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As Cigarras e a Formiga: projeto de recuperação do Flamengo é modelo para Atlético e Cruzeiro

26/11/2019 09h50 - Atualizado em 26/11/2019 09h59 por Alexandre Simões/ Hoje em Dia


cigarra.jpegAlexandre Vidal/Flamengo O Flamengo conquistou a Libertadores e o Campeonato Brasileiro no mesmo fim de semana

 

Na Grécia antiga, Esopo escrevia a fábula da cigarra e da formiga, depois recontada por Jean de La Fontaine, em francês, em 1688. Quando se compara as realidades de Atlético e Cruzeiro com o Flamengo, time sensação do futebol brasileiro por ter vencido a Copa Libertadores, no último sábado, e a Série A, no último domingo, não há como deixar de lado a lição da história infantil.

Nesta década, até o final de semana histórico, os rubro-negros viviam uma situação de carência de taças numa comparação com Atlético e Cruzeiro. Agora, os dois gigantes mineiros amargam uma fase técnica terrível e, pior do que isso, sofrem com uma situação financeira dramática, provocada pela evolução das suas respectivas dívidas a partir de 2011.

O Flamengo viveu processo inverso na sua vida financeira. E o clube, que tinha uma dívida de R$ 800 milhões em 2012, hoje ainda deve cerca de R$ 350 milhões, sendo que mais de R$ 300 milhões em dívidas fiscais, que são pagas através do Programa de Modernização da Gestão de Responsabildiade Fiscal do Futebol Brasileiro (Profut).

No mesmo ano, 2012, as dívidas de Atlético e Cruzeiro eram R$ 414 milhões e R$ 143 milhões, respectivamente. Hoje, a alvinegra chega a R$ 595 milhões. A cruzeirense está em R$ 445 milhões. Todos esses números são da Sportsvalue, empresa especializada em marketing esportivo, branding, patrocínios, avaliação de marcas e de propriedades esportivas.

Virada

Apesar de não ser mais o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello é o responsável maior pelo processo de recuperação que o clube experimentou nesta década. Colocar a vida financeira em ordem foi fundamental para que a atual gestão, formada por seus adversários políticos dentro do clube, tivesse a chance de montar o grande time que é comandado pelo português Jorge Jesus.

“Em primeiro lugar, não fiz nada sozinho. Tinha uma equipe. No meu discurso de posse disse que nosso passivo ético e moral era maior que o financeiro. E a primeira medida foi contratar uma auditoria da Ernest & Young para se saber o valor real da dívida do Flamengo, pois os balanços não eram reais. Por isso pulou de R$ 350 para R$ 800 milhões, de 2011 para 2012, com a correção, feita em 2013, quando entrei”, afirma Bandeira de Mello em entrevista ao Hoje em Dia.

O título da Copa do Brasil de 2013, logo no primeiro ano de sua gestão, foi a única grande taça nos seus seis anos de mandato, que terminou com o clube batendo na trave nas Copas do Brasil e Sul-Americana, em 2017 e no Brasileirão do ano passado.

O ex-dirigente rubro-negro garante que a falta de título não mudou em nada o processo: “Foi preciso ter vontade política para cortar na carne, passar alguns anos se sacrificando. É o que a gente faz nas nossas casas. A questão da responsabilidade. E o profissionalismo é fundamental. Sem nenhum tipo de privilégio, toma lá dá cá”, revela o ex-dirigente.

Um ponto fundamental segundo ele, pensando no futuro do clube, foi dado em 2015, quando o Estatuto do Flamengo foi mudado: “Criamos aquela que é chamada de lei de responsabilidade fiscal rubro-negra. Nosso Conselho Deliberativo aprovou, e são medidas que protegem, de alguma maneira, o clube, mas os rubro-negros terão de ficar sempre atentos”, revela Eduardo Bandeira de Mello.

 

Mudança

Escolher a desculpa de que a cota de televisão do Flamengo é decisiva para o processo vivido pelo clube é o caminho muitas vezes usados por atleticanos e cruzeirenses. Entender que os dois clubes precisam se modernizar e mudar suas gestões de forma urgente é o desafio para os dois lados.