“O caminho é agregar.” Ao longo de 12 anos, a idealizadora da Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena, Aline Garcia, percebeu o quão é necessário fazer do evento um espaço para todos.

“Queremos diversificar não somente os espaços, mas também as expressões artísticas, a plateia… A nossa ideia é fazer com quem a mostra atinga públicos diversos, famílias, jovens, crianças, idosos, para que eles estejam próximos do teatro contemporâneo também em suas diversas formas”, pondera. 

Por isso, a 12ª edição da mostra, que acontece em Tiradentes entre esta quarta-feira (21) até o próximo domingo (25), se apresenta com o tema “Um palco de todos nós.”

E o caminho para abranger tamanha diversidade foi pensada na construção da programação que contempla mais de 50 atrações, entre teatro, dança, circo, música, oficinas, debates e homenagens, apresentadas em mais de 15 espaços de Tiradentes e de sua vizinha São João del Rei.

“Reconhecemos as nossas limitações. Uma delas é que contamos apenas com um teatro de 110 lugares em Tiradentes. Então, agregamos o de São João para conseguir incluir mais peças, mas essa questão dos espaços ainda é um desafio. Também há a limitação financeira, mas vamos seguindo”, detalha Aline, sem dar chances para a desesperança.

Ao todo, o projeto recebeu 472 propostas de todas as regiões do país. “A partir delas, selecionamos as que levantam temas que acreditamos serem importantes, como ditadura, racismo, feminismo, homofobia, corpos silenciados e questões ambientais. Gostaríamos de ter contemplado ainda outros espetáculos, mas conseguimos alguns deles que colocam questões importantes em debate”, acentua Aline.

Em seu processo de curadoria, Aline buscou abranger diferentes grupos, tanto de Minas Gerais, quanto de outros estados brasileiros. “Temos espetáculos do Rio e de São Paulo. Sair do Sudeste sempre foi um desejo, a logística é difícil, mas agora conseguimos. É sempre muito difícil trazer grupos de lugares distantes, pois o teatro envolve muitas pessoas e tem um custo alto”, aponta.

Quando fala sobre “sair do Sudeste”, ela se refere aos grupos Pavilhão da Magnólia, de Fortaleza (CE), que apresentará o espetáculo “Maquinista”, e uma oficina de mamulengos de Igarassu (Pernambuco), com Mestre Antero.

Dentre outros destaques da programação, Aline aponta a participação de grupos e artistas locais, como “Desmontagem Okàn”, do Teatro da Pedra, “Macacos”, de Clayton Nascimento, “A Farra do Boi Bumbá”, com Os Ciclomáticos Companhia de Teatro, e “Homem Bomba”, monólogo com o ator mineiro Luiz Arthur, livremente inspirado no clássico O Médico e o Monstro. “Também teremos o Lambe-Lambe ‘Circo de Pulgas’, com o grupo Ciclistas Bonequeiros, que vão circular pelos bairros”, indica.

Entra nessa lista também o espetáculo “Tom na Fazenda”, que será encenado na pré-abertura da mostra, nesta quarta-feira (21 de maio). Com direção de Rodrigo Portella, a montagem traz Armando Babaioff em um drama intenso sobre a força dos laços familiares, o peso dos segredos e a luta por ser quem se é em meio à opressão.

Para os artistas, a mostra também serve como terreno fomentador de novos trabalhos: o festival receberá 15 programadores de todo o Brasil, incluindo do exterior (Bolívia e Chile), que estarão atentos às expressões artísticas que podem ser levadas para mais lugares além de Tiradentes e São João del Rei.

Uma das novidades da mostra, a propósito, é a estreia da iniciativa “Venda Seu Peixe”, que promove o encontro entre artistas e programadores culturais de todo o Brasil. Nessa dinâmica, os programadores ficam sentados, e os grupos vão passando de mesa em mesa, com cinco minutos para se apresentarem.

“É uma dinâmica muito boa, porque treina o grupo a saber vender seu trabalho, a criar conexões e montar seu networking. O nosso legado é justamente fazer com que a cena se expanda, transborde o festival em si, ultrapasse os cinco dias e se torne uma potência contínua”, destaca Aline.

Homenagens
O Grupo de Dança Primeiro Ato será um dos homenageados da 12ª Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena. Os dançarinos se apresentarão na abertura oficial do festival, na quinta-feira (22 de maio), com o espetáculo “Como Água”, que estreou recentemente em Belo Horizonte e que coloca o líquido vital como objeto de reflexões diversas.

“Nós ainda não havíamos homenageado um grupo de dança ao longo da nossa trajetória. Então, esse momento chegou com a estreia do espetáculo. É um grupo que constrói um repertório importante para a cultura brasileira e mineira, tendo como base o coletivo. Essa homenagem é uma maneira de reconhecer isso e de incluir essa potência dentro do festival”, comenta a idealizadora do projeto, Aline Garcia.

Além do grupo de dança, também será homenageada a cantora Simone Mazzer, artista com passagens pela Armazém Companhia de Teatro e uma carreira premiada no teatro, cinema e música. Ela se apresentará, também na quinta-feira, com a performance “Simone Mazzer em Cena”.


“A Simone uma presença que vai além da dramaturgia, porque também é uma força na música. Sua presença nas artes cênicas é marcante, é um corpo político em cena. Em uma conversa com ela, ela topou o convite. Vai ser incrível trazê-la para Minas. É uma atriz que precisa ser cada vez mais conhecida, vista e homenageada”, destaca.

SERVIÇO

O quê. 12ª Mostra de Artes Cênicas Tiradentes em Cena


Quando. Quarta a domingo (21 a 25 de maio)

Onde. Diversos pontos de Tiradentes e São João del Rei

Quanto. Gratuito e preços populares. Programação completa no tiradentesemcena.com