Brasília - O Ibovespa fechou nesta sexta-feira, 12, em queda, pressionado pela forte queda da Petrobras, depois que o presidente Jair Bolsonaro decidiu intervir e suspendeu o reajuste do preço do diesel pela Petrobras.
O Ibovespa terminou o último pregão da semana com queda de 1,98%, a 92.875 pontos. Segundo dados preliminares, as ações ordinárias da Petrobras caíram 8,76%, negociadas abaixo de R$ 30 por papel. Já as preferenciais recuaram 8,36%, perto de R$ 25 por ação. Apesar do forte tombo, os papéis da Petrobras ainda acumulam valorização de mais de 15% no ano.
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Principal índice de ações da B3, o Ibovespa acelerou fortemente a queda nesta sexta-feira (12), após o presidente Jair Bolsonaro admitir que interferiu na decisão da Petrobras de reajustar o preço do diesel em 5,47%. Bolsonaro disse que ligou para o presidente da estatal, Roberto Castello Branco e disse que se surpreendeu com a decisão da empresa: "liguei para o presidente sim. Na terça, convoquei todos da Petrobras para me esclarecer por que 5,7% de reajuste."
Às 15h09 (horário de Brasília), o Ibovespa tinha baixa de 1,33% a 93.429 pontos. Já o dólar comercial sobe 0,54% a R$ 3,8757 na compra e a R$ 3,8777 na venda. O dólar futuro sobe 0,36% a R$ 3,876.
Mais cedo, a queda da Bolsa havia amenizado com a coluna de Tales Faria, do UOL, afirmando que o governo fechou um acordo com o Centrão para votar a reforma da Previdência na semana que vem na CCJC (Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania).
Também impacta o índice a investigação da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O inquérito contra Maia se refere a suposta propina de R$ 1,4 milhão que ele e seu pai, César Maia, teriam recebido da Odebrecht. Caberá ao relator da Operação Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Edson Fachin, decidir se estica ou não a apuração por 60 dias como pedido pela PGR.
Segundo o analista da MCM Consultores, Ricardo Ribeiro, as notícias de hoje aumentam a desconfiança em relação à adesão do presidente Jair Bolsonaro à agenda liberal na economia. "Há um receio de movimento dos caminhoneiros, mas, levando em conta o que aconteceu no governo Dilma, o mercado vai ficar mais uma vez ressabiado com Bolsonaro", aponta Ribeiro.
O analista lembra da pesquisa da XP Investimentos que destacou um mergulho na avaliação "ótimo/bom" do governo Bolsonaro. "Esse tipo de coisa vai alimentar o sentimento de apreensão com o presidente", comenta.
Por outro lado, as preocupações com a reforma da Previdência diminuíram. A inversão da pauta na CCJ para votação do Orçamento Impositivo fará parte do acordo para votar a Previdência. "A inversão era condição imposta por PP, DEM e MDB, entre outros, para não obstruir a votação da Previdência. Se o Centrão aderisse à estratégia de obstrução dos partidos de esquerda, a Previdência corria o risco de não ser votada na Câmara no primeiro semestre", diz colunista do UOL.
De acordo com a publicação, a inversão da pauta não inviabiliza a votação do relatório da Previdência na Comissão ainda na semana que vem, antes de os deputados deixarem Brasília para o feriado da Semana Santa.
No exterior, as bolsas operam predominantemente em alta, mesmo com preocupações em relação à guerra comercial dos europeus com os norte-americanos e a desaceleração global. Foi positiva a divulgação das exportações chinesas acima do esperado, contribuindo para a valorização do petróleo.
Os juros futuros, que caíam antes das falas de Bolsonaro, agora sobem. O DI para janeiro de 2021 tem alta de três pontos-base a 7,14%, enquanto o DI para janeiro de 2021 avança quatro pontos-base a 8,27%.
Exterior
Lá fora, os índices norte-americanos sobem forte, seguindo o bom desempenho das bolsas asiáticas. O principal driver para os mercados internacionais é a balança comercial da China em março, que registrou um superávit de US$ 32,64 bilhões, muito acima da expectativa mediana do mercado, que era de US$ 6 bilhões.
O bom desempenho foi puxado pelo salto de 14,2% das exportações, contra os 8,7% que eram previstos pelos analistas. Enquanto isso, as importações recuaram 7,6%, quando as projeções eram de queda de 1,2%.
Ainda na Ásia, o presidente do BoJ (o banco central japonês), Haruhiko Kuroda, disse que a economia global está enfrentando um processo de desaceleração, mas ressaltou que a China deve apresentar uma recuperação no segundo semestre.
Noticiário corporativo
Os investidores não receberam nada bem o recuo no reajuste do preço do diesel anunciado pela Petrobras (PETR3 -8,76%; PETR4 -8,36%). Bolsonaro disse que está preocupado com o transporte de cargas e os caminhoneiros e que ligou para o presidente da estatal para pedir explicações sobre o aumento de preços. "Se a Petrobras me convencer, tudo bem; se não, daremos resposta adequada a vocês."
Um reajuste neste momento, na avaliação do governo, poderia ter um grande impacto na economia. Este seria o primeiro aumento desde que anunciou sua nova política de preços ao diesel, que assegura um intervalo mínimo de 15 dias entre os reajustes.
Já com relação à Vale (VALE3 -0,7%), a Justiça do Pará determinou o bloqueio de R$ 185 milhões das empresas Biopalma da Amazônia, subsidiária da mineradora, e outras companhias, por conta da queda de uma ponte no rio Mojú, no último sábado, informou o Valor Econômico. Apesar disso, as ações sobem com as boas notícias na China e o avanço do dólar, já que é uma empresa exportadora.
Também deve fazer preço a notícia de que a compra da Netshoes, seja pela B2W (BTOW3 -2,95%) ou Magazine Luiza (MGLU3 -0,22%), poderá custar cerca de US$ 107 milhões às companhias, de acordo com relatório da XP Investimentos. Segundo o Valor Econômico, apesar do interesse, as empresas não estão dispostas a pagar qualquer preço pelas operações da Netshoes, que enfrenta uma série de dificuldades, como vendas em queda, alto consumo de caixa e divergência entre sócios.