Polícia Federal tenta há nove meses colher depoimento do ex-coronel, que alega problemas de saúde para não depor; oitiva está agendada para as 8h30. Ele foi um dos alvos da Operação Skala.

Por Camila Bomfim, TV Globo, Brasília

A Polícia Federal marcou para as 8h30 desta sexta-feira (30) o depoimento do ex-coronel João Batista Lima, amigo do presidente Michel Temer. Ele foi preso pela Polícia Federal na Operação Skala nesta quinta.

A prisão de Lima foi autorizada pelo ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, relator do inquérito do inquérito que investiga se Temer, por meio de decreto, beneficiou empresas do setor portuário em troca de suposto recebimento de propina.

Lima será ouvido pela PF em São Paulo, após quase 9 meses de tentativas frustradas. Desde junho de 2017, o ex-coronel apresenta atestados de saúde como resposta às intimações da PF para esclarecimentos.

As primeiras tentativas de ouvi-lo foram após a delação de executivos da J&F. Na ocasião, com base nas delações, Lima foi apontado pela Procuradoria Geral da República como um dos intermediários de propina que supostamente seria paga ao presidente Temer.

Também com base nas delações, a PGR solicitou a abertura de inquérito e, em setembro do ano passado, Barroso autorizou a investigação. A partir daquele mês, o delegado Cleyber Malta Lopes, responsável pela apuração da PF, enviou novas intimaçoes para marcar o depoimento, o que não ocorreu até agora por causa dos problemas de saúde alegados por Lima.

Segundo o advogado dele, Cristiano Benzonta, o coronel, que tem 74 anos, já sofreu dois AVCs, um câncer e precisou retirar um rim em dezembro do ano passado. Além disso, Lima precisa tomar medicamentos.

Esclarecimentos

No curso das investigações, a Polícia Federal encontrou mensagens telefônicas trocadas entre o Coronel Lima e uma pessoa chamada Maria Helena, ainda não identificada pelos investigadores.

Em uma das mensagens, datada de 30 de abril de 2017, Lima diz: “Amiga, nessas condições ainda tenho esperança de receber as 'gorjetas' que você não me deu”.

Para a PF, a conversa entre os dois "chama atenção pelo fato de o coronel aparentemente fazer uma cobrança, utilizando o termo 'gorjeta'”. Os investigadores querem que Lima esclareça em interrogatório do que se tratava a conversa.

Também há uma troca de mensagens na mesma data entre Lima e um interlocutor chamado Miguel de Oliveira. Nela, Lima diz: “Recebeu pouco. Nas minhas contas deveria ter recebido R$ 120 mil. Estão 'garfando' o coitado”.

No inquérito, a PF afirma que “a conversa aparentemente remete a um pagamento feito a alguém, que teria sido enganado, pois o valor pago deveria ter sido maior”. Essa é outra troca de mensagens que a PF quer esclarecer no depoimento.

Relação com o presidente

Temer e Lima são amigos há décadas, e mantêm relações próximas até hoje. Um relatório de busca e apreensão da Operação Patmos, da Polícia Federal, diz que Lima é um homem com acesso direto ao presidente.

Nesse mesmo relatório, há a descrição de 12 ligações telefônicas entre Temer e o ex-coronel no período entre abril de 2016 e maio de 2017. Nesse período, Temer já ocupava a Presidência da República.