No Brasil, a escolha dos conselheiros tutelares, responsáveis por assegurar os direitos de crianças e adolescentes conforme o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), ganha um novo e inusitado capítulo este ano. Pela primeira vez na história, o processo eleitoral para preencher as 30,5 mil vagas nos conselhos tutelares de todo o país é disputado fervorosamente por políticos bolsonaristas e ativistas de esquerda, destaca reportagem da CNN. 

Estes conselhos, historicamente ocupados por defensores dos direitos humanos ligados a movimentos sociais e partidos de esquerda, agora se tornaram alvo de uma intensa ofensiva dos bolsonaristas, que buscam eleger conselheiros alinhados a uma pauta conservadora. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) é uma das figuras proeminentes nesse movimento. Em suas redes sociais, ela declarou: "A esquerda vem na última década dominando os Conselhos Tutelares. Vamos fazer nossa parte pelas nossas crianças".

O embate ideológico se intensifica à medida que políticos do PL, como Zambelli, mobilizam suas campanhas para eleger conselheiros comprometidos com questões como a oposição ao casamento gay. Esse esforço não passa despercebido pelos ativistas de esquerda. Erika Hilton (Psol-SP), também deputada federal, alertou em suas redes sociais: "Grupos fundamentalistas e de extrema-direita têm tentado se apropriar dos Conselhos Tutelares. Se um conselheiro tutelar está mais preocupado com sua fé particular do que com sua função pública, isso é perigoso".

Hoje, até as 17 horas, os cidadãos em situação regular na Justiça Eleitoral tiveram a oportunidade de votar nos candidatos aos conselhos tutelares. Para participar, bastava comparecer ao local de votação com CPF, documento original com foto (físico ou digital) e comprovante de residência. A eleição, realizada pela primeira vez em escala nacional com urnas eletrônicas, não apenas define quem protegerá os direitos das crianças e adolescentes, mas também reflete as tensões políticas presentes na sociedade brasileira.