A Emília-Romanha é simplesmente cinemato­gráfica no outono. Nesta estação do ano, o solo de suas cidades e vilarejos se tinge de múltiplos tons de dourado, castanho, laran­ja e verde – folhas que caem de centenárias árvores nativas. E, mesmo com os dias sendo bem mais cur­tos e frios, as paisagens que se revezam diante do olhar são de uma beleza surreal.

A noite chega por volta das 17 horas. Luzes ama­reladas abraçam monumentos históricos erguidos pelo Império Romano antes mesmo do nascimento de Jesus Cristo. Nas ruas, pessoas misturam-se às antigas construções e procuram o aconchego da calefação de pubs, restaurantes e casas noturnas. Sim, embora sejam milenares, os jovens colorem as cidades, imprimindo-lhes um ritmo vibrante.

Foto por Istock/ alan64

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A Emília-Romanha é repleta de povoados, vilas e províncias que se alinham basicamente da bela Rimini banhada pelo Mar Adriático até Piacenza. Rimini foi crida em 268 a.C. Na época, a cidade se chamava Ariminum. A região esbanja história. Terra fértil, é conhecida pela excelente gastrono­mia, indústrias agrícolas e produtores rurais. O au­têntico queijo parmesão, o presunto de Parma, os vinhos Lambrusco e o vinagre balsâmico são algu­mas de suas marcas.

Concentra ainda importantes montadoras de auto­móveis e autódromos – os italianos são apaixonados por carros e motos. Modena, por exemplo, é a casa de um autódromo de mesmo nome e dos museus da Ferrari e da Lamborguini, só para citar alguns. Conhecido pelos amantes de Fórmula 1 do mundo todo, os autódromos de Maranello e de Imola, a pou­cos quilômetros de Modena, dispensam palavras.

Foto por Istock/ ronnybas

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Palco do acidente fatal ocorrido com Ayrton Senna em 1º de maio de 1994, este último abriga uma estátua do corredor, onde fãs diariamente levam flo­res, bandeiras e rendem tributo ao campeão mun­dial de F1 nos anos de 1988, 1990 e 1991.Em 2019, quando completará 25 anos da morte do piloto bra­sileiro, Imola sediará uma grandiosa exposição fotográfica em homenagem a ele. Os preparativos já estão sendo feitos.

BOLONHA, A CITTÀ ROSSA

A Emília-Romanha tem na pulsante Bolonha a sua capital. Emblemática e cosmopolita, a cidade se traduz em arte, história e aromas. Transborda cultura e beleza. Percorrer as calçadas de seu cen­tro histórico é entrar num caleidoscópio de cores e sabores, viajando pelos tesouros herdados pelos séculos que se passaram desde a sua fundação, estimada no século 3 a.C, quando ainda era uma das colônias romanas onde viviam os etruscos.

Foto por Istock/ minoandriani

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Imponentes arcos sob ruas estreitas e graciosas vie­las são parte inalienável da paisagem urbana de Bo­lonha, também conhecida como Città Rossa (cidade vermelha). O nome não é à toa. Foi dado em função dos diferentes tons de coral exibidos no visual da maioria das casas, dos prédios, dos palácios e dos monumentos históricos da cidade – nela, dificilmen­te a gente encontra uma construção de cor diferente.

Não pense, contudo, que as tonalidades alaranja­das colorem a cidade de monotonia. Ao contrário. Basta subir à Torre Asinelli. Lá, de cima, admirar os incontáveis tons de tijolo alinhados na planície e cer­cadas por colinas, tendo no topo de uma delas o complexo San Stefano. Com origem nos séculos IV e V, dizem que foi construído sobre um antigo templo pagão dedicado à deusa Isís. A panorâmica é cênica.

Foto por Istock/ minoandriani

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Em alguns lugares de Bolonha, como na elegantís­sima Galeria Cavour, onde funciona a moderna loja de design de movéis Rochebobois, é possível admirar trechos originais da Via Emilia (é preciso pedir). A ex­periência é única. A via começou a ser construída na época do Império Romano e foi finalizada pelo cônsul Marco Emilio Lepido em 187 a.C. Tinha como objeti­vo consolidar a hegemonia do imperador sobre as tri­bos conquistadas e garantir a segurança das colônias fundadas pelos romanos ao longo de sua extensão.

