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O número de mortes por Covid-19 em dezembro de 2020 foi quase 65% maior do que o registrado em novembro pelo Ministério da Saúde. Desde a virada entre junho e julho, os registros vinham caindo mês a mês no país, mas, agora, novamente eles aumentam: novembro teve um acumulado de 13.236 óbitos, enquanto dezembro contabilizou 21.829, o maior número desde setembro.
Para o físico Roberto Kraenkel, um dos membros do Observatório Covid-19 BR, que acompanha os dados da pandemia desde o começo, o cenário não é uma surpresa, já que pesquisadores notam tendência de aumento caso desde outubro. O pior cenário, na perspectiva dele, seria continuar na atual escalada nos próximos meses, enquanto a vacinação no Brasil não tem data para chegar à maioria da população.
“A gente precisa chegar bem até o ponto em que vai haver vacinação, mas não é isso que está acontecendo. Em alguma hora, as pessoas foram relaxando o isolamento e relaxaram a tal ponto que (os óbitos) estão subindo de novo. Uma das dificuldades que os governos têm, não só no Brasil, é tomar atitudes rapidamente. Faz dois meses que os casos crescem e, agora, em janeiro, vai ter gente dizendo que é preciso fazer alguma coisa”, pontua.
Kraenkel prefere não falar em segunda onda da pandemia, pois considera que o Brasil nunca saiu de uma primeira, diferentemente de países europeus em que número de casos despencou antes de subir novamente. Ele deixa claro, porém, que vivemos um repique da pandemia. Até agora, o mês com maior registro de óbitos no Brasil foi julho, quando o Ministério da Saúde contabilizou 32.881 mortes.
A infectologista e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raquel Stucchi, destaca que um dos fatores para o aumento de casos entre outubro e novembro e consequente alta de óbitos pode ter sido uma armadilha de percepção. Enquanto as notícias anunciavam que os casos vinham decaindo, pessoas já cansadas do isolamento social podem ter tido a impressão de que a pandemia estava mais amena. “Isso, junto à flexibilização da economia, fez com que pensassem que a pandemia acabou e podiam sair sem cuidado”, ressalta. A coincidência de feriados prolongados e das eleições municipais também podem ter contribuído para o aumento de casos, ela diz.
Outra hipótese levantada pela infectologista é que a nova cepa do coronavírus, que aparenta ser mais transmissível, já estivesse em circulação no Brasil nos últimos meses. Até agora, apenas dois casos de pessoas contaminadas pela variante foram confirmados no país. No Reino Unido, há indícios de que ele estivesse presente desde setembro. A pesqusiadora lembra, ainda, que há chance de os testes para Covid-19 em pacientes contaminados pela cepa darem falso negativo, o que poderia levar a maior subnotificação, caso ela tenha se disseminado pelo Brasil.
Dezembro foi o mês com menos registro de casos desde maio
Os casos de Covid-19 confirmados no país pelo Ministério da Saúde em dezembro caíram, em relação a novembro: foram 411.187 e 800.273, respectivamente. As mortes que foram confirmadas em dezembro, porém, podem ter sido resultado de contaminações anteriores, uma vez que os sintomas da doença levam até 14 dias para se manifestar.
"Os pacientes ficam duas a três semanas internados. Quem morreu adoeceu na segunda quinzena de novembro adiante e morreu, foi em dezembro", completa a infectologista Raquel Stucchi.
O número de contaminações vinha caindo mensalmente desde setembro e, em novembro, tiveram uma alta. Confira os registros acumulados por mês, de acordo com os dados do Ministério da Saúde:
Fevereiro: 2
Março: 5.715
Abril: 79.663
Maio: 429.469
Junho: 887.192
Julho: 1.260.444
Agosto: 1.245.787
Setembro: 902.663
Outubro: 724.670
Novembro: 800.273
Dezembro: 411.187
A reportagem questionou o Ministério da Saúde sobre o que a pasta atribui ao aumento de óbitos e aguarda retorno.
