Começamos 2023 com a mesma taxa de juros que terminamos 2022. A primeira reunião do Comitê de Política Monetária do ano não trouxe surpresas. Seguimos com a taxa Selic inalterada em 13,75 por cento ao ano. A manutenção foi aprovada por unanimidade. No entanto, se os juros não mudaram, o discurso do Copom endureceu. O Comunicado divulgado após a reunião de quarta-feira mostra que, na avaliação do Comitê, o cenário está mais adverso. A projeção de inflação para 2023 que antes era de 5,0 por cento subiu para 5,4 por cento. O que mais preocupa os membros do Copom é a situação das contas públicas. Mesmo considerando-se a linguagem neutra dos banqueiros centrais, o texto divulgado após a reunião é inegável. No Comunicado, o Copom informou que “a conjuntura, particularmente incerta no âmbito fiscal e com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária.” O Comitê acrescentou que “julga que a incerteza em torno das suas premissas e projeções atualmente é maior do que o usual”.
O tom também endureceu com relação ao futuro. No Comunicado da reunião anterior, encerrada em 7 de dezembro passado, a avaliação era se a manutenção dos juros “por período suficientemente prolongado” será capaz de assegurar a convergência da inflação para o centro da meta. No Comunicado da quarta-feira, essa frase foi substituída pelo texto “por período mais prolongado do que no cenário de referência”. As conclusões são inevitáveis. Houve até uma melhora na conjuntura macroeconômica, com uma desaceleração da inflação no início deste ano. Porém, essa melhora foi compensada negativamente por um aumento dos riscos da política fiscal e pela discussão das metas de inflação. Além disso, a aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da transição elevou os gastos neste ano. Uma estimativa preliminar é que a esticada na fatura será da ordem de 170 bilhões de reais. Tudo isso eleva a incerteza sobre a trajetória da dívida e da inflação. Não por acaso, as projeções de inflação vêm subindo no Relatório Focus para 2023 e também para os próximos anos.
Nos Estados Unidos o Federal Reserve (Fed), o banco central americano, atuou no sentido contrário. Ele confirmou as expectativas do mercado e elevou os juros nos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual, para a faixa entre 4,50 por cento e 4,75 por cento ao ano. Esse movimento já era esperado. Porém, uma leve mudança de tom na tradicional entrevista coletiva concedida após a reunião por Jerome Powell, presidente do Fed, aumentou as expectativas que o Fed deverá desacelerar a alta dos juros ou até mesmo interromper o processo na próxima reunião.
Na Europa o clima é muito parecido. Inflação, retração e aumento de juros. A Guerra na Ucrânia segue sem definição, embora muitos apostam em uma grande ofensiva Russa no fim deste mês para destruir de vez o inimigo. Mundo globalizado, problemas globalizados.