Pesquisa divulgada pela Robert Half, empresa de recrutamento e seleção, mostra que 70% dos profissionais desempregados que foram entrevistados não recusariam uma oportunidade se a remuneração fosse inferior à que eles ganhavam anteriormente. Ou seja, eles aceitaram ganhar menos que recebiam no emprego anterior.
“A era dos salários inflacionados acabou, ou seja, as empresas estão reajustando remunerações à realidade atual do mercado, no momento de contratação de novos profissionais”, diz Maria Sartori, gerente sênior de recrutamento da Robert Half.
O comportamento retratado na pesquisa reflete a dificuldade de recolocação no mercado de trabalho. Em fevereiro, havia 13,1 milhões de desempregados no país, segundo o IBGE.
Ela pondera que aceitar a primeira proposta ou aguardar uma com remuneração mais atrativa depende muito da realidade de cada um. “É preciso entender há quanto tempo esse profissional está fora do mercado, como estão suas reservas financeiras e até qual valor ele aceitaria reduzir sua pretensão salarial”, diz.
Maria Sartori recomenda que, além de analisar bem a situação, os candidatos devem avaliar as oportunidades com base em questões que vão além da financeira, como o desafio, a oportunidade de crescimento e aprendizado, o propósito e a qualidade de vida.
O levantamento mostra ainda que é difícil agradar as empresas. Há restrições tanto para contratar pessoas muito qualificadas e também sem experiência.
- 53% das empresas entrevistadas deixaram de contratar um profissional porque ele era muito qualificado para a vaga;
- 73% deixaram de contratar um profissional porque ele não tinha experiência na área.
Os dados fazem parte da 3ª edição do Índice de Confiança Robert Half. Foram entrevistados 387 profissionais qualificados empregados (com idade igual ou superior a 25 anos e formação superior), 387 desempregados e 387 profissionais responsáveis pelo recrutamento dentro das empresas de diferentes regiões do país.
Empresas têm receio de perder profissional
Sobre o fato de a maioria dos empregadores deixarem de contratar profissionais por serem qualificados demais para as vagas, Mari Sartori explica que a principal razão é o receio de perder o funcionário para o mercado no curto ou médio prazo.
Ela dá como exemplo a contratação de um profissional com inglês fluente e pós-graduação para uma função mais operacional, na qual ele não vai utilizar nenhuma das habilidades. Segundo Maria, a tendência é que, com o tempo, ao sentir que não tem oportunidade para contribuir com todo o conhecimento que possui, o colaborador comece a se sentir desmotivado, deixe de ser produtivo e inicie a busca por oportunidades que valorizem todo o seu potencial.
“Por essa razão, ao abrir uma oportunidade, o empregador deve dedicar especial atenção ao alinhamento entre o perfil desejado e a vaga em questão. Além disso, muitas empresas têm optado por perfis que possam se desenvolver na posição e crescer na organização”, afirma.
Experiência e bom currículo podem ser obstáculos
A gerente da Robert Half diz que a experiência e o bom currículo podem ser um obstáculo basicamente em duas situações:
- quando a empresa busca por um profissional menos experiente com o intuito de ajudá-lo a desenvolver habilidades e competências.
- quando, para a vaga em questão, não há perspectiva de rápido crescimento profissional.
No segundo caso, muitas empresas encontram dificuldade para estabelecer um plano de retenção, que dificulte perder o profissional para o mercado.
Ela recomenda que o profissional qualificado com dificuldade de se recolocar esteja aberto às oportunidades. Por exemplo, para cargos que vão de analista a diretor, há oportunidades temporárias em projetos estratégicos, com todos os direitos trabalhistas de uma posição permanente.
"Isso beneficia o profissional com aumento de experiência, de empregabilidade, de networking e da abertura de portas para diferentes mercados”, comenta.
E se não tiver experiência?
Maria diz que se é desejo do profissional ingressar numa área na qual não tem experiência, vale a pena avaliar a possibilidade de iniciar em um cargo mais operacional e traçar um plano profissional de evolução por meio de cursos, atualizações e desenvolvimento de ações dentro da companhia.