Reação seria fruto de uma “pane ” nos instintos humanos de proteção; "agressão fofa" está relacionada ao sistema de recompensa do cérebro

Quando você vê um bebê gordinho ou um filhote de cachorro, seja na rua ou numa foto, fica com vontade de apertá-los sem parar? Esse impulso “violento” e quase unânime – que inclui também a vontade de esmagar e morder – é chamado de “agressão fofa” (do inglês “cute aggression”) e se tornou objeto de estudo.

Recentemente, pesquisadores da Universidade de Riverside, na Califórnia, foram atrás do que acontece dentro do cérebro quando alguém sente esse tipo de emoção. O resultado foi publicado na revista científica “Frontiers in Behavioral Neuroscience”.

De acordo com a psicóloga Katherine Stavropoulos, principal autora da pesquisa, a agressão fofa está relacionada ao sistema de recompensa do cérebro – que lida com a motivação e com sentimentos de querer e de prazer – e ao sistema emocional, responsável pelo processamento das emoções.

Para comprovar sua tese, Katherine e a aluna de doutorado Laura Alba recrutaram 54 pessoas com idades entre 18 e 40 anos, as quais usaram eletrodos para monitorar a atividade cerebral durante o experimento. Os participantes foram expostos a imagens de coisas fofas como bebês e filhotes de cachorro e de gato, e a coisas não fofas, como frutas, por exemplo.

Em seguida, eles responderam a um questionário, no qual deveriam avaliar o quanto concordavam, numa escala de 1 a 10, com itens como “eu sinto vontade de beliscar as bochechas”, “eu quero segurá-lo” ou “falo ‘quero te morder’ com os dentes cerrados”.

Quanto menor era o prazer que alguém sentia ao ver um bebê ou um filhote fofo, menor a chance de sentir a tal agressividade. Cerca de 35% dos participantes não sentiram nada. Os demais, no entanto, estavam bastante acostumados com esse sentimento.

Resultado. As pesquisadoras concluíram que a agressão fofa é a forma como o cérebro lida, fisiologicamente, com essa espécie de “pane no sistema”: uma incapacidade de administrar o tanto de estímulos derivados da simples visão de um pequeno ser lindo e indefeso.

Como consequência, essa vulnerabilidade faz com que entrem em ação os instintos humanos de proteção, programados para suprir as necessidades daquela criança – e de qualquer coisa que se pareça com ela, como um filhote de animal.

“Esta é uma descoberta empolgante, pois confirma nossa suposição original de que o sistema emocional e de recompensas está envolvido em experiências de agressão fofa vivenciadas pela maioria das pessoas”, afirma a principal autora do estudo.

“Não dou conta dessa fofura toda”

Desde a infância, a professora Keila Muniz, 31, sente uma vontade quase incontrolável de “esmagar” coisas fofas. “Sempre me lembro da Felícia (personagem do desenho animado “Looney Tunes”), famosa por querer apertar todos os bichinhos. A vontade é de se apropriar de toda aquela fofura que só os filhotes e os bebês têm”, afirma.

O conjunto de coisas fofas já apertadas e abraçadas “violentamente” por Keila inclui filhotes de cachorro, de gato e de passarinho. “Foram todos os bichos de estimação que eu já tive. Também já parei donos na rua para brincar com os animais. Nenhum deles escapou”, conta, entre risos.

A nova “vítima” da professora é a própria filha, Lílian, um bebê fofo e risonho de apenas 7 meses. “Eu sempre falo: Filha, tenho vontade de te apertar até você virar suco’. Nada fica de fora: pernas, braços e bochechas. O mais legal é que ela parece gostar, porque vive dando gargalhadas quando faço isso”, diz Keila.

Análise. Esta não é a primeira vez que a “agressão fofa” é objeto de estudo de pesquisadores. Em 2012, a Universidade de Yale, nos EUA, deu o pontapé inicial nesse tipo de análise. A instituição foi a primeira a reconhecer o uso desse termo oficialmente como acadêmico.