Metodologia
Para chegar ao número de casos e óbitos registrados por mês, subtraiu-se os registros acumulados no último dia de determinado mês pelos acumulados até o último dia do mês seguinte.
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Para o físico Roberto Kraenkel, um dos membros do Observatório Covid-19 BR, que acompanha os dados da pandemia desde o começo, o cenário não é uma surpresa, já que pesquisadores notam tendência de aumento caso desde outubro. O pior cenário, na perspectiva dele, seria continuar na atual escalada nos próximos meses, enquanto a vacinação no Brasil não tem data para chegar à maioria da população.
“A gente precisa chegar bem até o ponto em que vai haver vacinação, mas não é isso que está acontecendo. Em alguma hora, as pessoas foram relaxando o isolamento e relaxaram a tal ponto que (os óbitos) estão subindo de novo. Uma das dificuldades que os governos têm, não só no Brasil, é tomar atitudes rapidamente. Faz dois meses que os casos crescem e, agora, em janeiro, vai ter gente dizendo que é preciso fazer alguma coisa”, pontua.
Kraenkel prefere não falar em segunda onda da pandemia, pois considera que o Brasil nunca saiu de uma primeira, diferentemente de países europeus em que número de casos despencou antes de subir novamente. Ele deixa claro, porém, que vivemos um repique da pandemia. Até agora, o mês com maior registro de óbitos no Brasil foi julho, quando o Ministério da Saúde contabilizou 32.881 mortes.
A infectologista e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Raquel Stucchi, destaca que um dos fatores para o aumento de casos entre outubro e novembro e consequente alta de óbitos pode ter sido uma armadilha de percepção. Enquanto as notícias anunciavam que os casos vinham decaindo, pessoas já cansadas do isolamento social podem ter tido a impressão de que a pandemia estava mais amena. “Isso, junto à flexibilização da economia, fez com que pensassem que a pandemia acabou e podiam sair sem cuidado”, ressalta. A coincidência de feriados prolongados e das eleições municipais também podem ter contribuído para o aumento de casos, ela diz.
Outra hipótese levantada pela infectologista é que a nova cepa do coronavírus, que aparenta ser mais transmissível, já estivesse em circulação no Brasil nos últimos meses. Até agora, apenas dois casos de pessoas contaminadas pela variante foram confirmados no país. No Reino Unido, há indícios de que ele estivesse presente desde setembro. A pesqusiadora lembra, ainda, que há chance de os testes para Covid-19 em pacientes contaminados pela cepa darem falso negativo, o que poderia levar a maior subnotificação, caso ela tenha se disseminado pelo Brasil.
Dezembro foi o mês com menos registro de casos desde maio
Os casos de Covid-19 confirmados no país pelo Ministério da Saúde em dezembro caíram, em relação a novembro: foram 411.187 e 800.273, respectivamente. As mortes que foram confirmadas em dezembro, porém, podem ter sido resultado de contaminações anteriores, uma vez que os sintomas da doença levam até 14 dias para se manifestar.
"Os pacientes ficam duas a três semanas internados. Quem morreu adoeceu na segunda quinzena de novembro adiante e morreu, foi em dezembro", completa a infectologista Raquel Stucchi.
O número de contaminações vinha caindo mensalmente desde setembro e, em novembro, tiveram uma alta. Confira os registros acumulados por mês, de acordo com os dados do Ministério da Saúde:
Fevereiro: 2
Março: 5.715
Abril: 79.663
Maio: 429.469
Junho: 887.192
Julho: 1.260.444
Agosto: 1.245.787
Setembro: 902.663
Outubro: 724.670
Novembro: 800.273
Dezembro: 411.187
A reportagem questionou o Ministério da Saúde sobre o que a pasta atribui ao aumento de óbitos e aguarda retorno.
Metodologia
Para chegar ao número de casos e óbitos registrados por mês, subtraiu-se os registros acumulados no último dia de determinado mês pelos acumulados até o último dia do mês seguinte.