O Brasil é o maior consumidor de agrotóxicos do mundo em números absolutos. Gasta R$ 10 bilhões por ano com eles. Mas perde para Japão, União Europeia e Estados Unidos quando são levadas em conta a quantidade de alimento produzida e a área plantada. Nesses casos, a utilização de pesticidas é proporcionalmente menor. A conta, porém, pode ser olhada por outro lado e, mais uma vez, confirma a supremacia brasileira no consumo de agrotóxicos. Segundo alguns técnicos, o cálculo dilui o volume ao incluir regiões de pasto como áreas cultivadas, mas elas são improdutivas.

Uma verdade incontestável é que, aqui, o consumo é crescente. Entre 2000 e 2010, cresceu em 100% o uso de pesticidas no planeta, enquanto no Brasil ele aumentou em quase 200%. Em 2013, foram 495,7 mil toneladas de pesticidas vendidos, enquanto em 2017 o número chegou a 539,9 mil toneladas. Cerca de 20% de todo agrotóxico comercializado no mundo é consumido no Brasil

Das cerca de 15 mil fórmulas para 400 agrotóxicos diferentes que existem, cerca de 8 mil são licenciadas no Brasil. E a fila não para de andar. Só este ano, foi liberado o uso de 382 novos agrotóxicos no país – dado divulgado na quinta (03/10) pelo Ministério da Agricultura. Somados aos 451 do ano passado, em menos de um ano são mais de 800 novas formulações a serem aspergidas nas plantações brasileiras, em um processo acelerado.

A própria Anvisa assume que está esvaziando a fila dos produtos, mas argumenta que o sistema ficou mais eficiente e o objetivo é modernizar os pesticidas. Em tese, ao aumentar a oferta, ela agora poderia retirar alguns agrotóxicos antigos do mercado, deixando novas alternativas para o mercado.

O problema é que cerca de 30% dos agrotóxicos liberados no Brasil são banidos na União Europeia. Dos 96 ingredientes ativos dos pesticidas liberados este ano, 28 estão neste caso, assim como 36 na Austrália, 30 na Índia e 18 no Canadá, segundo levantamento da Folha de São Paulo.  Quem está mais perto do Brasil no “liberou geral” dos agrotóxicos são os EUA, que usam 93 deles. Aliás, desde 2008, Brasil e EUA se revezam na liderança em consumo no mundo.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) calcula que o uso de agrotóxicos e substâncias químicas nocivas cause cerca de 193 mil mortes por ano, a maior parte delas por contaminações durante a aplicação e dispersão pela água e pelo ar. É sendo comum que, para os consumidores, o risco é baixo. Mas não deixa de ser preocupante (e desagradável) imaginar que, somando os resíduos que estão presentes nos alimentos e na água, nós consumimos hoje, em média, 7,6 litros de agrotóxicos por pessoa. Uma quantidade que aumenta rapidamente, indicam os dados da ong Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida que, em 2011, calculava que cada brasileiro ‘bebia’ cerca de 5,2 litros de agrotóxico por ano.

Em Minas, como não poderia deixar de ser, o consumo também vem aumentando a olhos vistos: passou de 18 mil toneladas em 2007 para 139 mil toneladas em 2012, um aumento de 700%, segundo o Fórum Mineiro de Combate ao Uso de Agrotóxicos.