Sobreviveu às intempéries e aos caprichos huma­nos. Testemunhou romances. Também presenciou os horrores de diferentes guerras, incluindo a des­truição causada pela Segunda Guerra Mundial, quando as cidades italianas foram duramente bom­bardeadas. Ao longo dos séculos foi sendo modifi­cada e ampliada. Hoje, com mais de 2.200 anos de existência, é a moderna estrada estatal 9, chamada oficialmente de Via Emilia.

Foto por Istock/ GiorgioMorara

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A autopista segue o traçado da antiga estrada ro­mana na maior parte do caminho e atravessa Bo­lonha e diversas cidades situadas nesta lindíssima região italiana, onde trechos e pontes originais da milenar avenida consular estão preservados e ainda podem ser vistos. Pela Via Emilia passavam impera­dores, nobres, cavaleiros, soldados do exército ro­mano e também os simples mortais. Percorriam a extensa estrada com os seus cavalos.

ARCOS BOLONHESES

Esse traço da história da humanidade é visível na Via dell’Indipendenza, a principal do centro de Bo­lonha, e em suas imediações. Lugar mágico reple­to de ruas estreitas com elevados arcos. Pórticos abaixo dos quais hoje funcionam lojas, butiques de grife, joalherias, galerias de arte, hotéis, bares e os­terias… Acredita-se que os arcos tenham sido edifi­cados com 2,70 de altura para facilitar a passagem de cavaleiros montados em seus cavalos.

Os 38 quilômetros de pórticos são uma atração do centro de Bolonha, mas não a única. Majestosa, a área é uma passarela a ser percorrida por quem pretende desvendar capítulos de um precioso livro chamado Império Romano e Idades Média e Mo­derna, saboreando-os até os dias atuais. Em suas ruas estão guardados resquícios das portas cons­truídas quando a cidade era um burgo (a de Raveg­nana é uma delas) e das muralhas que a cercavam nos tempos medievais.

Foto por Istock/ kasto80

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Ali também ficam as torres Asinelli e Garisenda, dois emblemáticos ícones erguidos na Idade Média, quando a cidade chegou a ter mais de cem torres (hoje restam 20). Com 97,2 m de altura, o equiva­lente a um edifício de 33 andares, a primeira pode ser visitada – o bilhete de ingresso é pago. São 498 degraus de subida por uma escada de madeira ín­greme erguida nos primeiros anos do século XII. Mais outros 498 degraus de descida. Mas, vale a pena: Bolonha vista lá do alto é ainda mais bonita.

Já a Garisenda (1351/1360) não é aberta à visita­ção. Tem 48,16 metros e foi erguida a pedido da família que a ela empresta o sobrenome. Era para ter 60 metros de altura. Porém, o solo cedeu e os “construtores” da Idade Medieval, temendo uma catástrofe, decidiram mantê-la com o tamanho atual. Como a famosa Torre de Pizza, as duas torres bolonhesas também estão pendendo com o passar dos anos. E essas inclinações são visíveis.

O CORAÇÃO DA CAPITAL

Impossível falar da área central sem mencionar a Piazza Maggiore, onde durante o dia a vida flui in­tensamente nas lojas, nas bibliotecas, nos escritórios, nos museus e onde, à noite, os bolonheses lotam os barzinhos, cinemas e teatros… A praça é ainda o palco de apresentações de músicos independentes e de manifestações. Coração e o marco a partir do qual Bolonha se expandiu, é chamada de modo afe­tuoso pelos seus moradores de “La Piazza”.

Foto por IStock/ sedmak

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Começou a se desenvolver até chegar ao layout atual a partir de 1200, quando era um pasto. Sé­culos depois, foi essa mesma praça que acolheu o povo que nela se reunia, embaixo à sacada do Pa­lazzo Comunale (atual sede da prefeitura de Bolo­nha), para ouvir a proclamação das leis. Também eram nela que aconteciam os torneios de cavalei­ros, as festas públicas e os espetáculos medievais.

Hoje, é delimitada por alguns dos mais significa­tivos postais de Bolonha: a Basílica de San Petro­nio e os palácios Comunale (também conhecido como D’Accursio), do Podestà (com arquitetura do Renascimento) e de Re Enzo. San Petronio é o pa­droeiro da cidade. A catedral que tem seu nome foi construída no período de 1390 a 1663. De estilo gótico, guarda em seu interior um dos maiores re­lógios solares do planeta.

