A ação violenta da polícia no Recife no último sábado, durante manifestação pacifica contra o Governo Bolsonaro , em comparação com ação nos atos em favor do governo, no final de semana anterior, causou certa preocupação em relação às eleições de 2022. Teme-se que o bolsonarismo enraizado nas polícias e a insubordinação contra governadores de oposição ao presidente possa provocar mais conflitos no atual contexto polarizado.

A preocupação de especialistas e de governadores é que a insatisfação e politização das tropas provoque ainda mais conflitos à medida que as eleições se aproximarem, com mais manifestações contra e a favor do governo.

"As polícias militares são hoje um barril de pólvora", diz Renato Sérgio de Lima, diretor-presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública e professor do Departamento de Gestão Pública da FGV-EAESP.  "Os policiais estão à flor da pele. Eles gostariam de estar reivindicando melhores salários, mas para fazer isso teriam que bater no Bolsonaro, porque os salários estão congelados por ação do governo federal", diz Lima.

Uma pesquisa publicada pelo Fórum em 2020 mostrou que 35% dos oficiais e 41% dos praças de todo o Brasil interagem em redes sociais bolsonaristas. Em geral, se posicionam de forma favorável ao presidente, que alimenta conflitos com os governadores, principalmente depois do início da pandemia.

"Essa contradição só aumenta a tensão na tropa", afirma Lima.

O caso de Recife no último sábado, 29, não foi o único do tipo.  O Governador Paulo Câmara (PSB) deve enfrentar um desafio pelo qual seus colegas de São Paulo, João Doria (PSDB), do Ceará, Camilo Santana (PT), e da Bahia, Rui Costa (PT)  – todos de oposição ao presidente da República - já passaram.

Em maio de 2020, atos pró e contra Bolsonaro convocados para o mesmo dia em São Paulo terminaram com conflito entre a PM e manifestantes contra o governo federal. Antes do último final de semana, Doria deu ordem expressa aos comandantes das polícias para que não houvesse agressão aos manifestantes. Funcionou em São Paulo desta vez.

- Com informações e análises da colunista Malu Gaspar, de O Globo.