Convidado
por Sérgio Marchetti*
Conforme descrevi outro dia (falando do Clube Atlético Mineiro — que não melhorou nada), há muitos anos os especialistas em administração de empresas e gurus de destaque mundial vêm fazendo uma analogia entre equipes de futebol, vôlei, basquete com as equipes de uma empresa. A palavra time encontrou guarida nas organizações e na filosofia de trabalho de muitas delas que, estando voltadas para resultados coletivos, consolidaram missão, visão, valores, metas e objetivos. De fato, um time de futebol, por exemplo, conta com a participação de todos os membros da equipe. Por outro lado, se as empresas adotaram a estratégia dos times ou do esporte, os times viraram empresa e se estruturaram como tal. Mas a lucratividade se sobrepõe às vitórias e conquistas.
Destacamos semelhanças e diferenças que ambas as organizações podem utilizar para atingir seus objetivos. Detalhes como possuir publicidade, trabalhar adesão de clientes e associados, contratar profissionais de ponta, realizar treinamentos etc. são pontos comuns em todas as organizações. As diferenças também são muitas: salários, prêmios, fama, não punição pelos erros cometidos durante o trabalho (jogo). Essas são prerrogativas exclusivas aos profissionais do esporte. Também não inventaram nada que faça uma jogada brilhante ser repetida e padronizada. São como ondas, acontecem sempre de forma diferente (“a vida vem em ondas…”).
Prova disso é a oscilação de um time de futebol que num dia realiza um jogo brilhante e no outro fracassa de forma humilhante (só para rimar). Mas o líder pode ajudar a fazer com que o índice de erros seja menor. Pode haver regularidade, sim. Na empresa mais desenvolvida, quando um profissional erra duas vezes, seu líder procura saber a causa e busca solução. A causa pode estar ligada à problemas pessoais ou técnicos. No primeiro caso, oferecem ajuda psicológica ou sugerem que a procure fora da empresa. No caso de ser problema técnico, treina-se, substitui-se.
No futebol, parece que errar foi institucionalizado como normal. Perder com placar dilatado também. Um goleiro que não sabe chutar, e que a metade de seus lançamentos feitos com os pés vão para fora do campo, não deveria ter tantas bolas atrasadas, pois esse é um ponto fraco e fatalmente poderá acarretar em erro. Talvez o treinador não veja que isso acontece. Deve ser míope. Mas o treinador ignora falhas grosseiras e repetidas a cada partida. Na empresa, ou se corrige ou substitui o profissional ou o líder. Algumas demissões sempre acontecem. Os erros não ficam impunes. No futebol, quase sempre buscam um culpado – o técnico “paga o pato”. Às vezes merecidamente, pois tem aqueles que não aceitam críticas, ironizam, não alteram sua estratégia, não treinam seu goleiro (mesmo que esteja falhando bastante) não treinam os demais jogadores que erram 30 passes durante o jogo.
Também não reconhecem seus erros, não se incomodam de ser “saco de pancada”, e por vezes são premiados pela diretoria com a renovação de seu contrato. Isso tudo com direito a aumento do salário. Viram, leitores, como a empresa do esporte é diferente das demais. Na empresa você pergunta: – o que ganhamos este ano? – Nada? Então algo terá que ser mudado. No futebol fazemos a mesma pergunta: – o que ganharam este ano? – A Copa Brasil? – Não. – O campeonato Nacional? – Não. Mas, ironicamente, ainda assim, alguns treinadores, quando questionados parecem ter visto outros jogos e com a “cara mais lavada” consideram o resultado como ótimo. E, para amenizar as perdas, ainda conjugam o verbo competir e o colocam como a ação mais importante.
Competir é preciso, ganhar não é preciso.
*Sérgio Marchetti é educador, palestrante e professor. Possui licenciatura em Letras, é pós-graduado em Educação Tecnológica e em Administração de Recursos Humanos. Atua em cursos de MBA e Pós-Graduação na Fundação Dom Cabral, B.I. International e Rehagro. Realiza treinamentos para empresas de grande porte no Brasil e no exterior. www.sergiomarchetti.com.br