Brasil247 - A Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) perderá 301 dos seus 372 médicos com o fim da participação de Cuba no programa Mais Médicos. A perda equivale a 81% total. De acordo com especialistas, o atendimento ao segmento da população com alguns dos piores índices de saúde do país pode entrar em colapso. Os números foram enviados na sexta-feira (16) pelo Ministério da Saúde ao jornal Folha de S.Paulo, mas a assessoria de imprensa informou que não há ninguém disponível para falar sobre o assunto.
Os médicos cubanos estão espalhados em Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEIs) em 19 estados. O Amazonas é o que reúne o maior número (78), seguido por Mato Grosso (35), Pará e Roraima, os dois com 26 cada um.
Médica sanitarista e antropóloga, Luiza Garnelo, pesquisadora da Fiocruz no Amazonas, ressalta que, "salvo por algumas terras indígenas relativamente próximas de cidades, nunca se conseguiu superar o vazio assistencial médico, em particular na Amazônia". "Tal lacuna só foi parcialmente superada com a implantação do Mais Médicos. Agora, retornaremos ao nível anterior de desassistência", diz.
"O problema é particularmente grave quando sabemos que o perfil de morbimortalidade indígena é um dos piores do país. Para todos os perfis de saúde para os quais dispomos de algum dado, os indicadores encontrados para a população indígena são os piores”, afirma a pesquisadora.
Entre as estatísticas mais graves, a estudiosa cita níveis elevados de anemia materna e taxas de mortalidade infantil até 20 vezes maior do que a de crianças não indígenas. Dados obtidos pela BBC via Lei de Acesso à Informação apontam que 419 crianças indígenas de até 9 anos morreram de desnutrição entre 2008 e o início de 2014.