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Festival de Gramado apresenta filme sobre a trágica história de Simonal

23/08/2018 00h00 - Atualizado em 21/03/2019 12h37 por Admin


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Paulo Henrique Silva
phenrique@hojeemdia.com.br

GRAMADO – Wilson Simonal está brincando com os filhos quando o telefone toca e é informado de várias pendências financeiras pelo banco. A partir deste momento, a luminosidade que o filme “Simonal” imprimia na trajetória do cantor, o maior artista negro do país, é substituída por tons escuros, enxergando-o no contra-luz no instante em que é vinculado ao governo militar e chamado de dedo-duro, após ele pedir, em 1971, a um delegado do DOPS para bater no responsável pela contabilidade. Encerrava ali, precocemente, a sua carreira.

“Essa cena é muito significativa, pois resume o que foi a vida de Simonal”, observa o diretor Leonardo Domingues, que apresentou o filme no Festival de Gramado como um dos concorrentes ao troféu Kikito – o resultado será conhecido na noite deste sábado, na serra gaúcha. Vindo da edição, em seu primeiro filme à frente das câmeras se vê uma grande atenção à composição das imagens. “Demoramos muito na edição, mas acredito que o filme ganhou muito com esse tempo na ilha (de edição). Se vou editar mais? Acho que sim”, diverte-se.

Com Fabrício Boliveira no papel-título, além da mineira Ísis Valverde, de Leandro Hassum e Caco Ciocler no elenco, “Simonal” teve a participação dos dois filhos do rei do suingue, os cantores Max de Castro e Wilson Simoninha, responsáveis pela produção da trilha sonora. “É um grande filme, instigante e forte, permitindo que as pessoas conheçam quem ele foi, tirando sua história da obscuridade”, registra Simoninha. O pai morreu em março de 2000, amargurado e vítima de uma cirrose hepática, em decorrência do alcoolismo.

Para exemplificar o estigma que cercava Simonal, Castro lembrou quando, há dez anos, foi procurado por Claudio Paiva, um dos integrantes do programa “Casseta & Planeta”, para fazer o documentário “Ninguém Sabe o Duro que Dei”. “O programa estava no auge e ele tinha acabado de ler a biografia feita pelo Nelson Motta. Estava muito empolgado e foi atrás do mesmo patrocinador do programa. Após ler o projeto, um dos diretores recomendou a ele para não ‘mexer com essa gente, não’. Por isso, estou muito feliz em ver tantas pessoas legais terem vindo mexer com a gente”.

Domingues conta que a maior dificuldade do roteiro foi retratar a parte final da vida de Simonal. No documentário de Paiva, lembra ele, o filme termina com o depoimento de Chico Anysio, que imagina o artista cantando “Sá Marina” para os anjos, regendo os movimentos deles. “Isso mostra uma certa redenção, não deixando o tom lá em baixo. Em nosso caso, a solução foi dar a ideia de que ele iria para o cadafalso (num show realizado logo após as acusações) e exibi-lo alegre, diante de uma plateia vazia”.

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Fabrício Boliveira e a mineira Isis Valverde passaram pelo carpete vermelho e posaram ao lado do Kikito

Boliveira observa que ficou muito focado em repetir a mesma energia de Simonal no palco. Tanto é assim que, nos intervalos das filmagens dos shows, ele mantinha o público “aquecido” com brincadeiras. “O que Simonal fazia era bonito de ser ver, empolgante, deixando o público hipnotizado. E fiquei muito feliz, ao reencontrar os figurantes em outros trabalhos, e eles dizerem que essa parte foi muito marcante de fazer”, assinala o ator, que repete com Ísis a mesma dobradinha romântica de “Faroeste Caboclo” (2013).

“Meu desafio foi entender o mito humano. Minha primeira pergunta foi ‘por que estão fazendo esse filme hoje?’. E quando fui ao ‘Baile do Simonal’ ( show de Simoninha e do Max que homenageia o pai) é que descobri do que estávamos falando: uma família destruída pelo fake news, pelo racismo... Lá estavam vários familiares, eles me chamaram para o palco e vi quanto amor havia ali. Enxerguei uma família destruída por fortes dramas pessoais que conseguiu se reconstruir no tempo”, analisa.

Para Castro, o filme “conta mais a história de minha mãe do que de meu pai, com o papel de Ísis mostrando a importância e o amor desempenhados por minha mãe”. Recorda que o avô era machista e que não incentivou o desenvolvimento escolar de Tereza e suas quatro irmãs porque elas só deveriam ser donas de casa. “E, dentro deste ambiente, me impressiona como ela foi corajosa, ao se interessar, por exemplo, pela cena do rock, trazendo essa discussão muito daquilo que as mulheres sonharam à época”, elogia.

(*) O repórter viajou a convite da organização