Amauri Meireles (*)

 

No Brasil, a pandemia da COVID-19, provocada pelo novo coronavírus, o SARS-CoV-2, tem sido motivo de preocupação popular e de ocupação, nos três níveis, em seu enfrentamento. No início, considerada uma ameaça à saúde do povo brasileiro, o Ministério da Saúde ficou com o protagonismo de elaborar e praticar ações, além de difundir e monitorar propostas para atuação dos demais entes federativos.

Após o susto (e o surto transformar-se em pandemia), o governo federal identificou que, o ataque à saúde do povo brasileiro, era apenas a ponta de um iceberg, imensurável ameaça à saúde do Estado brasileiro. E, mesmo considerando que o Ministro Mandetta realizava um bom trabalho, o presidente (PR Bolsonaro) o demitiu por não ter disciplina de Estado-Maior (para os militares, requisito inflexível de assessor). Parte da mídia repercutiu, mais do que o necessário, mera substituição de um membro de uma equipe, na tentativa frustrada de “criar um fato novo”. É de se realçar que, em parte, o esvaziamento se deveu à postura elegante do ministro em sua saída. Uma nova Estratégia foi lançada pelo Planalto, onde tudo e todos deveriam estar voltados para mitigar, restringir, reduzir e, paulatinamente, acabar com os efeitos da COVID-19 na vida do país. Suas atitudes em aparições públicas, na contramão de sua assessoria oficial, aliadas ao chamamento, para si, da responsabilidade de algo dar errado, foram pauta da imprensa e palanque para políticos que lhe fazem oposição.

Dias atrás, a notícia de que o Ministro Sérgio Moro iria demitir-se, foi um novo susto. Afinal, Moro, como juiz, tornou-se uma referência nacional, um exemplo de probidade, austeridade, coragem, competência, independência, arrojo, julgando ações da Lava Jato. Para alguns, a condenação de um ex-presidente foi um ato heroico. A demissão, ainda que desmentida pela própria assessoria de comunicação do Ministério, concretizou-se no dia seguinte, em entrevista coletiva do Ministro. Alegando ter uma biografia a preservar, justificou sua saída em razão do que chamou de ingerência indevida do PR, na troca de comando da Polícia Federal. E mais, levando em conta que a presidência é regida pelos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, se um Ministro da Justiça enxerga improbidade, pessoalidade e ilegalidade em um ato do PR, não cabem insinuações, mas a obrigação de divulgá-lo formalmente.

À tarde, também em coletiva, o PR alegou que eventuais “cartas-brancas”, dadas a assessores na montagem de suas respectivas equipes, não inibem seu poder de veto e nem retiram seu poder originário de nomear pessoas para cargos que lhe aprouver, consoante a Cadeia de Comando. O juiz Moro, de carisma e gentileza ímpares, até então com biografia cristalina, a teria manchado quando, ministro, não se dignou a procurar o PR para lhe comunicar, formal e frontalmente, sua demissão, saindo pela porta dos fundos para uma coletiva da imprensa.

Enfim, duas constatações: uma, que o juiz Sérgio Moro prestou relevantes serviços ao Brasil; outra, que o PR Bolsonaro, em sua manifestação, deu uma aula sobre Disciplina de Estado-Maior e sobre Cadeia de Comando. Deixou claro que assessor não é mentor! Na condição de convidado ou designado, tem poderes delegados pela autoridade superior, que nunca pode ser contraponteada. É um princípio fácil de entender que, mal compreendido, fica difícil de ser praticado. A má interpretação é feita, intencionalmente, por órgãos e pessoas que se locupletam com divergências, celeumas, atritos. Que apagam fogo com gasolina! Que nos induzem a acreditar que a má notícia é a boa notícia (para vender jornal, revista, aumentar índices de audiência). Vejam o exemplo de outros países. Quando um ministro é trocado, o jogo segue, sem invasão de campo, sem briga de torcida, sem abandono do campo. Caiu o primeiro-ministro? Há uma rotina para volta à normalidade.

Estes fatos são tratados de forma absolutamente normal pela mídia, sem superdimensionamentos, sem estardalhaços, sem mormaços (pouca luz e muito calor). Quando se visita um país, principalmente europeu, fica a impressão de estarmos no melhor dos mundos. Por quê? Porque as mazelas e as contradições sociais locais são jogadas para debaixo do tapete, porque eles entendem que roupa suja deve ser lavada em casa. Têm convicção de que o problema deles, é deles, não de visitantes. Aqui no Brasil, onde vigora o complexo de vira-latas (do crítico Nelson Rodrigues, para denominar a baixa autoestima do brasileiro), criaram-se até excursões programadas para estrangeiros conhecerem nossas favelas.

Assim, nesse momento quarentena-reflexão, surge mais uma oportunidade de nós, brasileiros, mudarmos nossos comportamentos de adorar fuxicos, de fazer críticas infundadas, de socializarmo-nos nas filas, falando mal de alguém ou de um órgão. É hora de largar o mimimi e o nhenhenhém e adotar o pragmatismo. Hora de efetividade em nossos atos, palavras e condutas. Guardar em nossas mentes o excelente papel desempenhado pelo juiz Sérgio Moro, mas lembrando que ele não é mais o pífio  ministro do governo Bolsonaro, presidente eleito para nos proteger e promover nosso progresso, pessoal e institucional. Falar mal, por falar mal, desculpem-me, é cuspir para cima, é um procedimento inconveniente, inadequado e inoportuno.

Enfim, nada de nos deixar levar à mudança de foco para questiúnculas – fomentadas por entidades ególatras – bem menores que o alvo principal. E, no momento, ele é a saúde do Estado brasileiro! 

                                               (*) Coronel Veterano da PMMG

                                        Ex-Comandante da Região Metropolitana de BH