A capital do Equador surpreende com uma mistura de arquitetura colonial e tradições indígenas, além de paisagens naturais exuberantes a apenas poucos quilômetros do centro histórico. Quito proporciona uma viagem de descobertas pelo o que a América do Sul tem de melhor e mais fascinante.
Quito tem particularidades que se encontram em poucos lugares do mundo: além de estar a 2.850 metros acima do nível do mar, a cidade é cercada por vários vulcões e picos nevados dos Andes que vão além dos 5.000 metros de altitude, mesmo tão próximos da Linha do Equador. Mas seus contrastes vão além da geografia.
A cidade foi fundada em 1534 pelo conquistador espanhol Sebastián de Benalcázar, mas sua história começou muito antes, com os vários povos pré-colombianos que já habitaram o território. Para eles, a atual Quito sempre teve uma atmosfera mística e de energia positiva, por estar mais próxima ao Sol e ter a forte presença dos quatro elementos da natureza (fogo, terra, ar e água).
Com tudo isso, Quito chegou a ser até mesmo um centro religioso do Império Inca, cerca de 50 anos antes da chegada dos espanhóis. Essa mistura entre culturas ancestrais e europeias é visível em vários aspectos da cidade – da arquitetura à gastronomia. Do turismo religioso ao de aventura, são as várias facetas de Quito que têm atraído pessoas do mundo inteiro, principalmente norte-americanos e europeus.
Centro histórico
Quito foi a primeira cidade no mundo a ser reconhecida como Patrimônio da Humanidade pela UNESCO, isso ainda na década de 1970. Seu centro histórico é o mais bem preservado de toda a América Latina. Além de belos sobrados coloniais multicoloridos dos séculos XVII e XVIII, há um vasto patrimônio religioso.
Comece seu passeio pela ampla e arborizada Plaza Grande, sempre bem movimentada, onde se concentram os quatro poderes: Palácio Presidencial, Palácio Arcebispal, Prefeitura e Catedral. Sob as imponentes construções do período colonial, podem ser vistas ruínas incas, com suas características pedras encaixadas.
Sendo um dos templos mais antigos da América do Sul, vale visitar a Catedral de Quito, com uma grande coleção de obras de arte. Uma dica é subir até suas cúpulas, por meio de um labirinto de escadarias estreitas. A vista para a Plaza Grande é imperdível.
Joia do barroco, o interior da Igreja de la Compañía é deslumbrante, coberto de folhas de ouro do chão ao teto (há visitas guiadas). Já a fachada foi construída com pedras vulcânicas. Em frente à Plaza de San Francisco, fica o Convento e Igreja de San Francisco, um dos maiores e mais importantes complexos coloniais do continente, com 40 mil m². Também vale visitar o Monastério de Santa Catalina de Siena, com um museu de arte religiosa, e a Basílica.
Para uma vista panorâmica não só do centro histórico, mas de toda a cidade, siga até o Mirante do Panecillo, uma colina onde repousa a estátua da Virgem de Quito. Com mais de 40 metros de altura, o monumento é maior que o Cristo Redentor.
Culturas e tradições
O centro histórico de Quito é um lugar para conhecer a pé, caminhando entre suas ruas estreitas. Prepare as pernas para enfrentar algumas ladeiras, mas o esforço valerá a pena. O passeio reserva muitas surpresas, como lojas de todos os tipos de produtos, restaurantes únicos, cafés e chocolaterias descoladas e muitos centros culturais.
Um dos principais é a Casa del Alabado, museu de arte pré-colombiana. Seu acervo reúne incríveis peças indígenas encontradas por todo o território do Equador. Não longe dali, o Mercado de San Francisco, aberto desde 1893, é onde você pode descobrir ingredientes locais e degustar receitas típicas. Uma tradição ancestral encontrada ali é a “limpia”, um ritual feito com plantas medicinais para tirar as más energias e até combater o estresse.
