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Fórum das Letras de Ouro Preto começa nesta quinta, enfocando as emergências

31/10/2018 00h00 - Atualizado em 21/03/2019 12h39 por Admin


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Lucas Buzatti
lbuzatti@hojeemdia.com.br

“Eles combinaram de nos matar, mas nós combinamos de não morrer”. “Isso de querer ser exatamente aquilo que a gente é ainda vai nos levar além”. Dois escritos de resistência que se encaixam perfeitamente no momento atual. De um lado, uma frase da escritora mineira Conceição Evaristo; do outro, o famoso poema “Incenso Fosse Música”, do paranaense Paulo Leminski. Ambos os nomes marcam forte presença no 14º Fórum das Letras de Ouro Preto, que começa nesta quinta (1º) e vai até domingo (4).

Neste ano, o evento traz o tema “Emergências: Literaturas e Outras Narrativas”, ancorado por homenagens a dois poetas: Leminski (1944–189) e o ouro-pretano Guilherme Mansur. Na programação, destacam-se os debates “Escreviver”, com Conceição Evaristo, e “Identidade e território literário”, com o manauara Milton Hatoum.

Coordenadora do Fó-rum das Letras, Guiomar de Grammont comenta as interseções entre os homenageados. “Guilherme e Leminski foram muito amigos. A poesia deles dialoga em muitos pontos. Tem em comum a materialidade com a letra, a musicalidade, o som das palavras”, afirma. “São dois poetas incríveis e é fundamental o que trouxeram para a poesia brasileira. Guilherme, além de tudo, é um poeta mineiro e muito importante na história do Fórum”, completa.

Sobre a programação, a coordenadora diz que o Fórum costuma trazer autores consagrados e inéditos, estimulando o diálogo e a formação de novos leitores. “Os maiores destaques são, de fato, as presenças de Milton Hatoum e Conceição Evaristo. Hatoum é um autor que têm feito uma contestação importante diante do conturbado momento atual; e Conceição é nossa diva da literatura negra, importante ativista das questões raciais. É muito simbólica e significativa a participação deles neste momento”.

Guiomar ressalta que a 14ª edição do evento evidencia a emergência de se contrapor, através da arte e da leitura, aos discursos violentos que se alastraram pelo país. “As homenagens e a programação colocam a radicalidade da poesia diante do horror; a importância dos livros, da educação e da cultura contra as armas e a violência”, reflete. “Estamos vivendo a emergência. É preciso pensar a poesia e a literatura; se voltar para formas pacíficas de lidar com a realidade; recolocar valores de solidariedade, do amor e da paz no lugar do olho por olho”, completa.

Para a coordenadora, as narrativas de tomada de poder no país, feitas com eficácia nas redes sociais, evidenciam a falta de informação e educação da nossa sociedade. “Sinto que não houve tempo para que as pessoas tivessem uma formação adequada para ler os sinais de forma crítica. Há um desejo de aniquilação de quem pensa diferente”, afirma.

“Mais do que nunca, artistas e escritores são convidados a interagir com este contexto, criando focos de resistência. Uma resistência estética, através da beleza das imagens, das letras, da poesia. Mais do que nunca, o artista é convidado a ser arauto do seu tempo”.

Serviço: 14º Fórum das Letras. De quinta-feira (1º) a domingo (4), em Ouro Preto. Programação gratuita, em www.fórumdasletras.com.br