MULHERES EM ALTA

Quem imagina que Bolsa de Valores é lugar de investidores com terno e gravata precisa atualizar a cena. O número de mulheres que aplicam nesse mercado disparou nos últimos anos e passou de pouco mais de 148 mil, em 2012, para 1,2 milhão em 2022. Um crescimento superior a 800% em dez anos, segundo dados da B3, bolsa de valores oficial do Brasil. Foram 47,9% de crescimento só nos últimos dois anos, no pós-pandemia.


Apesar do crescimento, as mulheres ainda são minoria na Bolsa e não chegam a um quarto dos investidores homens. Situação comum no mercado financeiro, conforme o Hoje em Dia vem mostrando desde esta segunda-feira (19), em uma série sobre a exclusão feminina no setor de capitais.

A justificativa para essa participação tão inferior à dos homens, segundo análise de Jéssica Oliveira, líder da XP Inc. em Minas Gerais, é que “muitas delas não têm acesso às mesmas oportunidades, aos mesmos cargos e aos mesmos salários que os homens”. Com menos recursos, elas têm menos capacidade de investimento.


No entanto, o movimento para ampliar o acesso delas à Bolsa de Valores já vem acontecendo e as mineiras têm participação de destaque nesse total. De acordo com levantamento feito pela XP, instituição financeira especialista em investimentos, são mais de 120 mil investidoras – o terceiro Estado em números absolutos, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro – que correspondem a 23,4% do total de contas em Minas Gerais no período. O saldo médio aplicado por elas na Bolsa, atualmente, é superior a R$ 50 mil.

Espaço para conservadores


Mulheres como Roberta Nassau, servidora pública de Belo Horizonte que investe na Bolsa desde 2020 e tem por objetivo chegar ao patamar de poder viver com a renda das ações. Ela seguiu o roteiro tal qual recomendado pelos especialistas.
 
Antes de dar o primeiro passo, estudou, conheceu as principais linhas e teorias, conversou com especialistas, entendeu qual era o seu perfil como investidora e, só depois de se sentir segura, começou a fazer negócios nesse mercado.
“Eu tenho um perfil mais conservador e eu nem sabia que era possível ser conservador na Bolsa. A gente imagina que é comprar, esperar o papel subir e vender. Mas não. O segredo é ter disciplina e paciência”, ensina.
 
Roberta acredita que investir em Bolsa não é para qualquer pessoa, mas que hoje ela está muito satisfeita com os resultados e recomenda a quem ainda está em dúvida. “Parece incoerente, mas eu entrei para a Bolsa em busca de segurança nos meus investimentos e hoje eu tenho. Ainda não consigo viver de renda, mas já conseguiria pagar a escola do meu filho com rendimentos”, conta.

Mitos


Para aquelas mulheres que desejam ingressar nessa modalidade de investimento, a especialista da XP dá dicas preciosas. “O mercado financeiro ainda é cercado por diversos mitos que precisam ser esclarecidos. Não é necessário ter grandes quantias para começar. O primeiro passo é conhecer o seu perfil investidor e, a partir dele, encontrar os ativos que se encaixam aos seus objetivos. Hoje, é tudo feito de forma digital e descomplicada. Mas é sempre recomendável buscar conhecimento e orientação especializada para otimizar a tomada de decisão”, orienta Jéssica Oliveira, líder da XP Inc. em Minas.

Racionais e pacientes


Segundo Jéssica, o perfil de comportamento das mulheres investidoras é menos emotivo e mais racional que o dos homens. “As mulheres costumam ser mais pacientes e racionais que os homens, muitas vezes, principalmente em períodos de maior oscilação. Elas procuram entender o cenário antes de tomar a decisão e têm mais resiliência para aguardar as movimentações do mercado”, compara.


Espaços femininos


O acesso mais facilitado a informações, o incentivo à educação financeira e debates sobre igualdade de gênero, que estimulam as mulheres a buscar formas de valorizar a própria renda, são apontados por Jéssica Oliveira, líder da XP Inc. em Minas Gerais, como as principais razões para o crescimento da participação feminina na bolsa de valores. “É um movimento que alcança pessoas de todos os gêneros”, avalia.
 
E para mudar, de forma definitiva, o quadro ainda de baixa participação delas no mercado financeiro, Jéssica, que ocupa uma posição de destaque no setor financeiro ainda dominado por homens – as mulheres em cargos de decisão no setor ainda são 17,5% – defende que é necessário ampliar os espaços femininos.


“Na XP já assumimos o compromisso de até 2025 ter 50% do time de colaboradores formado por mulheres. Maior equidade gerará um efeito cascata com potencial de transformar não só a realidade pessoal dessa mulher, que terá maior possibilidade de realizar seus sonhos, como toda a sociedade”, acredita.