Caveiras aborda Bope, guerra nas favelas e a morte de crianças no Rio

Por Da Agência Brasil

O assassinato de crianças e um estado de guerra constante no Rio de Janeiro são a inspiração para o romance Caveiras, do jornalista carioca Vitor Abdala. O livro conta a história do assassinato do menino Serginho, morador de uma comunidade do Rio de Janeiro. O principal suspeito do crime, testemunhado pela mãe da vítima, é o Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar do estado, o Bope.

Caveiras é uma alegoria que faz uso do suspense e da ficção fantástica para criticar essa política de insegurança que existe há décadas no Brasil e para fazer o leitor refletir sobre os custos dessa guerra e da indiferença social para o sofrimento dos outros, em especial das crianças”, afirma Abdala.

Ao longo das 190 páginas, o livro narra a saga de um jornalista carioca que, após receber um pedido de ajuda da mãe de Serginho, enfrenta todos os obstáculos burocráticos e de segurança possíveis para publicar a verdade. A história ainda ganha um 'quê' surrealista quando se descobre um segredo que envolve o Bope.

“O viés de guerra que sempre predominou na política de segurança do Rio, e se espalhou para outros lugares do país, é uma metáfora usada para tratar desse tema”, explica Abdala e complementa: "Curiosamente, a vitimização do público infantil pela violência é algo pouco estudado e que recebe pouca atenção da mídia, a não ser quando eventualmente um caso como esse choca a população, como foi o caso da morte da menina Isabella Nardoni, em 2008”, conta o autor.

Crianças assassinadas

Em sua pesquisa para o livro, o autor chegou ao número de quase cinco mil crianças, de até 14 anos, assassinadas no Brasil em apenas cinco anos, segundo dados do Ministério da Saúde. O número de mortos, registrado nos anos de 2013 a 2017, é o equivalente à população de uma cidade brasileira de pequeno porte e revela uma face assustadora da violência no país.

“Crianças não são as principais vítimas da violência, mas se formos pensar que são a parte da população mais protegida, é surpreendente como ainda assim morrem cerca de mil crianças por ano. As causas das mortes são várias e vão desde a violência doméstica (abuso paternal ou de conhecidos) até violência nas ruas (como tentativas de assalto que resultam em homicídios)”.

Carioca, Vitor Abdala é jornalista há 14 anos. Também é membro da Horror Writers Association e conselheiro da Associação Brasileira de Escritores de Romances Policiais, Suspense e Terror.