'MACHISMO ESTRUTURAL'

 


A Associação Nacional da Advocacia Criminal (Anacrim) emitiu uma nota de pesar pelo feminicídio praticado por Paulo José Arronenzi contra sua ex-esposa, a juíza Viviane Vieira do Amaral. Viviane foi morta a facadas nessa quinta-feira (24), véspera de Natal, na frente das três filhas pequenas (uma de nove e duas gêmeas de sete anos), no Rio de Janeiro. 


Segundo a nota da Anacrim, “comportamentos feminicidas como esse, em grande medida, são alimentados pelos ‘comandos que vêm de cima’”. 


A nota critica, sem citar nomes, falas machistas proferidas por autoridades, como as do presidente Jair Bolsonaro, que disse ter tido quatro filhos homens e, “ao fraquejar, teve uma mulher”, e, ainda, que a deputada Maria do Rosário “não merece ser estuprada” por ser “muito feia”.

No documento, também foi citada a declaração do juiz Rodrigo de Azevedo Costa, que disse a uma vítima de agressão durante uma audiência que “não estava nem aí para a Lei Maria da Penha”, porque “ninguém agride ninguém de graça”.

De acordo com os membros da Anacrim, “os discursos misóginos somados ao machismo estrutural que historicamente permeia a nossa sociedade, produzem distorções que perpetuam a cultura da violência contra a mulher, fomentando a repetição de atos covardes como o de quinta.

Veja abaixo a íntegra da nota de pesar da Anacrim


Nesta data carregada do simbolismo de nascimento, a ANACRIM - Associação Nacional da Advocacia Criminal vem manifestar o seu mais profundo pesar relativamente ao brutal e covarde feminicídio da magistrada Viviane Vieira do Amaral.

Como largamente noticiado, na noite de ontem (24/12/20), véspera de Natal, a juíza foi assassinada, dentro de casa e na presença das filhas menores, pelo seu ex-marido, que já se encontra preso.

PAREM DE MATAR AS MULHERES, BASTA !!


Comportamentos feminicidas como esse, em grande medida, são alimentados pelos “comandos que vêm de cima”.

Quando um magistrado afirma, em audiência, “que não está nem aí para a Lei Maria da Penha”, quando o próprio presidente da república manifesta que “teve quatro filhos homens e, ao FRAQUEJAR, teve uma mulher”, ou mesmo que “determinada mulher não merece sequer ser estuprada porque é muito feia”, enfim, quando pessoas que ocupam altos postos emitem opiniões com tamanho grau de perversidade, isso se apresenta como uma espécie de mensagem de naturalização de condutas para outros milhares de covardes, que estão nos andares de baixo.


Os discursos misóginos somados ao machismo estrutural que historicamente permeia a nossa sociedade, produzem distorções que perpetuam a cultura da violência contra a mulher, fomentando a repetição de atos covardes como o de ontem.


Tomados de consternação os membros e a diretoria da ANACRIM repudiam de forma veemente o covarde feminicídio, externando as nossas mais sinceras condolências aos familiares, amigos e colegas da juíza Viviane Vieira do Amaral, votos que estendemos, de igual modo, a toda magistratura nacional, a qual certamente se encontra enlutada diante de tamanha violência.


Rio de Janeiro, 25 de dezembro de 2020.


James Walker Júnior

ANACRIM

Presidente


Bruno de Melo Freitas

ANACRIM MG

Presidente