A ingratidão é a característica da pessoa que não reconhece o bem que lhe foi oferecido nem a ajuda que lhe foi concedida. Escassez de afeto.
A ingratidão pode ser observada de duas formas: uma através da insatisfação com a vida e outra através da insatisfação com as pessoas.
O indivíduo insatisfeito com a vida se torna um “reclamão”. Não consegue dar valor às coisas boas e vive enxergando somente aquilo que lhe falta. Um buraco sem fundo. Nada para ele está bom. Pode estar no melhor lugar do mundo, num dia ensolarado com a vista mais deslumbrante, que sempre identificará um aspecto negativo. É incapaz de desfrutar da satisfação plena. Ora a música está alta, ora falta a música; ora o sol está quente, ora está nublado; ora tem gente demais, ora faltam pessoas interessantes. A insatisfação não é só sentida como também verbalizada, enfatizada, repetida e “bufada” através de suspiros e caretas que evidenciam total descontentamento.
Mas o que leva uma pessoa a ter esse comportamento mesmo sendo percebida como chata?
Não há como negar um traço de narcisismo nesses indivíduos. O narcisista é aquele que acredita que deve ser tratado com deferência e honraria. Portanto, quando as coisas não estão à sua “altura”, num processo inconsciente, ele acha um absurdo, então reclama. Acredita que o outro veio ao mundo para servi-lo, e servi-lo com devoção. Não valoriza o que tem. Nada para ele está bom. Só o Olimpo.
A segunda faceta da ingratidão surge no relacionamento com as pessoas. Ficamos sem entender o que faz, por exemplo, uma pessoa que morou em nossa casa, sem pagar nada, recebendo carinho e atenção, desenvolver tamanha raiva contra nós. Ou então a quem emprestamos dinheiro num momento de dificuldade sair falando mal de nós. Difícil aceitar essa atitude, uma vez que esperamos, no mínimo, um sentimento de gratidão. Mas, na prática, nem sempre isso que acontece.
Há um ditado popular que diz: “a ingratidão é filha da inveja”.
Outro dia, relendo o livro do autor Flávio Gikovate, deparei-me com o parágrafo que dizia: “A ingratidão tem sua lógica: quem dá é o ‘rico’ e quem recebe é o ‘pobre’. Daí a inveja! Poucos são os que aceitam receber com dignidade e retribuem com gratidão.
Da admiração derivam dois sentimentos: um é o amor, o outro é a inveja. Ela penderá para um ou outro lado conforme o caráter e a autoestima do observador.
A hostilidade dirigida a quem tanto fez e ajudou é uma reação negativa típica da pessoa que se sente por baixo e que, no fundo, reconhece esse rebaixamento, mas, como não pode se revoltar contra si, dirige a agressividade contra outro, o abundante. E o ciclo se repete: quanto mais recebe, mais hostiliza e mais fala mal do doador.
Este comportamento de ingratidão talvez seja o melhor sinônimo da palavra miséria.