Ex-presidente acredita que Perrella estava envolvido em outros assuntos não referentes à gestão do conselho do clube

Envolvido diretamente na polêmica que se dá por conta do adiamento da aprovação ou não do balanço financeiro do Cruzeiro, referente aos anos 2016/2017, o ex-presidente Gilvan de Pinho Tavares lamentou a atitude de Zezé Perrella, atual presidente do Conselho Deliberativo do clube, de suspender a reunião da última quarta-feira devido ao documento não ter sido entregue a todos os conselheiros. Na avaliação do ex-dirigente, Perrella estava envolvido em outros assuntos e não os referentes à gestão do conselho e ainda disse temer pelo futuro do clube.

“Na verdade não teve reunião. Eu não estou entendendo o que aconteceu, o presidente do clube é obrigado a mandar até o mês de abril as contas do clube do ano anterior para que seja apresentada ao conselho e este balanço seja julgado. O atual presidente (Zezé Perrella) não toma conhecimento do conselho, não mora aqui, vive em Brasilia. Ele marcou a primeira reunião para o dia 16 de abril, mas não veio, e adiou a reunião para o dia 25 e ontem ele chegou lá falando para suspender a reunião porque os conselheiros não receberam o balanço. O Zezé mesmo disse que tomou conhecimento do balanço ontem (quarta-feira) à tarde, que o balanço está ótimo, não tinha nada a reclamar, mas que queria analisar melhor para ver inconsistências, como a dívida com a Minas Arena. Existe uma discussão jurídica ainda sobre isso, não tem que entrar no balanço. Dentro de 20 a 30 dias, ele (Perrella) disse que marcaria uma nova reunião, mas eu os alertei sobre o que poderia acontecer à diretoria do Cruzeiro se descumprir o que a Lei Pelé determina. O atual presidente (Wagner Pires de Sá) está sujeita a perder o mandato e ficar inelegível por cinco anos. Compete ao presidente do conselho que a diretoria cumpra a obrigação de entregar o balanço do clube até o dia 30 de abril. Ele falou que o presidente do Cruzeiro não mandou isso pra ele. O Zezé Perrella está tirando o corpo dele da reta. No fim, eles decidiram publicar o balanço mesmo sem aprovação e ele, Zezé Perrella, vai convocar uma nova auditoria para a apreciação destas contas”, disse Gilvan ao Super FC.

“O clube perder os benefícios que já conseguiu como o Reffis, o Profut, é um balanço normal, ele (Perrella) partiu para uma solução mais arriscada”, defendeu-se Gilvan, exaltando o superávit de R$ 30 milhões apresentados nas contas.

Ainda de acordo com o ex-mandatário, a decisão da atual gestão do Cruzeiro de convocar uma auditoria externa para avaliar as contas do clube não passa de revanchismo.

“Aquilo é um revanchismo, é conselheiro que é aliado de Zezé Perrella. A auditoria criticou as contas apresentadas pelo conselho fiscal por não inserirem dívidas com a Minas Arena e o pagamentos de bicho a jogadores, isso é ridículo. Quando você não pode pagar de uma vez, você pode pagar esse bicho parcelado”, atacou Gilvan, que voltou a dizer que se sente traído pela atual gestão do Cruzeiro.

“Eu me senti traído, o atual presidente não conseguiria ser eleito sem o nosso apoio. Hoje quem tem empresas, tem receio de assumir a presidencia do Cruzeiro porque toma muito tempo, a não ser quem tenha algum interesse em beneficiar-se do clube. Ele (Wagner) fazia parte do nosso grupo político, e grande parte do nosso grupo político disse que não iria apoiá-lo com a presença do Itair. Ele nos garantiu que não colocaria o Itair em sua administração, nos disse que a própria mulher do Itair não tinha deixado que ele retornasse ao futebol. Passou alguns dias depois que ele ganhou, veio o anúncio de que Itair seria o vice-presidente de futebol, foi a maior decepção que eu tive. Mas, tudo bem. Eu deixei isso para lá. Eu sou cruzeirense, quero somente coisas boas para o clube e só tratei de alertá-los (sobre a questão do adiamento da aprovação do balanço) por conta das questões jurídicas.

O Super FC tentou entrar em contato com Zezé Perrella, presidente do conselho deliberativo da Raposa, mas ele não atendeu às ligações. Em contato com a reportagem, Sérgio Rodrigues, conselheiro do clube e candidato na última eleição, afirmou que a decisão de Perrella mostrou-se acertada e apontou que o erro partiu de outro setor no Cruzeiro.

“O erro foi da diretoria financeira que não disponibilizou esse documento com antecendência aos conselheiros. Eles estão de posse disso há bastante tempo. O Perrella só utilizou-se de um artifício legal para pedir a suspensão. Eu entendo todos os lados. O do Gilvan por reclamar da não aprovação, o de quem defende que é necessário que todos os conselheiros tomem conhecimento.
Mas a obrigação é da diretoria financeira. O Zezé mandou vários e-mails dizendo que queria este balanço, mas ele não foi enviado. Agora, quando o documento chegar nas minhas mãos, eu vou fazer minha avaliação. Contratei uma pessoa da minha confiança. Quero ver é isso, para entender essa inconsistência. Quando eu fui candidato a presidente do Cruzeiro bati muito nessa tecla. Sei que a situação contábil pode ser diferente da real. Mas essas dívidas podem vencer para frente. Quero ver a consistência técnica. Temos que pensar no bem do Cruzeiro porque depois os torcedores vão nos cobrar e perguntar porque aprovamos um balanço com inconsistências. Como pode fechar com superávit de R$ 30 milhões e dever jogador? É algo que precisamos avaliar”, disse Sérgio Rodrigues.

A dívida total do Cruzeiro seria de R$ 380 milhões. Uma nova reunião foi marcada para daqui a 15 dias, retomando o encontro dessa quarta-feira. O balanço financeiro do clube será divulgado até a data legal determinada — o fim do mês de abril.