Com cerca de 140 cavernas e 80 sítios arqueológicos, região no Norte de Minas pode ser tombada pela Unesco

O Vale do Peruaçu é um assombro de belezas e grandezas naturais, um dos lugares mais impressionantes do planeta. Por esse motivo, o Parque Nacional Cavernas do Peruaçu – onde está o vale – está almejando ser reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco, na sigla em inglês) como patrimônio mundial na classificação mista (natural e cultural), algo inédito entre os bens brasileiros tombados.

A região, localizada entre os municípios de Januária, Itacarambi e São João das Missões, no Norte de Minas, tem um dos maiores acervos arqueológicos e de arte rupestre preservados, além de descomunal beleza natural e geológica. Entre os 1.036 bens tombados pela Unesco em todo o mundo, atualmente apenas 34 são mistos, condição que daria ao Peruaçu ainda mais visibilidade internacional.

O vale abriga 140 cavernas catalogadas e mais de 80 sítios arqueológicos identificados em uma área de 56,4 hectares. O parque, administrado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), oferece boa infraestrutura para o turista em Januária, município que fica a 495 km da capital mineira e a 170 km de Montes Claros. Da cidade ao parque são 56 km de estradas (40 km de asfalto e 16 km de terra) em bom estado de conservação.

Criada em 1999 e só estruturada há pouco tempo, a unidade de conservação tem trilhas, mirantes e passarelas de proteção a sítios arqueológicos, além de seis caminhos abertos à visitação (o da Gruta do Janelão, o da Lapa Bonita e da Lapa do Índio, o da Lapa do Boquete, o da Lapa dos Desenhos, o da Lapa do Rezar e o da Lapa do Caboclo e Carlúcio). O mais procurado é o Caminho da Gruta do Janelão.

Lapa do Rezar

Ao chegar ao centro de visitantes – dentro do parque e cercado por vale rochoso – surge um aperitivo do que o turista terá pela frente. Por detrás da edificação está a primeira trilha, de 2,4 km ida e volta, que conduz à lapa do Rezar, conjunto expressivo de arte rupestre.

A lapa do Rezar tem esse nome devido a uma antiga tradição dos moradores do Peruaçu – os locais acreditavam ser ali um lugar sagrado e realizavam penitências em períodos de seca, subindo seus 520 degraus – e haja fôlego – com latas de água na cabeça e clamando por um pouco de chuva.

A lapa é coberta por inscrições rupestres com mais de 11 mil anos e tem uma elevação rochosa que se assemelha a um altar, onde os antigos moradores faziam orações e acendiam velas. O salão principal, intitulado dos Gigantes, alcança 90 m de largura e 40 m de altura, e é rodeado por imensos e exuberantes espeleotemas muito bem-conservados.

A história

Para entender um pouco da grandiosidade do Peruaçu, é preciso recorrer à história do planeta. Tudo começou há milhões de anos, quando parte do que é o Brasil hoje estava submersa pelas águas de um mar que secou com a elevação do solo. Esse processo deixou grandes maciços de calcário, que hoje formam milhares de cavernas espalhadas por todo o país.

O rio Peruaçu, um dos afluentes do rio São Francisco, teve seu curso fechado por um desses maciços, e, com o tempo, a água que buscava saída foi esculpindo o calcário. Esse processo resultou em um conjunto de cavernas, muitas ainda virgens, que tem atraído espeleólogos, pesquisadores e turistas de todo o mundo. O calcário também preservou vários fósseis na área.

Por ser um vale com grutas, lapas e cavernas, o Peruaçu tornou-se abrigo natural para as tribos pré-históricas, que encontraram ali refúgio seguro contra as intempéries da natureza e proteção contra os predadores naturais. Essas tribos deixaram milhares de inscrições rupestres espalhadas por todo o vale. Parece mesmo que esse cenário natural de infinita beleza os inspirou de diversas maneiras. Pela surpreendente diversidade de cores e formas das inscrições, um comentário meu causou gargalhadas nas pessoas do grupo que me acompanhava:“ Esses índios do Peruaçu foram os primeiros pixadores do planeta.”