O Brasil corre o risco de ter excesso de professores nos próximos anos.
A conclusão é do pesquisador Ricardo Paes de Barros, economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper, que apresentou um diagnóstico detalhado da educação nas 27 unidades da federação do país nesta quinta-feira (5).
O estudo coordenado pelo especialista indica que o país formou 1,148 milhão de docentes para o ensino básico entre 2013 e 2017. O número equivale à metade dos 2,226 milhões professores em atividade no Brasil atualmente, dos quais 1,751 milhão atuam na rede pública, segundo estimativa de Barros.
Além disso, de acordo com projeções do pesquisador, outro 1,5 milhão de docentes sairá dos cursos de Pedagogia e licenciaturas nos próximos cinco anos.
Ele ressaltou ainda que 21% dos concluintes de cursos superiores são estudantes de licenciaturas, carreiras como Matemática, Física e Português que preparam para o magistério.
"Somos um país de professores", diz PB, como o economista é conhecido.
O esforço para aumentar o número de docentes no país ocorreu em consequência da necessidade de ampliar a inclusão escolar, que demorou a atingir a universalização no ensino fundamental e ainda não conseguiu colocar todos os jovens no ensino médio.
O problema é que o ritmo de formação de professores parece incompatível com a forte tendência de queda da natalidade nas últimas décadas que reduzirá o número de alunos em idade escolar, na maior parte dos estados brasileiros.
Em São Paulo, por exemplo, a projeção de PB indica uma queda das matrículas no ensino básico de 7,13 milhões, em 2018, para 6,44 milhões em 2050.
Segundo o pesquisador, poucas unidades da federação ainda não passam pelo início desse processo. Um caso citado por ele é Roraima, onde a população, inclusive a infantil, cresce em consequência de fluxos migratórios.
A mudança demográfica em curso no país tende a levar a uma queda na demanda por professores nos próximos anos.
"Nós pedimos para as universidades para formar professores ao longo dos últimos 30 anos e eles nos atenderam. Mas ninguém avisou a elas que parassem", afirmou Paes de Barros.
"Vocês terão que empregá-los", disse o pesquisador aos secretários estaduais de Educação em um evento no Insper, onde o estudo foi apresentado, nesta manhã.
Uma parte do provável problema de oferta excessiva de mão de obra no magistério será resolvida em consequência das aposentadorias dos professores que atuam hoje em salas de aula nos próximos anos.
Mas, segundo PB, essa solução terá efeito limitado, já que a fatia de docentes com mais de 50 anos equivale a 22% do total no Brasil como um todo.
A pesquisa feita pelo economista e sua equipe busca não só mostrar um diagnóstico de problemas como esse do ritmo de formação de professores em cada um dos estados como apontar opções de caminhos para sete dilemas educacionais principais.
Além de equacionar o problema futuro de oferta excessiva de mão de obra docente, um desafio dos estados é aumentar a atratividade da carreira para que mais alunos com bom nível de aprendizagem se interessem pelo magistério nos próximos anos.
Como revelou reportagem publicada nesta quinta (5) pela Folha, também baseada no estudo do IAS, os alunos de Pedagogia e licenciaturas têm desempenho acadêmico pior do que a média dos estudantes de todos os cursos universitários em todos os estados do país.
Na apresentação para os secretários de Educação, PB disse que uma boa solução de realocação dos recursos que poderão ser poupados com a queda no número de matrículas escolares é investir em formas de aumentar a atratividade do magistério.
Mas, também como mostra a pesquisa, isso provavelmente exigirá uma escolha política difícil. Para economizar dinheiro na esteira da transição demográfica, os estados e municípios poderão ter de tomar decisões como reduzir o número de turmas, trabalhar com classes mais cheias e fechar escolas.
Isso pode gerar resistência tanto das famílias quanto do enorme contingente de professores que o país tem formado.
Para o secretário de educação do Pernambuco, Fred Amancio, a expansão de escolas de horário integral é outro caminho que os estados podem seguir. Segundo ele, além de contribuir para uma melhor aprendizagem, essa medida ajudaria na absorção da mão de obra docente.