Todos os dias, as notícias revelam o que não queremos ver.


Estão matando pessoas pretas. Aqui no Brasil e no resto do mundo.


Não basta relegar a população preta a mediocridade pagando salários mais baixos, impedindo o acesso ao estudo digno.


Não basta achar que ainda devemos nos manter em “senzalas”, nos morros e favelas ao fundo de suas belas casas.


Não basta vermos nossas mulheres como as que mais morrem pelas mãos da violência doméstica.


Não basta termos que sobreviver em subempregos ou até mesmo à falta de emprego que aumenta a cada dia nossa desesperança.


Não basta nos ver como as maiores vítimas da violência sendo protagonistas de uma sociedade que subverte o conceito de igualdade favorecendo um só lado da moeda.

Agora somos aniquilados.


Simples assim.


Não importa de onde viemos e pra onde vamos.


Não importa se somos crianças. Não importa se somos Ágatha, Kethellen ou Jenifer. Ou se somos Kauan, Kauã, Kauê.

 

Não importa se somos jovens e temos o mundo pela frente. Não importa se somos Rodrigo ou João Vitor.


Não importa se somos brasileiros ou gringos. A mão que mata João Pedro é a mão que mata George Floyd.


Não importa se a mão mata o bandido, o contador, a médica, o jogador de futebol ou o menino que sonha ser advogado.


E o pior, algumas vezes, a mão que atira é a mesma do corpo que recebe o tiro. E esse desequilíbrio de poder, nós nunca vamos entender.

 

Ainda somos todos escravizados.


Sucumbimos à um Estado que nos rebaixa em todos os aspectos. Somos escravizados pelo sistema que nos oprime e somos reféns do racismo que nos sufoca, nos deprime e nos mata.


Mas somos mais que importantes. Somos pessoas. Temos direito a dignidade da pessoa humana. Temos vida.

Nossas vidas e nossa cor importam.


Mas sempre teremos forças, sempre seremos luta e resistencia. Seja aqui ou em qualquer lugar do mundo.

Não importa, vamos lutar contra o racismo e pela verdadeira abolição.


Nunca nos calaremos e nunca iremos nos acovardar. Ocuparemos nossos espaços de poder e buscaremos a igualdade, fraternidade e justiça, custe o custar.

Sim, todos os dias vamos mostrar o cartao vermelho para o racismo expulsando as suas estruturas dentro da sociedade e sobretudo, dentro das instituiçoes.

 

Gilberto Silva - Advogado - Presidente da Comissão da Igualdade Racial da OAB-MG*