A professora de uma pequena cidade ao lado de um bosque é a única a lembrar que já existiram animais. A ausência deles não é mais sentida por aquela comunidade imaginada pelo escritor israelense Amós Oz, no livro “De Repente, nas Profundezas do Bosque”.
“Os animais se tornam algo mitológico e, por mais que misture as características de um ou outro bicho, a professora se torna a única guardiã deste conhecimento”, observa o ator Rodolfo Amorim, integrante do Grupo XIX de Teatro que apresentará no CCBB, a partir desta sexta-feira (30), peça baseada no livro de Oz.
“Hoje o Escuro vai Atrasar para que Possamos Conversar” é a primeira peça infantil da trupe, conhecida pelo trabalho de pesquisa que explora espaços não-convencionais e relações com o público, como em “Hysteria”, “Hygiene” e “Tudo Acontece e Tudo Está Acontecendo”.
Amorim destaca que o grupo estava ansioso por iniciar um diálogo com públicos em formação. Nesse contexto, o livro de Oz, lançado em 2005, caiu como uma luva na proposta, já que não se trata de uma simples história de cenografia bonitinha para encantar crianças.
Metáfora
A escola, na trama, é discutida por ser um lugar que reflete, muitas vezes, a opressão social, com o bullying se tornando um tema-chave na narrativa.
“A criança é levada a se colocar na posição de quem sofre bullying e ou o pratica”, registra o ator. Aos poucos, vai se construindo uma relação entre os animais desaparecidos e as crianças vítimas de preconceito que também passam a sumir no bosque.
O espaço, como frisa Amorim, é sempre um personagem importante nos trabalhos da companhia. Com “Hoje o Escuro Vai Atrasar...” não é diferente. “Agora fazemos uma metáfora do próprio teatro, usando de seus mecanismos de funcionamento”.
Durante a apresentação, a plateia é convidada a fazer um passeio fora do teatro e dentro da arquitetura, conhecendo o palco, estruturas e coxias. “Quando as crianças veem o palco por trás, encontram outro espaço que não é mais a aldeia, mas sim o bosque”.
Inspiração
O cenário é inspirado, por sinal, no trabalho da artista mineira Lygia Clark, especialmente no que diz respeito barulhos e a estímulos como escuro e claro, com a finalidade de provocar os sentidos dos espectadores. Há ainda sons que reproduzem o habitat de uma floresta.
Os animais são feitos como os parangolés (espécie de estandarte) de Helio Oiticica, “buscando enfatizar as características e o jeito de ser de cada um deles, ressaltando a questão das diferenças”, revela Amorim, que também assina a direção da peça ao lado de Luiz Fernando Marques.
Serviço
“Hoje o Escuro vai Atrasar para que Possamos Conversar” – De 30 de novembro a 23 de dezembro. Sextas e segundas, às 16h. Sábados e domingos, às 11h e 16h. No CCBB (Praça da Liberdade, 450 – Funcionários). Ingressos:
R$ 30 e R$ 15 (meia).