HISTÓRIA

O jovem sonhador da cidade de Pirapora, no norte de Minas Gerais, nem imaginava que os sonhos alçariam voos tão altos. Desde cedo a curiosidade de José Souza Ramos Junior o impulsionou para a carreira da aviação. Como morava perto do aeroporto do município, que tem aproximadamente 55 mil habitantes, ele observava de perto os aviões e, sempre que podia, ia até o local. Desde os 14 anos, o agora diretor da Azul Conecta, maior empresa de aviação regional do país, já sabia: "Ainda vou ser piloto".

Por vir de uma cidade pequena no interior, com forte presença de um aeroporto regional, Ramos sabe a importância da aviação para o desenvolvimento.

"Visitei recentemente a maioria das bases da Azul Conecta e, quando você conversa com os clientes, observa o quanto o voo entre essas cidades é essencial. Em Maués, por exemplo, no interior do Amazonas, um cliente me relatou que antes só era possível viajar de barco até Manaus e demorava até 18 horas, mas, agora com a Azul Conecta, ele leva apenas 40 minutos para chegar a capital amazonense. E, por meio da conexão com os voos da Azul, ele pode ir para diversos outros destinos, até internacionais. É incrível isso", comenta Ramos.
Ainda cedo, ganhou experiência ajudando no aeroporto da cidade nas horas vagas.

"Me oferecia para lavar os aviões, fazer pequenos serviços, tudo para estar mais perto e ir aprendendo o máximo possível. Essa vivência colaborou muito para que eu pudesse conhecer mais e melhor a aviação", diz.

Após terminar o ensino médio e com muita pesquisa, Ramos descobriu uma faculdade em Uberaba, no triângulo mineiro, que possuía o curso que tanto desejava, Ciências Aeronáuticas.

"Meu pai ajudou muito nos primeiros meses. Graças ao financiamento estudantil via FIES, consegui seguir em frente, trabalhando e estudando ao mesmo tempo", explica Ramos. O esforço valeu a pena, Ramos era o melhor da turma, o que o fez ser convidado pelo reitor da universidade para o acompanhar em alguns voos.

"Ele tinha uma aeronave, mas precisava de alguém para ajudar na navegação e, com isso, eu consegui acumular horas de voo", lembra Ramos.

Depois, a carreira de Ramos como piloto decolou de vez. Passando por empresas como a Líder, MRV construtora, Helimed até chegar na Azul, em janeiro de 2011, ainda no começo da companhia, como primeiro oficial das aeronaves ATR. Na companhia ajudou na implantação do ATR 72-600, inclusive indo buscar a aeronave na fábrica em Toulouse, na França.

Depois foi promovido, ainda no primeiro ano, a coordenador do ATR, na diretoria de Operações, também colaborando na área de Safety da Azul.

"A Azul tem uma cultura de segurança muito forte. E para o início da operação com os ATRs fizemos um processo intenso de padronização, que é muito complexo e exige um trabalho em equipe", explica Ramos.

Outro ponto alto foi ter comandado o treinamento para adequação ao padrão da Agência Europeia para a Segurança da Aviação (EASA) de toda a frota para operação na Europa, etapa que foi essencial para iniciar os voos entre Campinas (SP) e Lisboa, em Portugal. Foi justamente após essa experiência que Ramos decidiu formar a SAFE Escola de Aviação, em 2019, tornando a empresa uma referência na formação de pilotos, inclusive em parceria com a Associação Voar, instituição sem fins lucrativos criada por executivos da Azul.

"Eu tinha feito uma promessa que, quando eu estivesse em uma situação melhor, iria ajudar outros a seguirem o mesmo sonho", recorda Ramos.

Até que em 2023, chegou o convite que o fez sair da SAFE para se dedicar totalmente a Azul, como diretor da Azul Conecta. Pela frente, o desafio de seguir a expansão da empresa, substituir um verdadeiro ícone da aviação, Flavio Costa, dando continuidade ao processo de modernização preservando a segurança como o principal valor.