Na Plaza de San Francisco, a Casa Montecristi comercializa os famosos chapéus Panamá – que, apesar do nome, são originários do Equador. Feitos à mão com uma técnica indígena ancestral de palha trançada, podem chegar a valer até US$ 20 mil. Outro produto equatoriano cada vez mais valorizado é o chocolate.
Pesquisas recentes afirmam que o cacau é originário da região amazônica do Equador, e Quito tem se afirmado como um destino perfeito para os chocólatras. Há muitos estabelecimentos especializados em chocolates produzidos no país, orgânicos e de alta qualidade. Um bom exemplo é a República del Cacao, que vende chocolates deliciosos, bebidas quentes especiais e doces confeitados.
Viagem de experiências e sabores
No centro de Quito, não é difícil encontrar casarões antigos que abrigam empreendimentos luxuosos, bem conceituados e cheios de personalidade. É o caso de hotéis boutique como o Hotel Carlota e o Illa Experience Hotel. Este último, no agradável bairro de San Marcos, oferece ainda um dos mais refinados restaurantes da cidade, o Nuema, de culinária equatoriana com toque contemporâneo.
Áreas que há alguns anos eram evitadas por moradores e turistas foram revitalizadas e hoje fervilham com novos estabelecimentos e vida noturna. É o caso de La Ronda, uma rua boêmia e repleta de ateliers, lojas de produtos artesanais, cafés, restaurantes e sorveterias, como a Dulce Placer.
Cheia de sabores e temperos, a gastronomia em Quito usa batatas, plátanos (espécie de banana-da-terra), milho, arroz, queijo fresco e abacate, além de carne de porco e, para os mais aventureiros, “cuy” (porquinho-da-índia). Não deixe de provar o locro de papa (uma sopa encorpada de batata com queijo), o ceviche, o encocado (peixe ao molho de coco), os helados de paila (sorvetes feitos com um método tradicional) e a chicha (bebida fermentada de milho).
Para embarcar na gastronomia de Quito, o Altamira Restaurante oferece pratos típicos e aula de culinária (necessário agendamento), na qual você vai cozinhar um menu completo junto ao chef e depois comer o que fez. Já o restaurante Quitu homenageia a culinária típica de todo o Equador com técnicas modernas, através de uma verdadeira viagem gastronômica. Para os fãs da cerveja, vale conferir o Santa Rosa Histórico, restaurante e brewpub com menu harmonizado.
Latitude zero
Colocar um pé no hemisfério norte e o outro no hemisfério sul ao mesmo tempo. A apenas 30 km ao norte do centro histórico de Quito, está a Linha do Equador. O centro do mundo só foi estabelecido oficialmente na década de 1730, por uma expedição francesa no que viria a ser o Equador. Porém, povos pré-colombianos que habitaram o local, como os quitu-cara, já sabiam disso há centenas anos.
Em homenagem à missão francesa, foi erguida a Ciudad Mitad del Mundo, junto à Linha do Equador. Mais do que um monumento, é um complexo turístico que imita uma cidade colonial, com várias lojas de souvenires, restaurantes e cafés, além de museus e lugares perfeitos para tirar fotos, como a representação da Linha do Equador em uma faixa amarela no chão. É a atração mais visitada do país.
Apesar de ser um lugar muito significativo, cálculos mais recentes feitos com GPS indicam que a real latitude zero do mundo está a cerca de 200 metros ao norte – onde se encontra, bem ao lado da Mitad del Mundo, o Museu Inti-Ñan. Funciona como um museu etnográfico, mas também abriga uma série de experiências interativas e bem divertidas que só podem ser feitas na exata Linha do Equador. Equilibre um ovo sobre um prego, veja como a água que escorre pelo ralo se comporta nos dois hemisférios e vivencie outras curiosidades.
Terra de vulcões
Sobre os Andes, a cidade de Quito foi estabelecida em um vale de quase 300 km de comprimento, ladeado pela cordilheira: a chamada Avenida dos Vulcões. Há dezenas de vulcões pelo país – e muitos deles no entorno de Quito. Para admirá-los de um ponto privilegiado, vá ao teleférico da cidade.