Foto por Istock/ Jorisvo

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Partindo-se da praça se pode atingir a qualquer ponto de Bolonha, basta pegar uma de suas ruas radiais. Seguindo-se em direção ao seu lado su­doeste, por exemplo, chega-se aos palácios Notai e Banchi. Caminhando no sentido oposto, em direção de seu lado noroeste, alcança-se e a Piazza Nettu­no, onde está a Fonte de Netuno, encomendada para celebrar a nomeação do papa Pio IV.

A escultura em bronze que retrata o deus romano tentando acalmar as águas do mar, assim como as dos querubins, as dos golfinhos e as das sereias, foi criada pelo artista flamengo Giambologna no sécu lo XVI. Já a base arquitetônica e o funcionamento hidráulico da fonte foram projetados pelo pintor e arquiteto italiano Tommaso Laureti. A Piazza Nettu­no guarda ainda outra preciosa relíquia do passado.

Em seu subterrâneo, está a Biblioteca Salaborsa, com escavações e vestígios de antigas civilizações – oferece visitas guiadas. A poucos passos da pra­ça está o Museu Cívico Arqueológico, com acervo de 200 mil peças, incluindo tumbas e uma coleção egípcia que é considerada como uma das mais ricas da Europa. O espaço tem ainda sessões dedicadas às antiguidades dos etruscos/romanos, dos gregos e de outros povos.

Foto por Istock/ Banet12

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Ainda no centro, seguindo pela Via dell’Archi­ginnasio, chega-se ao Palazzo dell’Archiginnasio, a antiga sede da primeira universidade da Europa Ocidental, a de Bolonha – grande parte da energia contagiante que a gente sente ao caminhar pelas ruas se deve ao fato de Bolonha ser uma cidade universitária. Criada em 1088, ela não só é a mais antiga universidade ocidental, como também ain­da agora continua em funcionamento, sendo sinô­nimo de ensino de excelência.

Caminhando um pouquinho mais, encontra-se o Complexo de Santo Stefano ou a Santa Jerusa­lém de Bolonha. Situado na Via Santo Stefano, o conjunto chegou a ter sete igrejas de diferentes épocas. Após restauros em 1880 e nas primeiras décadas do século XX, hoje, abriga quatro delas: as igrejas do Crucifixo (século VIII) e do Santo Se­pulcro (possivelmente construída no século V e restaurada no século XII).

Em seu interior, ficavam os restos mortais de San Petronio – foram removidos e atualmente estão na igreja de mesmo nome na Piazza Maggiore. As outras duas igrejas são a dos Santos Vital e Agrí­cola (do século V e reconstruída no século VIII e XI) e a Trindade ou do Martyrium (Martírio), de origem incerta e que abriga um dos presépios mais antigos do mundo.

Impossível conhecer todos os monumentos histó­ricos de Bolonha em poucos dias. Entre uma visita e outra, reserve um tempo para experimentar os sa­bores. A cidade é famosa pela gastronomia – é a inventora do molho bolonhesa. Charmosos restau­rantes e tratorias servem as delícias da terra. Entre elas, a lasanha bolonhesa, tortellines e tortellones (de maior formato), massas quase sempre prepara­das artesanalmente.

Foto por Istock/ RossHelen

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Ragù alla bolognese, costela de vitela, cogumelos fresquinhos e gelato são outros sabores da Emília- Romanha. Na entrada, pastéis sem recheio ou pia­dina, um pão frito que também é a base do mais popular e típico sanduíche da região (também é vendido nas ruas). Eles são servidos ao lado do quei­jo parmesão, do presunto de Parma, da mortadela, de azeitonas… Pratos quase sempre acompanhados pelos divinos vinhos italianos.

A CARA DE PARMA

Como Bolonha, Parma é outra cidade da Emília- Romanha que não abre mão dos seus costumes culinários e que se orgulha pela qualidade de ali­mentos que produz artesanalmente – os italianos fazem questão de saber a origem do que conso­mem. Se forem comer carne, querem saber como o animal (gado, frango ou peixe) nasceu, cresceu e com o que foi alimentado antes de chegar à mesa.

Foto por Istock/ FotoCuisinette

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Parma não foge à regra. Repleta de tradições gas­tronômicas, é a casa onde nasceram e vivem os au­tênticos parmesão (Parmigiano-Reggiano, na Itália) e presunto (prosciutto) de Parma, cuja produção é submetida a um controle de qualidade extrema­mente criterioso. Para começar, esses alimentos re­cebem o selo Indicação Geográfica Protegida (IGP) ou Denominação de Origem Protegida (DOP).

