande. Tivemos ruas completamente tomadas pela água, asfalto arrancado e casas invadidas”, disse.
Entre os locais mais atingidos estão os bairros Independência, Maria Eugênia, Goiás e Centro. Na Avenida Coronel Teodolino Pereira de Araújo, o asfalto foi totalmente arrancado. O Corpo de Bombeiros realizou resgates de motoristas e moradores ilhados e a Defesa Civil atendeu dez ocorrências de queda de árvores.
De acordo com o prefeito, o cenário foi de destruição em diversas frentes: “Tivemos carros sendo arrastados, quatro ou cinco veículos levados e destruídos de uma vez só, além de danos a equipamentos públicos. A Superintendência de Águas, duas escolas municipais e o prédio histórico do Palácio dos Ferroviários, onde funciona o gabinete do prefeito e a Procuradoria, foram invadidos pela água.”
O prefeito explicou que as equipes da Secretaria de Serviços Urbanos e de Infraestrutura estão em força-tarefa para limpeza e desobstrução de bueiros e galerias pluviais, que voltaram a entupir com a enxurrada. “Já vínhamos realizando limpeza preventiva há dois anos, mas, com a intensidade dessa chuva, muitos bueiros ficaram totalmente obstruídos de novo principalmente na Coronel Teodolino. Agora estamos limpando tudo, porque há previsão de mais chuva nos próximos dias e o sistema de drenagem não pode ficar comprometido.”
Apesar dos estragos, não houve mortes. Segundo o prefeito, o Corpo de Bombeiros fez três resgates, mas não há desabrigados ou desalojados. A prefeitura deve decretar situação de emergência ainda nesta semana. “Estamos em reunião para tratar disso. Tudo indica que vamos decretar emergência, principalmente para os pontos mais afetados. Há ruas que simplesmente deixaram de existir levaram calçadas, drenagem, base, sub-base e o asfalto. Sem ajuda do Estado, o município não tem condições de reconstruir tudo”, afirmou.
Embora o prefeito destaque o temporal desta semana como o mais severo da história recente de Araguari, a cidade já enfrentou episódios semelhantes de chuva extrema em outros anos. Em dezembro de 2017, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou 82 milímetros de chuva em apenas duas horas, provocando alagamentos, entupimento de redes de esgoto e rompimento de asfalto em diversos bairros.
À época, o então superintendente da Superintendência de Água e Esgoto (SAE), André Luís Nogueira, explicou que o volume excepcional sobrecarregou o sistema.“As redes de esgoto, já cheias, extravasaram com a água pluvial, causando entupimentos e rompimentos”, relatou.
Poucas semanas depois, em janeiro de 2018, outro temporal acumulou cerca de 70 milímetros em uma hora e meia, segundo a Defesa Civil. Houve enchentes nos bairros Bosque, Maria Eugênia e na Avenida das Codornas, com registro de muro desabado e residências inundadas. Móveis, eletrodomésticos e até veículos foram danificados, evidenciando a vulnerabilidade estrutural da cidade diante de chuvas intensas.
Oito anos depois, o problema persiste, apesar das intervenções preventivas realizadas na cidade. “Isso ajudou bastante, mas com uma chuva tão severa e intensa como a de ontem, ficou nítido que muitos bueiros ficaram totalmente obstruídos novamente especialmente na Avenida Coronel Teodolino, com muita terra e lixo arrastados pela enxurrada. Agora estamos em uma força-tarefa para fazer a limpeza completa, porque há previsão de mais chuvas nos próximos dias e o sistema de drenagem não pode ficar comprometido”, explicou o prefeito Renato Carvalho.
O que explica a chuva intensa?
De acordo com a meteorologista Anete Fernandes, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o volume registrado foi resultado de uma combinação de temperaturas elevadas, alta umidade e a passagem de uma frente fria pelo litoral, que criou uma forte situação pré-frontal sobre Minas Gerais.
“Ontem estávamos sob uma condição de instabilidade muito grande. As temperaturas estavam muito elevadas em praticamente todo o estado, e tivemos a passagem de uma frente fria pelo litoral. Esse sistema avançou rapidamente aqui na capital, por exemplo, quase não sentimos os efeitos diretos, mas o avanço pelo oceano gerou o que chamamos de situação pré-frontal”, explicou.
Segundo ela, o calor intenso favoreceu o desenvolvimento de nuvens muito carregadas, típicas de tempo severo. “Quando há ventos tão intensos, isso indica condição de tempo extremo. Ninguém reportou granizo, mas houve muita chuva em pouco tempo o que explica os 70 milímetros em Araguari.” A meteorologista destacou ainda que rajadas de vento acima de 60 km/h foram registradas em várias cidades, como Governador Valadares, Curvelo, Campina Verde, Ituiutaba, Juiz de Fora, Muriaé e Januária.
Estragos pelo estado
Na Zona da Mata, Leopoldina decretou situação de emergência após registrar 58 milímetros em 30 minutos, com ventos de até 80 km/h e granizo. O vendaval destelhou casas, danificou o setor de hemodiálise da Casa de Caridade Leopoldinense e provocou deslizamentos em estradas rurais.
Em Muriaé, ruas do bairro Rosário ficaram alagadas, e o distrito de Boa Família foi coberto por gelo após chuva de granizo. Na região Central, Conceição do Mato Dentro teve vias interditadas e queda de árvores no Largo do Rosário e na Rua São Sebastião. Já em Itajubá, no Sul de Minas, uma árvore caiu sobre a rede elétrica, derrubando quatro postes e bloqueando a via ninguém se feriu.
Início do período chuvoso
O mês de novembro marca o estabelecimento da estação chuvosa em Minas Gerais. As pancadas de fim de tarde e noite tornam-se mais frequentes devido à combinação entre calor e alta umidade. Nessa época do ano, o canal de umidade da Amazônia se intensifica, favorecendo a formação de grandes áreas de instabilidade. Quando esse canal se associa a frentes frias, pode formar-se a Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) sistema responsável por chuvas contínuas por quatro dias ou mais em regiões do Sudeste, incluindo grande parte do território mineiro.
Segundo Anete; “Entramos agora no período chuvoso. O clima no Brasil Central tem duas estações bem definidas: uma seca, de maio a setembro, e uma chuvosa, de outubro a abril. A primavera é o período de transição as chuvas passam a ocorrer com mais frequência e, às vezes, de forma muito intensa em áreas específicas.”
Ela alerta que uma nova frente fria deve chegar ao estado neste sábado (8/11), trazendo novas pancadas de chuva, ventos fortes e risco de temporais localizados. “Hoje e amanhã a tendência é de tempo mais tranquilo. Mas, no sábado, uma nova frente fria deve avançar pelo estado, trazendo novamente condições de tempo severo, com rajadas de vento e pancadas intensas no Triângulo e no Centro de Minas”, afirmou.
O que fazer e não fazer?
- Evite áreas de inundação;
- Não trafegue em ruas sujeitas a alagamentos ou perto de córregos e ribeirões nos momentos de forte chuva;
- Não atravesse ruas alagadas nem deixe crianças brincando nas enxurradas e próximo a córregos;
- Não se abrigue nem estacione veículos debaixo de árvores;
- Tenha atenção especial para áreas de encostas e morros
- Nunca se aproxime de cabos elétricos rompidos. Ligue imediatamente para Cemig (116) ou Defesa Civil (199);
- Se notar rachaduras nas paredes das casas ou o surgimento de fendas, depressões ou minas d’água no terreno, avise imediatamente a Defesa Civil;
- Em caso de raios, não permaneça em áreas abertas nem use equipamentos elétricos.







