PANDEMIA


Com a falta de imunizantes contra COVID-19 no Brasil e uma campanha de vacinação lenta em comparação a outros países, os brasileiros estão aderindo ao “turismo da vacina” e viajando aos Estados Unidos para garantir doses contra o vírus. Desde janeiro, relatos de não-residentes que viajaram de outras localidades em busca do imunizante são mais frequentes.


De acordo com o Departamento de Saúde da Flórida, apenas em janeiro, cerca de 52 mil vacinados foram registrados como pessoas que viviam "fora da região", o que pode significar tanto quem mora em outros estados americanos quanto estrangeiros apenas viajando pelos EUA. Da mesma forma, estima-se que cerca de 25% das doses alocadas para a cidade de Nova York foram administradas em não-residentes.


A maior procura pelos imunizantes vem de brasileiros e mexicanos. Impedidos de entrar no país, os brasileiros precisam fazer uma quarentena de 14 dias e realizar testes antes da viagem aos EUA. Já os mexicanos vêm atravessando as fronteiras, especialmente com o Texas, atrás das doses de imunização.


A maior procura tem relação com o plano do presidente americano Joe Biden. Antes mesmo de tomar posse, em janeiro, Biden estabeleceu a meta de aplicar 100 milhões de doses de vacinas contra a COVID-19 nos Estados Unidos.


Nesta quinta-feira (25/3), o democrata dobrou a  meta de vacinação contra a COVID-19 no país: agora, ele pretende ter aplicado 200 milhões de doses até o 100º dia de mandato do novo governo — ou seja, até 30 de abril. Essa meta já inclui as mais de 100 milhões de vacinas aplicadas até hoje.

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Com o turismo de vacinas, os milhares americanos que de fato residem nos Estados Unidos podem ficar prejudicados. Segundo o advogado de imigração brasileiro/americano Felipe Alexandre, não existe nenhuma lei que impede brasileiros de serem vacinados em solo americano. 
 
“No entanto, o processo de vacinação em massa feito para atender primeiramente determinados grupos prioritários no país é afetado cada vez que uma pessoa que não reside no país consegue uma dose de imunização. Embora não possa ser considerado um crime, o turismo da vacina constitui ao menos uma prática pouco ética de tentar burlar o sistema de saúde americano”, explicou o advogado.

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Felipe Alexandre, advogado de imigração e fundador da AG Immigration

(foto: AG Immigration/Reprodução)


Segundo Alexandre, as cidades mais procuradas por brasileiros são Orlando e Miami. “Tradicionalmente, essas são as cidades com maior presença de brasileiros e de latinos em geral nos EUA", conta. "Historicamente essas cidades têm uma tolerância maior e leis mais brandas para a população imigrante, o que favorece este tipo de prática na região”, informa.

Estima-se que pelo menos 20% de mais de 1 milhão e 200 mil brasileiros nos EUA estejam localizados na Flórida. 


Para combater o problema causado pelo turismo das vacinas, Florida, Califórnia, Nova York e Texas passaram a exigir comprovantes de residência local para quem busca a vacinação, e a tendência é que outros estados adotem medidas semelhantes. 


Ainda assim, a grande maioria da população com mais de 65 anos continua sendo atendida normalmente mesmo sem apresentar estes documentos, já que para grande parte da comunidade médica a vacinação deve atender a todos, independentemente de onde residam ou de seus status imigratórios.


Questionado sobre uma possível punição para brasileiros que tomarem a vacina em solo americano, retirando assim a vacina de um nativo, Alexandre explica que não foram estabelecidas ainda as medidas necessárias para impedir a vacinação.


Segundo o advogado, a tendência é que mais medidas restritivas sejam adotadas caso o turismo das vacinas continue se intensificando, e uma multa para quem tentar “driblar” o sistema de saúde certamente é uma possibilidade.

Cuba e o turismo de vacinas

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Cuba pretende vacinar toda sua população ainda em 2021 com a vacina Soberana 2, desenvolvida pelo Instituto Filay.

(foto: AFP/Reprodução)

 

O governo de Cuba planeja oferecer vacinas a turistas que visitarem o país. O plano foi anunciado por Vicente Verez, diretor-geral do Instituto Filay de Vacinas, instituição responsável pelo desenvolvimento dos principais imunizantes do país, durante uma conferência virtual no fim de janeiro.


Questionado sobre o assunto e as diferenças entre o Estados Unidos e a ilha caribenha, neste caso, Alexandre explica que existem duas situações diferentes.


“Para os Estados Unidos, o exemplo de Cuba certamente não se aplica. Existe uma mobilização nacional para ter todos os americanos e residentes permanentes legais com mais de 18 anos vacinados até o fim de maio, e o turismo das vacinas certamente pode contribuir com um atraso significativo no plano de vacinação, o que não interessa a ninguém no país”, explica.


Cuba pretende vacinar toda sua população ainda em 2021 com a vacina Soberana 2, desenvolvida  pelo Instituto Filay.
 
* Estagiária sob supervisão da subeditora Ellen Cristie.