"Substituir alguém que deixa um legado importante é um grande desafio. Minha missão é dar sequência a todos os projetos de inovação iniciados pelo Flávio. Vamos focar em melhorar o desempenho e indicadores, principalmente em relação a atrasos e cancelamentos, sempre com foco na segurança. Por operar em aeroportos regionais, com uma infraestrutura mais básica, muitas questões, principalmente as meteorológicas, podem impactar os voos, mas estamos trabalhando cada vez mais para manter a regularidade com segurança aos nossos clientes", explica Ramos.

Expansão da Azul Conecta e o desenvolvimento regional

Atualmente, a Azul Conecta, maior empresa de aviação regional do país, com a maior frota de Cessna Grand Caravan da América Latina e a terceira no mundo, é responsável por atender 81 destinos e conectar diversos aeroportos regionais com importantes cidades do país, ajudando
a Azul a chegar até a 160 destinos.

"A Azul Conecta será essencial na continuidade da expansão da Azul, que tem o objetivo de chegar a 200 cidades atendidas nos próximos anos.

Estamos levando desenvolvimento social e econômico, inclusive ajudando a promover o turismo em diversas regiões do Brasil, lembrando sempre das dimensões continentais do país e da importância da aviação regional para o desenvolvimento sustentável", aponta Ramos.

Das cidades atendidas pela Azul Conecta, mais de 50% têm menos de 100 mil habitantes. De acordo com os dados do último censo do IBGE, mais de dois terços das cidades brasileiras (69%) têm até 20 mil habitantes. Esses munícipios concentram pouco mais de 15% da população.

"Além de conectar pessoas, toda nossa operação também é importante para o transporte de cargas, que podem chegar em 24 horas em diversos locais remotos do país. Isso fortalece ainda mais a economia,  principalmente para o e-commerce", analisa Ramos, que ainda ressalta que a Azul Conecta opera exclusivamente em 80% dos destinos atendidos.

Desafios e oportunidades

Com muitas oportunidades a serem exploradas, a companhia prevê um crescimento de 20% nos próximos anos. Mas até lá, alguns desafios também precisam ser superados.

"A melhora na infraestrutura dos aeroportos regionais é algo que será muito importante para o crescimento, não apenas da Azul Conecta, mas da aviação regional como um todo. Isso vai dar mais previsibilidade, além de aumentar a frequência e regularidade nas operações", explica Ramos.

A empresa também será muito importante para os planos de expansão da Azul, já que será responsável por abrir boa parte das novas bases nos próximos anos. Além disso, Ramos destaca toda a parte tecnológica da companhia.
"Algumas novidades e produtos da Azul vieram de tecnologias testadas na Conecta. Por exemplo, o diário de bordo digital em tablets, que primeiramente foi implantado nas aeronaves da Azul Conecta", afirma Ramos.

Uma novidade, apresentada neste ano, foi o motor híbrido-elétrico, em parceria com a norte-americana Ampaire, que serão utilizados para transformar até seis Cessna Grand Caravan em aeronaves híbridas. A expectativa, com a inovação, é reduzir em até 70% o consumo de combustível. Recentemente, a empresa também divulgou o acordo com a Surf Air Mobility, para o desenvolvimento de aeronaves com motores totalmente elétricos, com o objetivo de reduzir os custos operacionais em 50% e eliminar a emissão de carbono das aeronaves Cessna Grand Caravan que receberem essa tecnologia. As inovações são importantes para colaborar com a meta de descarbonização da Azul alinhado aos valores ESG.

3 anos de Azul Conecta

Com base em Jundiaí (SP), a Azul Conecta iniciou as suas atividades em agosto de 2020, com o objetivo de conectar cidades do interior às principais capitais do país. Desde o surgimento, a companhia cresceu 81% em número de destinos atendidos e viaja para 81 cidades, além de contar com uma frota de 27 aeronaves e realizar, em média, 70 voos diários, sendo a frota de Cessna Grand Caravan com o maior tempo de uso do mundo, cerca de 200 horas por mês.

* Diretor Executivo da Assimptur

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