No último mês de outubro, Belmiro Oliveira, ou simplesmente “Bel”, completou 50 anos de Atlético
Funcionário mais antigo do clube, o massagista que foi contratado aos 18 anos é um arquivo vivo da história do Galo e destaca ao Super FCalgumas peculiaridades que o mundo da bola guarda e que o público dificilmente tem acesso.
O que o Atlético representa na sua vida?
Abaixo de Deus, o Galo é tudo. Tudo o que adquiri na minha vida eu devo ao Atlético. Aqui eu comecei com 18 anos. E agora são 50 anos de clube. Sem o Atlético, eu não teria chegado nessa situação.
Como o Atlético entrou na sua vida?
Comecei a trabalhar cedo, precisava ajudar em casa. Aos 12 anos, comecei a trabalhar numa farmácia. Ajudava no embrulho, entregava remédios. E aí o pessoal falou para eu ser farmacêutico. Achei interessante e fui fazer enfermagem. Foi quando conheci o doutor Abdo Lage, que era médico do Atlético. Ele me convidou. Falou que iria construir um centro de treinamento e que iria precisar de um enfermeiro lá. O centro de treinamento seria a Vila Olímpica, e o Atlético treinava em Lourdes. Eu falei: “vamos fazer essa experiência”. Fiquei dois anos como experiência. Depois eu passei e estou até hoje.
Qual jogador que não dispensava massagem?
Na década de 90, tinha um jogador aqui no Atlético, o Toninho Carlos, zagueiro, que jogou no Santos. Ele fazia massagem de manhã, de tarde e de noite. Eu falei com ele: “você está louco? Tem que contratar um massagista particular para você!”. Mas ficava tudo certo, porque eu fazia as massagens e, nas viagens, ele comprava uns perfumes bons e me dava.
Você se deparou com muito jogador sistemático?
Cada jogador tem sua mania. Se determinado jogador jogou bem, fez gol, e você fez massagem nele antes do jogo, só você vai fazer massagem nele. Se deu errado, ele nem olha para o seu lado. O Nunes, por exemplo, sempre pedia para fazer massagem depois do treino. Tanto que arrebentou no ano que esteve aqui. Então, grande parte do sucesso que ele teve aqui dependeu de mim (risos). Mas ele não me deu perfumes (mais risos).
Você fez amizade com jogadores?
Tem muitos que são meus amigos até hoje. O Buião, que saiu daqui e foi para o Corinthians, o Reinaldo, o Éder Lopes, que sempre vem aqui e me liga. O Taffarel é outro, que sempre me manda mensagem, onde ele estiver. Vantuir até hoje a gente se fala também. O Cerezo também é meu amigo, me ajudou muito.
Já chegou a brigar com algum jogador?
Houve uma vez que o Cerezo quis me bater. Ele tinha uma superstição que tinha que massageá-lo na coxa e depois na panturrilha. Não podia encostar com a mão com óleo no joelho dele. Antes de um Atlético x Cruzeiro, eu estava ansioso pelo jogo e esqueci desse detalhe. E passei a mão no joelho dele para massagear. Ele levantou da mesa, me xingou de vários palavrões, e o pessoal segurou, pediu calma. Mas eu também não iria afinar para ele. Se ele quisesse sair na mão, a gente ia pro pau. E ele fez o gol da vitória. Aquele gol que ele fala que deu de três dedos no quarto gomo da bola. Aí ele desceu para o vestiário e me abraçou, me jogou na banheira e ficou tudo bem.
Qual foi um caso engraçado que você viveu?
O Aílton, ex-atacante, foi comigo num velório. Chegou lá, se aproximou da família do morto para cumprimentar. Mas, na hora de prestar os sentimentos, ele soltou para cada um: “meus parabéns”. Esqueceu que era “meus sentimentos”.