Não é só o fato de poder voltar a tocar sobre um palco após um hiato provocado pela pandemia. O encontro  é a essência do duo Coladera, uma valiosa peça em seu processo criativo. Afinal, o grupo uniu vozes e violões que estavam separados por um oceano Atlântico, a partir  da reunião do mineiro Vitor Santana e do português João Pires.


“Minha arte é feita do encontro. Não sou um artista solitário, que precisa ficar encastelado para conceber a sua obra. Foi o que nos alimentou em 2019, com vários shows pela Europa , um crescendo que só não teve continuidade no ano seguinte devido à pandemia”, registra Santana, que reencontra o patrício em show nesta quinta, no Sesiminas.

É um reencontro mais do que esperado. Além do show, a reativação da dupla possibilita retomar a construção do terceiro disco do Coladera. “(A criação) Só é possível quando estamos juntos, quando cada um mostra as inspirações e, juntos, desembolamos uma música”, explica o mineiro.

Uma boa ideia disso é que uma das grandes surpresas do show ainda não tem título. Composta com a participação de Pedro Luís, do Monobloco, a canção estava à espera da chegada do integrante português. “Pode ser até que surja algo novo a tempo de entrar no show”, diz Santana.

O restante do repertório, a princípio, será calcado nos dois discos anteriores, que resultam em ecos da África, do candomblé, do fado e do flamenco, do samba, da rumba e do mambo, um português com sotaques diferentes, a eletrônica nascida do acústico.


Com oito anos de estrada, o  duo se apresentou em palcos importantes do mundo, como Summerstage (Estados Unidos), Atlantica Music Expo (Cabo Verde), FMM Sines (Portugal), Bimhuis (Holanda), Casa da Música (Portugal) e Global Copenhagen (Dinamarca).

O álbum “La Dôtu Lado” foi gravado pela Agogo Records, da Alemanha, gerando grande repercussão na mídia especializada internacional e brasileira. “Já estávamos com música tocando nas rádios da Europa quando a pandemia congelou os nossos planos, nos deixando em stand by nos últimos dois anos”.

Duo prepara terceiro disco

O show terá participação do percussionista Marcos Suzano, parceiro habitual da dupla, além de Pedro Luís, que mostrará uma música composta com João Pires após um encontro que tiveram em Portugal.

“A música tem como referência Oxossi. Vimos que todos nós estávamos ligados a esse orixá – eu, João, Pedro, Suzano  e até o designer da capa do disco, Fred Paulino, e Duda Melo, responsável pela mixagem”, afirma Santana.

Os dois convidados ficarão na casa do mineiro, um lugar fundamental na carreira de Santana. “Minha casa é esse lugar de troca, de encontro, de onde certamente sairão mais conexões e músicas nos próximos dias”.

A passagem do colega português também significará um possível fechamento das músicas que constarão no terceiro álbum da dupla. “Faltava justamente esse encontro para prosseguirmos com o fluxo de trabalho”.

A ansiedade também é grande pelo reencontro no palco. “Nos dois anos anteriores à pandemia, fizemos muitos shows. Depois, a sensação foi de aposentadoria forçada, em que faltava alguma coisa”, analisa Santana.