Não é preciso ser carioca para se indignar com o aumento de contrastes e problemas na cidade do Rio de Janeiro. A aniversariante desse último 20 de Janeiro, em vez de um presente que faz mais por merecer, recebe água turva, fedida e degradada nas torneiras de seus moradores e visitantes.

Triste ironia. A ‘Cidade Maravilhosa’, ícone da cultura em prosa, verso, sambas e choros memoráveis, tem rio no nome e assiste, fragilizada, o apodrecimento do Rio Guandu, que fornece 70% do seu abastecimento de água.

Reportagem do ‘Fantástico’, da Rede Globo, exibida no último domingo (19/01), não deixa dúvidas do tamanho da insensatez. E da ação deliberada contra a ‘galinha dos ovos de ouro’. Até quando o mundo vai comprar um Rio de Janeiro tão ‘bichado’, qual um túmulo caiado ou uma coleção de oásis entre um cenário degradante de infraestrutura derrotada?

Até quando o mundo vai comprar um Rio de Janeiro tão ‘bichado’, qual um túmulo caiado ou uma coleção de oásis entre um cenário degradante de infraestrutura derrotada?


Imagens são necessárias e cruéis. Não há como disfarçar a água suja das torneiras, o escoamento direto de dejetos in natura nos rios e córregos, a ocupação desordenada das áreas lindeiras, a proliferação de geosmina e a evidência de distorções clamorosas.

O Brasil é um gigante com menos de 50% da população coberta com saneamento básico. O Rio de Janeiro, vitrine do nosso turismo, deixa vazar ao mundo desestímulo óbvio e natural ao destino. A Cidade perde. O Estado perde. O Brasil perde.


Cada vez mais, a decisão das pessoas do mundo todo de escolherem este ou aquele destino passará pelo crivo da sustentabilidade, da segurança e da compliance em relação a itens essenciais. A água está entre eles, com destaque.

A Cidade perde. O Estado perde. O Brasil perde.

O Rio de Janeiro compõe o ranking que elege o Brasil em 1º lugar em belezas naturais. Mas até quando a miopia da governança irá rasurar a imagem da ‘Cidade Maravilhosa’? A indústria do turismo brasileiro pede respostas, urgentes e efetivas.

Baía da Guanabara

Um outro exemplo cruel é a Baía de Guanabara.  Um estudo ainda em elaboração pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID),  indica que a crise do Estado e o aumento dos problemas mais urgentes, como a segurança pública, deverão prejudicar os investimentos na limpeza das águas. Em 20 anos, os programas de despoluição da Baía de Guanabara consumiram mais de R$ 10 bilhões em empréstimos. O governo do Estado reconhece que ainda precisa de mais 20 anos e pelo menos de mais R$ 20 bilhões para recuperar toda a área.

Água boa nas torneiras, passando pelo desmanche de ocupações criminosas de milícias e poderes paralelos. E da corrupção endêmica. Afinal, o Rio de Janeiro é mais que uma cidade – é uma instituição brasileira que merece ser saneada e protegida dos riscos da decadência.