Para fechar o mês de abril gostaria de chamar a atenção de todos para uma das mudanças mais significativas das últimas décadas. O título de nação mais populosa do mundo está próximo de mudar de dono. Agora em 2023 a Índia vai chegar a 1.428 bilhões de pessoas contra 1.425 bilhões da China. Pelo menos essa é a estimativa da Organização das Nações Unidas. Um outro dado muito importante é que metade dos indianos tem menos de 30 anos. Um mercado consumidor gigantesco, mas também um país com grande potencial de desenvolvimento. Essa notícia chega exatamente no momento em que os chineses estão preocupados com o recente declínio populacional e seu impacto na produtividade doméstica.
No curto prazo, a Índia está se beneficiando do acesso ao petróleo russo com desconto, o que permitiu que a economia crescesse rapidamente com uma inflação relativamente menor do que outras. No longo prazo, entende-se que a Índia se torne uma alternativa manufatureira à China. Há grandes diferenças culturais, políticas e sociais entre os dois países, mas é um caminho com o qual o mundo precisa ficar atento. Será que vem ai uma mudança de eixo? É esperar pra ver.
A última semana do mês apresenta um clima mais negativo nos mercados globais. Commodities em baixa e uma preocupação grande com preços de Petróleo e Minério de Ferro. As ações da Vale estão derretendo. A guerra na Ucrânia segue sem solução e a Rússia conseguiu sair do foco, pelo menos por enquanto. Nos EUA, o calendário de dados é relativamente tranquilo com apenas algumas pesquisas regionais, como a de manufatura do Fed de Dallas. A tranquilidade deverá se esvair nos próximos dias, principalmente por conta da temporada de resultados, com cerca de 35% das empresas do índice S&P 500 divulgarão números na semana. Embora a temporada de resultados tenha tido um início até que robusto, as preocupações com o impacto da inflação, altas taxas de juros e uma possível recessão nos EUA ainda estão presentes.
Os principais nomes incluem as grandes empresas de tecnologia, representativas nos índices de ações americanos. Além da temporada de números poderemos nos debruçar sobre alguns dados econômicos, como a confiança do consumidor, as vendas de novas residências, os pedidos de bens duráveis e o índice de custo de emprego. Tudo isso acontece nos próximos dias e poderá balizar ainda mais as expectativas para a reunião do FOMC de 2 a 3 de maio. Não se pode esperar muita coisa dos balanços dos bancos. A alta dos juros abalou os resultados que eram promissores.
E o Arcabouço Fiscal da equipe econômica do Governo Lula? Inicialmente, imaginava-se que o anúncio do Arcabouço poderia trazer alívio aos mercados financeiros. Uma sensação de até que enfim, a questão fiscal finalmente entrará nos trilhos. Que nada. O Arcabouço, desde o início de sua concepção, era algo aguardado por todos, mercado, imprensa, investidores e pessoas que acompanham as notícias sobre a economia do país com uma certa frequência. No entanto, o que se viu foi o aumento das incertezas, principalmente pelo fato de que o ajuste das contas públicas vai depender diretamente do aumento da arrecadação. A tramitação do projeto já está em andamento.
Artur Lyra, presidente da Câmara dos Deputados e Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, pretendem avançar com as discussões o quanto antes, visando o avanço da reforma tributária. Com o anúncio do Arcabouço, além da proximidade do governo brasileiro com a China e as discussões sobre o futuro dos juros do país, o que se viu é a indefinição de um modelo econômico e a falta de direcionamentos mais claros do que será implementado daqui em diante. De qualquer maneira o governo segue no ataque.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a atacar o que chamou de caixa preta das renúncias fiscais e mais uma vez prometeu atacar práticas abusivas em benefícios tributários. O ministro citou manobras de algumas empresas para converterem lucros em Juros sobre Capital Próprio (JCP). O ex-ministro Paulo Guedes chegou a propor a taxação dos JCPs na tentativa de reforma da tributação do governo passado, mas o projeto não seguiu adiante. Segundo o ministro, existem empresas muito rentáveis que não declaram lucro, porque o transformaram artificialmente em JCP. Ele citou que apenas uma empresa tem um auto de infração de R$ 14 bilhões por essa prática.
Sobre isso Paulo Guedes disse o seguinte: “Não pagam nem como pessoa jurídica e nem como pessoa física. Essas coisas precisam ser explicitadas. Não estou buscando controvérsia ou ataque a quem quer que seja. Só estou dando transparência porque a sociedade precisa saber para onde está indo o dinheiro”, argumentou. Mexer com o mercado é o mesmo que mexer em um vespeiro