Desbancando qualquer um dos antigos concorrentes durante a disputa presidencial, Jair Bolsonaro, até quinta-feira, possuía 2,37 mi de seguidores apenas no microblog. Na rede, o presidente eleito segue apenas 236 pessoas e já interagiu publicando mais de 5.446 mil Tweetes desde que entrou na rede social, em março de 2010. Somando Twitter, Instagram e Facebook, o presidente eleito possui mais de 20 milhões de seguidores. Com a vitória, uma parte da equipe de governo já confirmado está migrando para as redes, exemplo, o vice-presidente, general Hamilton Mourão fez uma conta oficial no Twitter neste mês.
Segundo o cientista político e professor de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, Antônio Oliveira, os políticos precisam atuar nas redes sociais sem desprezar os outros meios. Para ele, a imprensa precisa de atenção e o parlamento de negociação. "Qualquer político ou militância política deve utilizar redes sociais para se comunicar. Mas é necessário estar atento. Quando não existe uma conversa direta e apenas relatos e publicações nas redes sociais, os parlamentares podem entender que ele dá recados e que não negocia, o que é um ponto perigoso”, explica.
Se durante as eleições, o Instagram e Facebook foram utilizados para disseminar e compartilhar notícias e posicionamentos, é pelo Twitter que as declarações e anúncios são feitos. Recentemente, Bolsonaro escreveu no microblog a seguinte afirmação "Desautorizo informações prestadas junto a mídia por qualquer grupo intitulado 'equipe de Bolsonaro' especulando sobre os mais variados assuntos, tais como CPMF, previdência, etc". Também pela ferramenta, o concorrente derrotado Fernando Haddad (PT) prestou felicitações ao presidente eleito, um dia após o término das eleições.
Pelo próprio perfil do Twitter, o capitão revela novidades do governo, rebate críticas e desfaz comentários anteriormente feitos pela mídia ou aliados. Com essa postura, ele continua com as mesmas ações, quando durante campanha. De acordo com o professor de comunicação e política da Universidade Federal da Bahia e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia Democracia Digital, Wilson Gomes, a prática da comunicação direta que alguns políticos praticam é conhecida pelo termo "desintermediação" ou a falta de mediador.
Gomes conta que com a desintermediação nada mais é do que uma forma do político voltar a falar diretamente com as pessoas sem a intermediação direta de alguém. "Eles dizem o que querem, não estão sob domínio dos editoriais. Ninguém vai cortar um trecho ou colocar em outro contexto. Não possuem mediador ou porta-voz. O próprio Bolsonaro passou a gravar todas as entrevistas que realizava por não confiar no intermediário, que no caso são os jornalistas", avaliou.
Para o coordenador, a desintermediação não é um fenômeno recente e deve ser algo que irá crescer ainda mais no cenário político. Ele destacou que a forma já é utilizada pelo presidente do Estados Unidos, Donald Trump. O professor também acredita que não há uma tendência de enfraquecimento dos veículos de comunicação ou dos próprios jornalistas, mas existirá, sim, uma nova forma de pautar os jornais, que deverão ser feitas a partir de declarações e vídeos via redes sociais.
Interações
Até a última quinta-feira (8), no Twitter, a ex-presidente Dilma Rousseff aparecia com 6,05 milhões de seguidores e o presidente eleito Jair Bolsonaro com 2,37 milhões. O petista Haddad tinha metade dos seguidores de Bolsonaro com 1,02 milhão de seguidores, enquanto seguia 243 e interagiu publicando 3.301 twettes. Ciro Gomes aparecia com 514 mil seguidores, seguindo 151 e twittou 2.198 vezes. Joaquim Barbosa e FHC também estão no hall dos twitteiros. Joaquim com 623 mil seguidores aparece com 100 mil a mais que o ex-presidente da república Luiz Inácio Lula da Silva, que tem 518 mil, e FHC com apenas 54,9 mil seguidores.
Pesquisa Twitter
Uma pesquisa divulgada no blog do Twitter e feita pela própria empresa identificou que entre os dias 16 de agosto e 28 de outubro, foram contabilizados 165 milhões de Tweets relacionados às #Eleições2018. O número é mais de quatro vezes o total de Tweets sobre as eleições de 2014, que foi computado um mês a mais, entre 6 de julho e 26 de outubro de 2014.
A pesquisa também traz dados de volume de Tweets por candidato, o interessante é que os quatros com maiores interações foram sequencialmente os mais votados durante as eleições, Bolsonaro lidera com pouco mais do dobro dos Tweetes, seguido de Fernando Haddad, Ciro Gomes e Geraldo Alckmin (não foram divulgados números, apenas proporções).
Seis dias após as eleições no Brasil, o Twitter apagou dez mil perfis falsos nos Estados Unidos. A empresa teria comunicado que a ação aconteceu com perfis que compartilhavam “desinformações de maneira automatizada". A medida teria ocorrido às vésperas das eleições legislativas do país, que aconteceu no último dia 6.
Inspiração
A tática utilizada por Bolsonaro já é usada pelo político que é inspiração declarada dele, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que atualmente tem 55,6 milhões de seguidores. Apesar do alcance, o número é a metade dos que seguem Barack Obama, ex-presidente dos EUA. O atual presidente americano também usa o espaço para falar sobre propostas de governo, críticas e elogios, além de responder alguns seguidores. A imprensa internacional viu na plataforma um canal para divulgar as informações, e, a emissora CNN tem um espaço exclusivo em que compila todas as mensagens de Trump feitas pela Twitter.