Esses selos são uma forma de proteger e de ga­rantir aos consumidores a autenticidade do queijo e do presunto produzidos na cidade e região, asse­gurando-lhes que foram produzidos sem o gado ter absorvido uma gota sequer de agrotóxico e que es­ses produtos não contêm conservantes. Em outras palavras, os selos são como uma espécie de carteira de identidade, um certificado do padrão de quali­dade que com que foram produzidos.

Foto por IStock/ Marc_Espolet

Foto por IStock/ Marc_Espolet

É possível conhecer as produtoras de parmesão da região – são 40 mil fazendas de leite envolvidas com a fabricação do queijo e associadas ao Consorzio del Formaggio Parmigiano-Reggiano. Criado em 1834, o consórcio mantém vivas as tradições (entenda-se os ensinamentos seculares, transmitidos de pai para filho, de chefe para chefe) empregadas na produ­ção do parmesão, acompanhando todas as etapas, da origem e qualidade do leite ao produto final.

Da cooperativa também fazem parte fabricantes das cidades de Bolonha, Reggio Emilia, Modena e Mantova. Geralmente, seus laticínios e fazendas são abertas à visitação. No caso do tour a uma das fábricas de parmesão, é preciso agendar com ante­cedência. A visita é realizada logo cedo, no máxi­mo até às 9 horas, quando os queijos começam a ser feitos artesanalmente. A poucos quilômetros de Parma, o Caseificio Il Trionfo é um desses endereços.

Nele, pode-se acompanhar de perto o processo de fabricação do Parmigiano-Reggiano, desde o leite sendo despejado nos tachos até os pesados queijos de 40 quilos serem acondicionados em prateiras, onde permanecem por 12, 24 e 36 meses. Todos os detalhes das etapas da produção são registrados, o que permite identificar em qual delas pode ter ocor­rido um eventual problema durante a produção.

Ao término do processo, se o queijo apresentar imperfeições como bolhas, não poderá ser comer­cializado como um Parmigiano-Reggiano, poden­do apenas ser vendido como um queijo de mesa. E acreditem o controle é rigoroso. A degustação é feita na lojinha que funciona ao lado do laticínio. Além do parmesão, o estabelecimento comerciali­za diferentes tipos de manteiga, geleias, vinhos e vinagre balsâmico, preciosidades produzidas pela Emília-Romanha.

A ARQUITETURA PARMESE

Parma não é apenas o lar de deliciosos alimentos e bebidas. Como todas as demais cidades italianas, transpira beleza, cultura e história. Casas coloridas, ruas medievais e outras edificadas no Império Ro­mano (aqui, Via Emilia é uma das ruas principais), avenidas sem semáforo e prédios baixos se multi­plicam em seu solo – a prefeitura local proíbe as construções que ultrapassem a uma determinada altura, o que também é constatável nas demais ci­dades da Emília Romanha, inclusive em Bolonha.

A cidade, que já era habitada na Idade do Bronze (1500-1200 a.C.), foi fundada pelos romanos em 183 a.C. e ainda hoje preserva vestígios arqueo­lógicos que atestam a sua antiguidade. Caminhar por suas ruas é passear pelos séculos, revivendo o calendário desenhado pela história. Ao lado da es­tação de trem, o Palazzo della Pilotta, também cha­mado de Pilotta, é uma das incontestáveis páginas deste capítulo da humanidade.

Foto por Istock/ Iryna1

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Seu nome deriva do antigo jogo da pelota (bola) que era praticado pelos soldados espanhóis em seu pátio interior, o Guazzatoio. Está situado no centro histórico da cidade, entre a Piazza della Pace (Qua­drilátero da Paz) e o Lungoparma, nome dado ao Rio Parma, um dos afluentes da margem direita do Rio Pó, o principal da Itália. O palácio, na realidade, é um conjunto de edifícios.

A arquitetura de seus prédios inclui traços de di­ferentes períodos, pois foram sendo edificados ao longo dos anos. Começou a construído em 1583, a mando do duque Ottavio Farnese, importante di­nastia que comandou e ajudou a desenhar Parma no século XVI. Hoje, abriga o Museu Arqueológico Nacional, a Academia das Belas Artes e a Galeria Nacional, com uma incrível coleção de arte.