O passeio é imperdível. Dentro de uma cabine fechada, você vai subir até os 4.050 metros de altitude em um trajeto que leva 18 minutos. Lá em cima, você terá acesso a um panorama incrível de Quito, dos Andes e dos vulcões no horizonte, como o Cotopaxi, o Chimborazo, o Antisana, o Ilinizas e o Cayambe. Todos esses têm altitudes superiores aos 5.000 metros e são considerados ativos.
A estação superior do teleférico reúne vários mirantes, cafeteria, banheiros, posto médico e até um balanço virado para o precipício à frente. Há também o início de uma trilha de 4 km que leva a um dos picos do vulcão Pichincha. Se quiser se aventurar, vá preparado – lembre-se que a altitude é grande e, por isso, a trilha é difícil.
Em um raio de 50 km a partir de Quito, é possível conhecer vários vulcões, que reservam trilhas, escaladas e paisagens inesquecíveis. Um dos mais imponentes é o Cotopaxi (5.897 metros de altitude), com seu pico simétrico e neve eterna. Outro que vale a visita é o Antisana, rodeado por lagoas e condores.
Já o vulcão Cotacachi possui um lago dentro de sua caldeira – a Laguna Cuicocha. Ela está a 3.068 metros acima do nível do mar e foi formada pela água da chuva e do degelo do próprio vulcão desde sua última erupção, há centenas de anos. Há duas ilhotas no meio, em torno das quais são feitos passeios de barco. Navegar dentro de um vulcão é com certeza uma experiência única! O vulcão Quilotoa tem um visual semelhante, com seu lago azul turquesa.
Arqueologia, natureza e muito mais
Os arredores de Quito guardam ainda outras boas surpresas, como o museu e sítio arqueológico de Tulipe, perto de Nanegalito. Ali estão as piscinas cerimoniais dos yumbos, povo indígena que habitava a região. Em ótimo estado de conservação, foram feitas de pedras encaixadas e com desenhos cheios de significados. Há visitas guiadas.
Reserva ecológica mais próxima de Quito, El Pahuma abriga uma ampla variedade de flora e fauna, com destaque para as orquídeas. Além de trilhas em meio ao chamado bosque nublado, é possível fazer canyoning (rapel de cachoeiras) e se refrescar nas cascatas. Para fazer birdwatching, vá ao Refúgio Paz de las Aves, onde vivem mais de 160 espécies de pássaros, incluindo beija-flores de todos os tipos e algumas espécies raras, como o galo-da-serra-andino.
No caminho para o vulcão Cotacachi, visite a bela fazenda La Compañía, perto de Cayambe, onde são cultivadas rosas belíssimas (necessário agendamento). Outra atração surpreendente é o tradicional Mercado de Otavalo, na cidade homônima, que funciona todos os dias e ocupa uma praça inteira. É o melhor lugar para comprar peças de artesanato autêntico, com destaque para os tecidos coloridos e com motivos andinos. Há também joias e bijuterias, souvenires, bolsas e objetos decorativos.
Como chegar
Em dezembro, a GOL tornou-se a única companhia aérea a realizar voos diretos entre o Brasil e o Equador, com três saídas semanais entre São Paulo (GRU) e Quito. Há também opções de voos com conexão pela LATAM, Copa Airlines e Avianca.
Onde ficar
La Casona de la Ronda Heritage Boutique Hotel
La Mirage Garden Hotel & Spa (Cotacachi)
Onde comer
Altamira Restaurante – Calle Caldas Oe1-204
Los Armadillos – Km 44 Via Calacali-Nanegalito
Santa Rosa Histórico – José Mejía y Guayaquil, 1109
Mais informações em: quito.com.ec
Texto por: Patrícia Chemin
A jornalista viajou com o apoio do Quito Turismo e com a proteção do seguro viagem da GTA – Global Travel Assistance.