O professor de História do Brasil Colonial da Unirio, Thiago Krause, deu uma verdadeira aula para o vice-presidente da República, General Hamilton Mourão. O militar fez um post neste sábado (28) para comemorar o aniversário da criação das capitanias hereditárias no Brasil. 


Na mesma rede social, o general havia dito: "Na data de hoje, em 1532, o Rei D. João III criava as #capitanias no #Brasil. Descoberto pela mais avançada #tecnologia da época, o País nascia pelo #empreendedorismo que o faria um dos maiores do mundo. É hora de resgatar o melhor de nossas origens".

"Estou acostumado a ler 'bad takes' históricos por parte do bolsonarismo, mas esse é um dos mais inovadores que eu já vi! Depois do choque inicial, vamos transformar essa imbecilidade em 'teachable moment'", afirmou o professor. 

"'Mais avançada tecnologia da época' – no século XIX, a historiografia nacionalista liberal portuguesa inventou a Escola de Sagres, uma academia científica que teria produzido as inovações que explicariam o pioneirismo português na expansão. O problema é que ela nunca existiu!", complementou.

De acordo com o professor, "os historiadores oitocentistas só queriam inserir Portugal no rol das nações modernas, enfatizando o único argumento que os lusos tinham pra reivindicarem um lugar de destaque na história mundial: a expansão. Isso foi elevado ao paroxismo pelo salazarismo e copiado aqui".

"Há alguma discussão recente sobre a ciência ibérica (ainda que mais hispânica) e debates sobre quão inovadores foram os navegadores portugueses, mas é certo que muito foi tomado dos árabes e grande parte do restante foi um conhecimento prático", acrescentou.
 
Eu tou acostumado a ler bad takes históricos por parte do bolsonarismo, mas esse é um dos mais inovadores que eu já vi! Depois do choque inicial, vamos transformar essa imbecilidade em teachable moment. https://twitter.com/generalmourao/status/1178082467288403969 …

General Hamilton Mourão 
✔@GeneralMourao
 
Na data de hoje, em 1532, o Rei D. João III criava as #capitanias no #Brasil. Descoberto pela mais avançada #tecnologia da época, o País nascia pelo #empreendedorismo que o faria um dos maiores do mundo. É hora de resgatar o melhor de nossas origens.

Thiago Krause@ThiagoKrause2
 
“Mais avançada tecnologia da época” - no século XIX, a historiografia nacionalista liberal portuguesa inventou a Escola de Sagres, uma academia científica que teria produzido as inovações que explicariam o pioneirismo português na expansão. O problema é que ela nunca existiu!
 
Thiago Krause@ThiagoKrause2
 · 17h
 
Respondendo a @ThiagoKrause2


Os historiadores oitocentistas só queriam inserir Portugal no rol das nações modernas, enfatizando o único argumento que os lusos tinham pra reivindicarem um lugar de destaque a história mundial: a expansão. Isso foi elevado ao paroxismo pelo salazarismo e copiado aqui.


Thiago Krause@ThiagoKrause2
 
Há alguma discussão recente sobre a ciência ibérica (ainda que mais hispânica) e debates sobre quão inovadores foram os navegadores portugueses, mas é certo que muito foi tomado dos árabes e grande parte do restante foi um conhecimento prático. https://podcasts.apple.com/br/podcast/kingdom-empire-plus-ultra-conversations-on-history/id1123198615?i=1000379927248 …


‎Kingdom, Empire and Plus Ultra: conversations on the history of Portugal and Spain, 1415-1898:...
‎Programa: Kingdom, Empire and Plus Ultra: conversations on the history of Portugal and Spain, 1415-1898, ep. Ep6: Onesimo T. Almeida - Portugal and the Dawn of Modernity, 1419-1620. - 12/01/2017

podcasts.apple.com

 
Thiago Krause@ThiagoKrause2
 · 17h
 
Respondendo a @ThiagoKrause2
Mas o esquisito mesmo é “o país nascia pelo empreendedorismo” - WTF? As capitanias eram um expediente utilizado pela Coroa desde meados do século XIV nas ilhas atlânticas, em que eram concedidos direitos senhoriais em troca de investimento privado. Eram mais arcaicas que modernas


Thiago Krause@ThiagoKrause2
 
Em termos econômicos, foram um fracasso, menos por descaso dos donatários como geralmente se diz e mais por causa da resistência indígena às tentativas iniciais de escravização. O sucesso de SP e PE teve mais a ver, portanto, com o estabelecimento de alianças com etnias indígenas


Thiago Krause@ThiagoKrause2
 · 17h
 
Respondendo a @ThiagoKrause2
Elas ajudaram a fortalecer a reivindicação portuguesa ao território, mas a conquista efetiva se consolidou com a ação assassina dos governadores-gerais nomeados pela Coroa a partir de 1549, fundamentais também para impulsionar a indústria açucareira.


Thiago Krause@ThiagoKrause2
 
O pior, evidentemente, é falar no “melhor das nossas origens” - a conquista foi violenta, escravocrata e etnocida. Não deixa de ser coerente, porém, que esse governo ache isso bom, né?
Enfim, Mourão, vem fazer meu curso de História do Brasil I e para de tuitar besteira.