Foto por Istock/ dav76

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É integrado ainda pela Biblioteca Palatina, pelo Museu Bodoniano e pelo Teatro Farnese, de 1618. Com imponente anfiteatro em madeira e visual semelhante aos teatros olímpicos, foi destruído durante a Segunda Guerra Mundial e reconstruí­do entre 1956 e 1965, mantendo o design de sua arquitetura original. Além do teatro, as bombas também aniquilaram o Teatro Reinach e o neoclás­sico Palazzo Ducale.

Ao lado do Della Pilota, a Piazza della Pace man­tém viva a lembrança dos dramáticos dias vividos durante a Segunda Guerra. A praça é um grande espaço vazio causado pelo bombardeio de 13 de maio de 1944, assim mantido para que as pessoas nunca se esqueçam da destruição ocasionada pelo conflito. No centro, estátua com soldados homena­geia os homens que morreram lutando pela Itália.

Saindo da Piazza della Pace e seguindo pela Via Melloni chega-se à Camera di San Paolo. O antigo convento aloja o quarto de San Paolo, com afrescos feitos por Alessandro Araldi em 1514. Seu interior exibe ainda afrescos pintados por Antônio Cor­reggio em 1519, a pedido da abadessa Giovanna de Piacenza. Os afrescos são considerados uma das obras-primas da arte renascentista italiana.

Foto por Istock/ bbsferrari

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Mais adiante, está a efervescente Piazza Giuseppe Garibaldi. Instalada em um espaço onde funcionava um foro romano, foi ampliada entre os séculos XIII e XV. Agora, ostenta uma aparência não homogê­nea, convivendo ao lado de intervenções arquitetô­nicas modernas. Abraçada por restaurantes, cafés, bares e lojas, a praça é o coração e centro admi­nistrativo de Parma – ali fica o Palazzo del Comune (Palácio do Município), construído de 1623 a 1673.

Ali também estão os palácios Del Governatore (do Governador) e Del Capitano del Popolo, datado de cerca de 1240, além de uma estátua de Giuseppe Ga­ribaldi, como ficou conhecido o “herói de dois mun­dos” por ter participado de conflitos na Itália e na América do Sul. Garibaldi dedicou sua vida à luta con­tra a tirania e desempenhou importante papel na uni­ficação e independência da Itália, ocorrida em 1870.

A praça abriga ainda a Igreja San Pietro. Perto dali fica a Basílica de Santa Maria Steccata, um santuá­rio mariano de arquitetura barroca e renascentista. Construído entre 1521 e 1539, tem afrescos do sé­culo XVII de artistas da Escola de Parma, incluindo três pintados por Parmigianino (1503 a 1540) no sé­culo XVI. Ali também funciona o Museu Constanti­niano della Steccata, que é aberto à visitação, assim como a sacristia e os túmulos dos duques de Parma.

Da Praça Giuseppe Garibaldi à Piazza Duomo é um pulo. Nela, está a Catedral de Parma de arquitetu­ra românica. foi reconstruída no período de 1130 a 1178. Sua cúpula ostenta afrescos de Correggio.

Foto por Istock/ bbsferrari

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Divide o espaço com o belíssimo Battistero (batis­tério), em forma octogonal e todo feito de mármo­re rosa e branco. Foi finalizado em 1307 e é um exemplo da junção arquitetônica entre os estilos românico e gótico.

Na cidade de Toscanini, a noite começa com um aperitivo – entenda-se um verdadeiro jantar. A Via Farini, estreita e fechada para carros, e a Via D’Aze­glio concentram diversos bares, restaurantes, deli­catessens e osterias. Animadas, ficam repletas de italianos curtindo a noite e tomando seus aperitivos. Depois do jantar, a dica para quem aprecia ópera é o Teatro Reggio di Parma, de estilo neoclássico.

Foto por Istock/ VvoeVale

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Embora tenha menos fama que o Scalla de Mi­lão e o Fenice de Veneza, o teatro construído entre 1821 e 1829 é um dos importantes representantes da tradicional ópera italiana. Todos os anos, em ou­tubro, é palco do Festival Verdi, uma homenagem ao compositor Giuseppe Verdi nascido na região. No festival são apresentadas óperas de sua autoria. A programação anual do teatro é extensa e inclui óperas de outros compositores.

