CRISE

 O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse, onte, que a alta persistente da inflação surpreendeu a autarquia, mas descartou qualquer possibilidade de ajustar as metas definidas pelo governo. O objetivo, assegurou, é cumprir as metas de inflação, mesmo que seja preciso elevar muito as taxas de juros.

“A Selic será o que tiver que ser para atingirmos a meta (em 2022 e 2023)”, apontou. Campos Neto discordou de alguns analistas do mercado financeiro para os quais será preciso “ajustar a meta para 2022”. “Não acreditamos em metas ajustadas. Acreditamos em atingir metas”, afirmou, em evento on-line do banco Morgan Stanley.


De acordo com determinação do Conselho Monetário Nacional (CMN), a meta de inflação de 2021 é de 3,75% e a do próximo ano, de 3,5% — admitindo-se variação de até dois pontos percentuais. O compromisso para este ano é dado como perdido pelos analistas, uma vez que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumula alta de 10,05% em 12 meses. Mas a meta de 2022 ainda é considerada factível.

Campos Neto admitiu que os núcleos de inflação (medida que exclui fatores sazonais) estão muito acima da meta, com disseminação em grande parte dos preços, mas disse que os juros deverão se comportar de acordo com a necessidade para evitar qualquer pressão adicional.


Segundo ele, é possível que o nível mais alto para a inflação seja registrado exatamente nos dados de setembro de 2021, mas, nos meses seguintes, poderá acontecer um recuo. Ele reforçou, também, que a dívida pública tende a ter melhores perspectivas de queda, que não se devem apenas à inflação.

“Quando você olha para as projeções dos economistas, não é isso (explosão da dívida no futuro) que vê”, acrescentou. “O que impacta são as expectativas”, reforçou. Para o economista Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest, neste ano, “Campos Neto terá que mandar uma carta ao Congresso para explicar o rompimento do teto da meta de inflação, mesmo com a Taxa Básica de Juros (Selic) em 6,25% ao ano, contrariando as expectativas dos analistas de que tanto os juros quanto a inflação ficariam inferiores a 2020”.


No evento do Morgan Stanley, o presidente do BC também comentou sobre os ruídos fiscais gerados pela discussão do Auxílio Brasil, o novo programa social que deverá ser executado pelo governo, sobre como esse programa será financiado e qual será a duração. E também que há muitas expectativas sobre o pagamento dos precatórios, uma fatura de pendências judiciais que chega a R$ 89 bilhões. “Muitas dessas perguntas não foram respondidas”, admitiu. “É importante virar essa página”, reforçou.


Flávio Serrano, economista-chefe da Greenbay Investimentos, lembrou que a elevação da meta projetada da inflação não é feita pelo Banco Central desde 2004. “Será uma necessidade, agora, para 2022. No entanto, o que o presidente do BC tem feito é tranquilizar o mercado e reiterado o que foi discutido e decidido pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Ou seja, elevar os juros até onde for preciso”, disse.