Amauri Meireles (*)

 

Na vida, há inúmeras situações extremamente tensas, que várias pessoas chegam a pensar que estamos próximos do Armageddon. Algumas acontecem de forma explícita, causando inquietações, e outras são conhecidas após sua ocorrência, mas, também, provocando traumas, ansiedades.

Certamente, essa terça feira, próxima passada, dia 07 de setembro, foi um dia de fortes emoções.

Pouquíssimas pessoas tomaram conhecimento de que um asteroide (RJ53) passou próximo da terra – a apenas 366.000 Km – numa distância inferior à que vai à lua, ou seja, 384.400 Km. Embora tenha sido localizado a, tão somente, três dias de sua passagem por aqui, intensificaram-se estudos e pesquisas que concluíram por não oferecer perigo ao globo terrestre.

Por outro lado, maioria da população brasileira tomou conhecimento de que, há cerca de um mês, aproximadamente, foi tomando corpo a intenção de, no Dia da Independência, serem feitas manifestações pró e contra o PR Bolsonaro e, na esteira, contra instituições e autoridades públicas. A mídia, que relatou a evolução das intenções, nos deixou a impressão de que haveria um “clima de guerra” em várias capitais, com destaque para Brasília, sendo inevitáveis os confrontos. Os pronunciamentos e as atitudes de autoridades, em maioria, serviram para acirrar os ânimos.

Na data marcada, consolidou-se uma estrondosa contradição, cujo início se dera, gradativamente, dias antes. É que as tradicionais comemorações do Dia da Pátria foram suspensas, em razão de uma das medidas preventivas para se evitar a propagação da Covid-19: evitar aglomerações. Contudo, há estimativas de que havia nas manifestações, minimamente, cinco vezes mais público que comumente há nas comemorações. 

Felizmente, assim como o asteroide não colidiu com a terra – o que poderia ter sido um grande desastre – não houve confrontos – o que poderia ter elevado a gradação da Ordem, de alteração para grave perturbação, ensejando medidas de exceção, previstas na Constituição.

Astrônomos comemoraram, aliviados e felizes, em uníssono, a passagem do RJ53, sabendo que, ainda em setembro, mais dois asteroides rondam a terra. 

Quanto às manifestações, no geral, ordeiras, o resultado foi diferente do que muitos supuseram. Para os que pretendiam mostrar a força do povo, a euforia; para os que pregavam invasões de prédios públicos e quebradeiras, a desilusão; para os “valentões”, desejosos de “resolver o problema”, ainda que com desordem, a frustração; para os afoitos, que viram na nota do PR um recuo, a desilusão. Finalmente, para os sensatos, para quem os problemas devem ser resolvidos sem fanfarronice ou supremacia de qualquer Poder, com respeito às leis, visando ao interesse maior do povo brasileiro, uma alegria de astrônomo: o perigo passou ao largo!...

Ficou patente a razão do sucesso dos cientistas: trabalham com sinergia, sintonia e sincronia, sem se hostilizarem. São procedimentos fundamentais: tratamento estritamente científico e prevalência do princípio da antecipação.

Diferente da área política, onde, dentre inadequados comportamentos, tem faltado rigor, convivência, convergência, efetividade, respeito a limites, observância do interesse público.

A realidade fática mostrou que, na conduta política ética, não cabem leviandades, o obscuro exercício da autoridade e, sobretudo, a arrogância.

Afinal, a classe política representa o povo, ou, pesarosamente, constata-se, “deveria representar”.

Interessante observar que, quando há um problema, o primeiro impulso é buscar uma solução imediata, que, quase sempre, se mostra paliativa. Assim, ele ressurge mais à frente, porque houve preocupação em se achar reposta para o “que” está acontecendo, quando o foco deveria ser a identificação do “por que” está ocorrendo.

Adotada essa metodologia para se investigar, por exemplo, causas pelas quais o Brasil, um país riquíssimo, tem uma população pobre, certamente refulgiria cristalino que a causa está em nossa classe política, que é de péssima qualidade, sendo conveniente e necessário um reexame dos critérios para integrar o alto escalão dos três poderes, na qualidade de agente político.      

O PR Bolsonaro divulgou uma nota, pretensamente pacificadora. E já há interpretações discordantes. Para uns, foi um ato de prudência, um chamamento à união; para outros, foi um vergonhoso recuo, uma covardia, uma fraqueza; já para os estrategistas, em razão do cerco político que vinha sofrendo, inovou com uma manobra semelhante ao clássico retraimento, mantendo o contato, ainda que por terceiros. Poucos críticos a conhecem e, por desconhecê-la, muitos a confundem com “bater em retirada”. Visa a rever estratégias e táticas, reorganizar os meios e... muito mais!...

Agora, é esperar a passagem de outros asteroides e, também, aguardar por corretos procedimentos nos três poderes, cujo objetivo estratégico seja o Brasil.

Que nossos agentes políticos tenham o perfil de cientistas e não o de indivíduos que priorizam o interesse próprio, em detrimento do interesse público.

  

(*) Coronel Veterano da PMMG

   Foi Comandante da Região Metropolitana de BH