NOS ARREDORES DE PARMA

Quem tem mais tempo, não pode deixar de visitar os bucólicos vilarejos e cidadezinhas que se distri­buem pelas imediações da cidade – Parma possui muitos deles. Soragna, por exemplo, é uma linda cidade medieval que abriga o castelo de mesmo nome, onde é possível conhecer o príncipe real e a construção secular onde ele vive. Já Fidenza é um bom endereço para quem quer comprar e tem eu­ros (e muitos) para gastar com mimos.

No Fidenza Village Outlet, lojas de grife exibem o so­nho de consumo de muita gente – bolsas, calçados, ternos, casacos, acessórios, cosméticos e maquia­gens… De Calvin Klein a Ralph Lauren e Trussardi. No elegante local, restaurantes e charmosos barzinhos aquecem e alimentam os frequentadores com cafés, chocolates e saborosas refeições. Mas é na pequeni­na Polesine Parmense que a Itália é ainda mais bonita.

É difícil imaginar paisagens de prender a respira­ção, quando o Hemisfério Sul vive dias de um verão intenso. Sobretudo ser hipnotizado pela natureza e pensar em beleza em dias de frio, com temperaturas abaixo de 5ºC. Mas, neste vilarejo presenteado pelas águas do Rio Pó e permeado por árvores cen­tenárias, com casinhas de gente simples, as baixas temperaturas simplesmente parecem bobagem.

Foto por provincialgeographic.com

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Em dias de calor, o vilarejo acolhe piqueniques e festas familiares. É também quando ali acontecem tours náuticos pelo maior e mais importante rio ita­liano. Aos pés dos Apeninos, a planície é frequente­mente inundada pelo degelo das águas provenientes das montanhas e pelas cheias do Pó. Mas é também em seu solo que vive a Antica Corte Pallavicina Re­lais, construída em 1400 em uma fortaleza pré-exis­tente, pelo marquês de Pallavicino di Polesine.

Em 1780, foi a sede de um quartel criado para defender as fronteiras. Em 1860, passou a acolher humildes casas de agricultores, pescadores e arte­sãos. Apesar das constantes inundações, a fortaleza resistiu ao tempo. Mudou de mãos e recentemente passou por um extenso e demorado processo de restauração (somente tinha tido seus tetos artesanais substituídos por abóbadas em 1500). Agora, é uma fazenda e reúne em suas gigantescas dimen­sões um sofisticado hotel e um restaurante premia­do com a cobiçadíssima estrela Michelin.

Situado a 38 quilômetros de Parma, a proprieda­de do município de Polesine Parmense é, antes de tudo, o lar de caves onde o prosciutto di Parma, o culatello, o Parmigiano-Reggiano e vinhos são refinados. Assim, como o queijo parmesão, o pre­sunto também tem denominação de origem pro­tegida (o DOP). Comumente, é feito com carne de uma raça de porco preto – com menor frequência é produzido com porcos brancos.

Os porcos recebem alimentação especial. São aba­tidos com 160 quilos, quando a sua carne começa a ser curada com sal e é coberta por uma capa de gordura que mantém a sua umidade. Inicialmente, a perna pesa cerca de dez quilos e fica em frigorí­fico, onde é regularmente massageada para que o sal se espalhe. Já a secagem demora até 18 a 24 meses (quando feita com a carne do porco preto fica curando 36 meses). Depois disso, o presunto é testado e, se aprovado, recebe o selo de autentici­dade do Consórcio Prosciutto di Parma.

O produto final perde 60% do peso inicial da per­na, ficando com cerca de quatro quilos. Tão gostoso como ele é o culatello produzido na região. Prepa­rado com a mesma carne dos porcos criados para o presunto, o embutido também é curado com sal, mas é feito com o lombo da perna. É igualmente au­tenticado com o selo DOP. A fazenda, produtora do Culatello di Zibello, recebe pedidos do mundo todo, incluindo dos príncipes de Tóquio e Charles, da Ingla­terra. Cada exemplar custa em torno de 120 euros.

MODENA, TERRA DA VELOCIDADE

A Emília-Romanha não é apenas a possuidora de deleitosos alimentos. Também produz vinhos da melhor qualidade. O Lambrusco é um deles. Ele é uma das famosas marcas de Modena, assim como o vinagre balsâmico. Nas imediações da cidade, em Nonantola, na Cantina Gaviole, além da loja que co­mercializa o vinho de diferentes safras e cores, tam­bém funciona um museu. Ele é aberto ao público, desde que a visita seja agendada.

