Os chamados super-ricos gastam mais em São Paulo do que em Miami para manter o padrão de vida. Uma pesquisa realizada pelo grupo suíço Julius Baer revela que a capital paulista subiu para o nono lugar entre os locais mais caros para a elite viver. É a primeira vez que a cidade aparece entre as 10 primeiras colocadas.

As cidades mais caras estão na Ásia, revela a quarta edição da pesquisa Global Wealth and Lifestyle Report (Relatório Riqueza Global e Estilo de Vida, na tradução literal). A liderança é de Cingapura, seguida por Xangai e Hong Kong.

Para apurar o custo de vida, a pesquisa leva em conta uma cesta de bens e serviços premium consumida por uma população com patrimônio acima de US$ 1 milhão (cerca de R$ 5 milhões) nas 25 cidades globais mais importantes do mundo. Nessa lista, estão, por exemplo, gastos com uísque, vinho e passagens aéreas em classe executiva. O levantamento foi realizado entre fevereiro e março deste ano.

"Essa (posição de São Paulo) foi a grande surpresa", afirma Esteban Polidura, chefe de estratégia de investimento nas Américas do Julius Baer. "Há uma combinação de fatores em São Paulo. A mais importante tem a ver com produtos importados. No Brasil, as taxas (para importação) são mais altas do que em outros países."

São Paulo vem subindo de posição a cada levantamento. Em 2021, ocupava a 21ª colocação e, no ano seguinte, pulou para o 12º lugar.

RECORTES

Em um recorte detalhado, a pesquisa mostra que, São Paulo, por exemplo, tem o custo mais elevado, entre todas as cidades, para comprar bicicleta, bolsa feminina, terno masculino, produtos de tecnologia, relógio e uísque.

Com a presença de Nova York, São Paulo e Miami entre os dez locais mais caros do mundo, a região das Américas passou a figurar como a segunda região que mais demanda recursos financeiros para manter o padrão de vida, superando o grupo de cidades de Europa, Oriente Médio e África e ficando atrás apenas da Ásia.

INFLAÇÃO EM ALTA

No levantamento deste ano, a pesquisa identificou que o custo de vida para os super-ricos, medido em dólar, aumentou 6% nos últimos 12 meses, e subiu 13% nas moedas locais.

No Brasil, o avanço foi de 18,4%. "A alta dos preços em moeda local foi pior, porque o dólar se mostrou forte nos últimos meses", diz Polidura.

A alta dos preços globais é explicada basicamente por dois fatores. Primeiro, há uma alta de preços das matérias-primas e suprimentos, observada desde o auge da pandemia e influenciada pela desorganização das cadeias produtivas.

E, segundo, há uma demanda por bens e serviços, antes reprimida, e, que com o fim da fase aguda da crise sanitária, começou a ser extravasada. "O mais interessante dessa pesquisa é que ela capta todo o processo inflacionário que temos visto, pelo menos, nos últimos 12 meses", afirma Polidura.

Essa maior demanda fica evidente quando se olha o aumento de custo medido em dólar de suíte de hotel (15,25%) e passagem de avião de classe executiva (10,13%). Na pandemia, para conter a propagação do coronavírus, os países fecharam as suas fronteiras, prejudicando todo o setor de turismo global.

"As pessoas das nossas pesquisas conseguem salários maiores, mas também estão gastando mais. O resultado líquido disso é que, em relação aos investimentos, elas precisam olhar para melhores retornos (nas suas aplicações)", diz Polidura. O Julius Baer está presente em 25 países e tem US$ 477 bilhões em ativos sob gestão.

MERCADO

No Brasil, o segmento de luxo está em ascensão. Segundo a Associação Brasileira das Empresas de Luxo (Abrael), em 2020, mesmo com a pandemia, o mercado de luxo teve um faturamento de US$ 5,2 bilhões (por volta de 25 bilhões). Em 2021, as vendas cresceram 51,74% em relação ao ano anterior e em 2022 também houve um crescimento de mais de 50%.