O Brasil registrou nesta quarta-feira (17) 3.149 mortos pela covid-19 nas últimas 24 horas e segue batendo recordes diários em número de óbitos oficialmente notificados ao Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o Conass. Com o acréscimo, a média móvel diária de mortes pela infecção, calculada nos últimos sete dias, passou , 2.170 pessoas por dia – três pessoas a cada dois minutos. O contágio e as mortes pelo coronavírus em território brasileiro seguem em aceleração. Este é o pior momento da pandemia no Brasil desde o início do surto, em março de 2020. Ao todo, o Brasil conta desde o início da pandemia 284.775 mortes por Covid-19.

 
A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) define o cenário como “o maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil”. Em boletim extraordinário divulgado na noite de ontem, a instituição chama a atenção para a “situação extremamente crítica em todo o país”. Até a conclusão do relatório, apenas dois estados brasileiros não estavam em colapso por falta de leitos de UTI, Rio de Janeiro e Roraima. A condição é declarada quando mais de 85% das unidades estão ocupadas.

O Brasil também bate recorde hoje de novos casos no período equivalente a um dia. O Conass aponta 99.634 novas infecções. O Brasil segue como epicentro da pandemia no mundo desde o dia 9 de março, quando passou a registrar mais mortes e casos do que os Estados Unidos, mesmo com capacidade de testagem inferior. Desde o dia 21 de janeiro o Brasil contabiliza mais de mil mortos por dia, em média.

Pior crise da história


O mapeamento da Fiocruz revela os estados com as piores condições, sendo que em todos eles pessoas morrem em suas casas sem atendimento hospitalar. São eles o Rio Grande do Sul, com 100% das UTIs ocupadas, Santa Catarina, 99%, Goiás, 97%, Distrito Federal, 97%, Paraná, 96%, Pernambuco, 96%, Rio Grande do Norte, 96%, Tocantins, 96%, Mato Grosso, 94%, Acre, 94%, Ceará, 94%, e Mato Grosso do Sul, 93%.


A Fiocruz é categórica em orientar por medidas rígidas de isolamento social. O Brasil enfrenta um cenário de colapso ao mesmo tempo em que vê grande resistência por parte da população em seguir os protocolos da ciência para mitigar os efeitos da crise. O principal adversário da ciência e da saúde pública no Brasil é o próprio presidente Jair Bolsonaro. Desde o início da pandemia ele desdenhou do vírus, estimulou e promoveu aglomerações e até mesmo atacou o uso de máscaras e as vacinas.

“A fim de evitar que o número de casos e mortes se alastrem ainda mais pelo país, assim como diminuir as taxas de ocupação de leitos, os pesquisadores defendem a adoção rigorosa de ações de prevenção e controle, como o maior rigor nas medidas de restrição às atividades não essenciais. Eles enfatizam também a necessidade de ampliação das medidas de distanciamento físico e social, o uso de máscaras em larga escala e a aceleração da vacinação”, afirma a Fiocruz.

Vacinas


No quesito vacinação, o Brasil avança com lentidão. O governo Bolsonaro, após pressão da sociedade e do ressurgimento da figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva apontando para a necessidade de respeitar a ciência, mudou ligeiramente de postura. O governo, repentinamente, passou a defender a vacinação. Contratos foram assinados às pressas, enquanto o bolsonarismo tenta se desvincular do histórico de ataques e divulgação de mentiras sobre vacinas.
 
Pouco mais de 20 milhões de doses contra a covid já foram distribuídas pelo governo do Brasil aos municípios, sendo 16 milhões de doses da CoronaVac. Destas, 12 milhões já foram aplicadas, ou 4,2% da população tendo recebido ao menos uma dose. Bolsonaro afirmou em diferentes ocasiões que não compraria a “vacina chinesa do João Doria”, em referência ao governador tucano de São Paulo.

Nesta semana o Butantan entrega mais 5 milhões de doses, e são esperadas quantidade similar de doses da vacina de Oxford/AstraZeneca, que conta com apoio da Fiocruz para produção, envasamento e distribuição local.

Sem comando central para lidar com a pandemia, o esforço maior fica para os governadores. Os da região Nordeste, por exemplo, anunciam contratos para a aquisição de de 37 milhões de doses da russa Sputnik V (“vê”, de vacina).

Exemplo


No sentido oposto da regra brasileira está a cidade de Araraquara, no interior de São Paulo. No boletim da Fiocruz, a entidade destaca a boa condução da pandemia na cidade administrada pelo petista Edinho Silva. Com um “lockdown de verdade”, Araraquara reduziu pela metade o contágio em menos de um mês.

“O município de Araraquara, em São Paulo, é apresentado no Boletim como um dos exemplos atuais de como medidas de restrição de atividades não essenciais evitam o colapso ou o prolongamento da situação crítica nos serviços e sistemas de saúde. Com as medidas adotadas pelo município, Araraquara conseguiu reduzir a transmissão de casos e óbitos, protegendo a vida e saúde da população”, afirma a Fiocruz.