Seu acervo descreve toda a história da bebida, des­de os tempos que começou a ser fabricada e os mé­todos de produção adotados ao longo dos anos até os meios que era transportada. Seu interior guarda ainda uma ala dedicada aos automóveis, incluindo os de corrida de Fórmula 1. Entre uma e outra foto de pilotos e itens relacionados a automóveis, uma preciosidade: os carros usados por Ayrton Senna e por Gilles Villeneuve na competição.

Foto por APT EMILIA ROMAGNA

Foto por APT EMILIA ROMAGNA

Na realidade, é impossível falar de Modena sem fa­lar dos museus Ferrari e da Lamborguini, da Ducati e da Maserati e dos autódromos. No que tem o nome da cidade é possível pilotar uma máquina voadora (carro ou moto) pagando-se 400 euros. Já para dar uma volta com um piloto profissional em uma Fer­rari usada para teste sai por 130 euros. A emoção é indescritível – não é sem motivo que os italianos são apaixonados pelo mundo da velocidade.

O “passeio” que dura segundos tem de ser agen­dado no site do autódromo, o autodromodimode­na.it. O mesmo acontece nos museus dedicados aos automóveis. No Enzo Ferrari, além da coleção de impecáveis modelos do cobiçado automóvel ita­liano, é possível assistir a um filme sobre a trajetória do “inventor“ da famosa marca e conhecer a casa onde o homem que revolucionou o automobilismo nasceu em 1898, incluindo o seu escritório.

O acervo multimídia inclui ainda objetos pessoais de Enzo, filmes que nunca foram lançados e fatos curiosos sobre a sua carreira como piloto e constru­tor de carros, como o que revela a razão de ele ter escolhido o cavalo para ser o símbolo da Ferrari. O museu tem dois prédios, além de um restaurante e uma loja com itens da grife, como macacão verme­lho tipo o que é usado pela equipe na F1, relógios, chaveiros e malas.

Na recepção desta imensa galeria de exposição também podem ser contratados tours para os au­tódromos da Ferrari (Maranello e Modena) e para a casa onde viveu Luciano Pavarotti, em Modena. Situada em Sant’Agata Bolognese, a 20 km da cida­de, a Lamborghini é outra fábrica da região de Mo­tor Valley, como esse pedacinho da Itália é conhe­cido, que dedica um amplo espaço à sua história.

O local foi aberto ao público em 2001 – é preciso agendar antecipadamente a visita. De sua coleção fazem parte raridades como o protótipo do Counta­ch, um dos primeiros carros a quebrar a barreira dos 300 km/h, e as Lamborghinis 350 GT (1964), Islero (1968) e Diablo (produzida até 2001).

No espaço também estão expostos o modelo Ré­venton (apenas foram fabricados 20 deles) e o carro de polícia mais veloz do planeta, o Gallardo, capaz de ultrapassar 320 km/h. Possui ainda áreas reser­vadas à participação da montadora na Fórmula 1 e aos motores. Ao lado dos automóveis, uma exposi­ção de fotos conta a história da Lamborghini. Mo­dena, contudo, não se traduz em potentes carros.

Ela é bem mais do que isso. A cidade é fácil de ca­minhar, de se encantar. Apaixonante, mantém inve­jável tesouro arquitetônico que é considerado como um dos mais preservados da Europa: a Piazza Gran­de e o adjacente Duomo (Catedral de Modena) com a sua linda Torre Ghirlandina, declarados patrimô­nios mundiais da humanidade pela Unesco. A praça é o lugar onde esses monumentos estão reunidos.

Foto por ISTOCK / VVOEVALE

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Dedicado a Santa Maria Assunta, o Duomo é uma das maiores obras do estilo românico europeu. Co­meçou a ser construído em 1099 por iniciativa de diferentes classes sociais da cidade. Preserva os restos de San Geminiano, bispo e patrono de Mode­na, que morreu em 397. O sepulcro do santo foi transferido para lá em 1106 de uma catedral ante­rior. Sua consagração ocorreu em 1184. A uma cur­ta distância de Ghirlandina, fica o Palazzo Ducale.

Construído em 1634, o palácio, projetado pelo ar­quiteto romano Bartolomeo Avanzini, hospedou o Tribunal de Estense há mais de dois séculos. Abriga agora a Academia Militar. Em seu interior, uma es­cadaria, decorada com estátuas romanas, conduz aos quartos da Residência Estense, uma importante família que morou no castelo a partir de 1598 – por muito tempo, Modena foi a capital do ducado co­mandado pelos senhores da dinastia Estense.

