O presidente do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), Carlos Melles (foto em destaque), é acusado de assédio moral contra funcionários do órgão. A ouvidoria do Sebrae afirmou ao Metrópoles que apura as denúncias.


Melles foi alvo de denúncias a poucos dias da eleição para a presidência do Conselho Deliberativo da entidade, que ocorre nesta terça-feira (29/11). Candidato à reeleição, ele aparece em vídeo proferindo xingamentos, ofensas e intimidações contra servidores durante reuniões do Sebrae. Melles nega as acusações e afirma que as imagens foram “editadas” e “descontextualizadas”.

Nas gravações, Melles desrespeita funcionários – em sua maioria, mulheres. Ele chama as supostas vítimas de “bicuda”, “tagarela”, “mole” e “teimosa”, dentre outros adjetivos. Em uma das situações, o presidente do Sebrae classifica uma profissional de “advogada mais ou menos”.


As reuniões ocorrem por meio de videochamadas em aplicativos. Melles sabia que estava sendo filmado. Inclusive, chegou a ser alertado por uma das pessoas, conforme as gravações.


Em nota ao Metrópoles, Melles chama as acusações de “pseudodenúncias” e diz que elas “não têm qualquer amparo na realidade”. “As notas e os vídeos apócrifos foram feitos de forma covarde, uma vez que os autores não assumem de público suas acusações. O material traz trechos minuciosamente editados, totalmente descontextualizados, para construir uma narrativa baseada na mentira”, afirma.

O ex-deputado federal argumenta que os “momentos de pressão” vividos ao longo dos quatros em que está à frente da instituição “não permitem insinuações fraudulentas”. A entidade teve receita de R$ 5 bilhões em 2022.


“Das mais de centenas reuniões on-line que conduzi para permitir a tomada de decisão em situações de crise, os trechos editados não refletem a minha rotina; ao contrário”, diz.
Questionada pela reportagem do Metrópoles, a Ouvidoria do Sebrae informou ter instaurado, no dia 21 de novembro deste ano, procedimento interno para “conhecer, de modo aprofundado e contextualizado, os assuntos ali narrados”. O órgão frisou ter tomado conhecimento da denúncia dois dias antes, em 19 de novembro.

As acusações de assédio


As imagens, compartilhadas entre funcionários do Sebrae e publicadas pelo site Capital Digital, mostram trechos de reuniões da instituição. “Eu te perguntei alguma coisa? Cê fala pra cacete”, dispara Melles, em um dos registros, ao se dirigir a uma das participantes.

Em alguns momentos, ele define pessoas que trabalham no Sebrae como “mole”, “bicuda”, “advogada mais ou menos”, “tagarela”, “teimosa”, entre outros insultos.

 
“Eu quero pegar o gerente de inovação, ele vai ver se vai ter mais um projeto aprovado”, ressalta o titular da entidade, em outra reunião filmada. Um dos participantes pede para o presidente se acalmar, e Melles responde: “Não tenho calma. Não tem responsabilidade”.


Uma das participantes de uma reunião rebate o presidente e diz ter sido desrespeitada.

“O senhor está falando com uma profissional aqui. Agora o senhor veio e me desrespeitou, desrespeita todo mundo aqui na mesa”, pontua a funcionária. Ela ainda relembra que eles estão sendo gravados:


Em diferentes ocasiões, Melles se refere a uma outra funcionária.

“Para com isso, puta que pariu. Não dê palpite, não. Para pôr defeito, chega a menina ali”, diz o gestor, em alusão à mulher que pediu respeito.


O presidente ainda diz que a funcionária “nunca vai ser nada”, que fica “chato” quando ela “não fala pra mim onde ela foi, onde ela vai” e que ela “ainda vai precisar dele”.

Em outra situação, Melles diz querer, “primeiro, mulher, jovem, bonita”. No vídeo, não está claro a que o presidente do Sebrae se refere. Procurado, ele não esclareceu a fala.