Foto por ISTOCK / PHOTOOIASSON

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É possível fazer uma visita guiada ao palácio em alguns sábados e domingos por mês, exceto no Na­tal, na Páscoa e em agosto. A reserva é obrigatória nos escritórios da Modenatur (tel. 059 + 22 0022) e da IAT (tel. 059 + 203 2660). A entrada custa 8 euros. Próximo ao palácio ducal fica o não menos imponente Palazzo Comunale, cuja construção co­nheceu várias fases a partir da Idade Média.

Caminhando pela Via Emilia, estrada romana que também atravessa a Modena, chega-se à Piazza Sant’Agostino, onde fica a igreja homônima. Em seu interior, pode-se admirar o “Compianto del Cristo Morto”, de Begarelli, um escultor modenese dos anos 1500. Por ali também fica o Palazzo dei Musei, sede de diversos institutos culturais, incluindo o Museu de Arte Cívica e o Museu Arqueológico-Etnológico.

O prédio é ainda o lar da Galeria Estense, uma importante coleção que testemunha o interesse da antiga família pelas mais diversas artes e pela Bi­blioteca Estense, com preciosidades do século XIV ao XVI. Depois da caminhada, nada melhor do que experimentar outro tradicional postal de Modena, o vinagre balsâmico.

O condimento requintado é feito de mosto de uva cozido, envelhecido em tonéis de madeira. Imperdí­vel também é descobrir alguns dos segredos da sua produção visitando um dos muitos endereços de produtores da região. Em Nonantola, a Pedroni – Osteria di Rubbiara é um deles. Passada de pai para filho, a adega, de propriedade da família Pedroni, produz o caro líquido desde 1862.

Foto Divulgação

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Na aula dada no local aprende-se que o barril do vi­nagre balsâmico é tão valioso que era dado às meni­nas da família quando nasciam. Mais tarde, quando casavam, elas levavam o barril com o produto envelhe­cido por anos como um dote, capaz de lhes assegurar dias de prosperidade. A visita inclui ainda a degus­tação da bebida envelhecida em tonéis confecciona­dos em diferentes madeiras, entre elas a cerejeira.

O frasquinho de 100 ml do vinagre envelhecido por 45 anos no barril de cerejeira custa 130 euros, enquanto o vidrinho contendo o condimento curti­do por 70 anos neste mesmo tipo de tonel sai por 1.800 euros. A degustação custa 3 euros. Ela tam­bém pode ser feita em uma refeição no restaurante que ali funciona. O cardápio, além da degustação de três tipos de vinagre balsâmico, inclui duas mas­sas, duas carnes, dois vinhos Lambrusco e sobre­mesa. Sai por 35 euros.

Tradições gastronômicas à parte, viajar à belíssima Emília-Romanha e não incluir na bagagem Modena, Parma e Bolonha é quase como cometer um pecado mortal. Com brilho, particularidades e charme pró­prios, essas cidades são palco de contradições onde passado e presente se mesclam e se confundem. Ou­tono. Inverno, Primavera ou Verão. Não importa! Seja qual for a estação – acreditem –, as três são um cená­rio mágico para viver dias de absoluto encantamento.

Como chegar

Diversas companhias aéreas têm voos para Bolonha, mas eles não são diretos e incluem uma ou mais escalas. Pela Alitália, por exemplo, a parada de 1h45 é no Aeroporto Internacional Leonardo da Vinci (Fiumicino, Roma), onde acontece a troca de avião. O voo rumo ao Aeroporto Guglielmo Marconi (Bolonha) tem 55 minutos de duração.

Onde ficar

BOLONHA

Grand Hotel Majestic Già Baglioni

PARMA

Grand Hotel De La Ville – Largo Calamandrei, 11 – tel. (39 + 051) 21 0304

MODENA

Hotel Milano Palace

Onde comer

BOLONHA

Osteria Twiinside – Via de Falegnami, 6, tel. (39 + 051) 991 1797

Il Pappagallo

La Capriata – Strada Maggiore, 19 – Corte Isolani, 1, tel. (39 + 051) 23 6932

PARMA

La Filoma

Angiol D’Or

Ristorante Al Cavallino Bianco

MODENA

Lo Stallo del Pomodoro

Pedroni – Osteria di Rubbiara (vinagre balsâmico)

Fonte:qualviagem.com.br