A vacina da gripe disponível no Brasil nessa temporada contém proteção contra versão do H3N2, vírus que circulou com força no hemisfério norte em janeiro desse ano. Por lá, essa forma do vírus puxou o número de infectados pelo influenza para 47 mil, o dobro do registrado em 2017. Em laboratórios da rede privada, o imunizante já está disponível a um preço médio de R$ 130. Na rede pública, o Ministério da Saúde informa que a campanha nacional destinada aos mais vulneráveis deve começar na segunda quinzena de abril.
Geralmente, as vacinas contra o influenza são disponibilizadas no Brasil entre abril e maio para proteção em junho, período em que o vírus da gripe começa a circular com mais força. Os vírus utilizados para a confecção da vacina são atualizados anualmente e, esse ano, a vacina brasileira ganhou essa nova forma do H3N2 que ajudou a provocar a epidemia mais grave registrada nos EUA nos últimos 13 anos.
No hemisfério norte, a vacina acabou por não ser atualizada em tempo e, por isso, o vírus acabou fazendo mais vítimas, explica o infectologista e pediatra Renato Kfouri. "Normalmente, há um pareamento entre o vírus circulante e a vacina, mas isso acabou não acontecendo no hemisfério norte e houve um aumento expressivo no número de casos", diz Kfouri.
"Por aqui, a vacina brasileira já vai conter a forma do vírus que circulou no hemisfério norte, mas ainda precisamos ver se vai haver esse pareamento entre a vacina e a forma circulante", explica o especialista.
O médico detalha que os vírus influenza conseguem sofrer pequenas mutações que, embora não tão diferentes do ponto de vista morfológico, são suficientes para "enganar" o sistema imunológico e provocar infecções mais graves.
"Essa forma que circulou nos EUA foi mais virulenta, o que significa dizer que foi mais agressiva que as demais", aponta Kfouri.
O H3N2 já fez 10 vítimas no Brasil em 2018 -- não há confirmação, no entanto, se os óbitos ocorreram por essa forma circulante nos Estados Unidos. Segundo o Ministério da Saúde, o país registrou 228 casos de influenza e 28 óbitos. Do total, 57 casos e 10 óbitos foram por H3N2. Em relação ao vírus H1N1, foram registrados 84 casos e 8 óbitos.
Ainda foram registrados 50 casos e 6 óbitos foram por influenza B. A pasta informa que os outros 37 casos e 4 óbitos foram provocados por influenza A sem subtipo definido. Em 2017 (ano todo), foram registrados 2.691 casos e 498 óbitos por influenza.
Vacina da gripe no Brasil em 2018
Na rede privada, laboratórios já estão oferecendo a vacina com os novos vírus recomendados para essa temporada.
Em laboratórios do Grupo Dasa, que administra redes no Brasil inteiro, as vacinas tri e tetravalente estão sendo oferecidas a um preço que varia entre 90 e 160 reais. Em farmácias em São Paulo, a vacina trivalente é oferecida a um preço médio de R$ 130.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar informa que os planos de saúde não estão obrigados a oferecer e cobrir a vacina contra a gripe. Segundo a ANS, todo o programa de imunizações fica a cargo do Ministério da Saúde.
Já o Ministério da Saúde informa que a campanha nacional contra o vírus será definida nos próximos dias, mas deve ocorrer ainda esse mês. A vacina é oferecida gratuitamente pelo governo para pessoas que podem desenvolver reações mais graves ao vírus.
- Crianças de 6 meses a 5 anos de idade;
- Gestantes; puérperas, isto é, mães que deram à luz há menos de 45 dias;
- Idosos;
- Profissionais de saúde, professores da rede pública ou privada, portadores de doenças crônicas, povos indígenas e pessoas privadas de liberdade.
Como o imunizante consegue induzir o sistema imunológico com um vírus morto, não há risco de reações graves e a vacina é indicada para pessoas com problemas de imunidade, diz Kfouri. Ele explica que, embora a vacina na campanha nacional seja destinada aos mais vulneráveis, a indicação é que todos que puderem procurem o imunizante.
Vírus definidos pela OMS
Todos os anos, a Organização Mundial de Saúde define quais tipos de vírus as vacinas contra a gripe devem conter a partir dos vírus mais circulantes no ano anterior. No hemisfério Sul, ficou definido que a vacina trivalente (com três vírus) deve conter:
- um vírus similar ao vírus influenza A/Michigan/45/2015 (H1N1)pdm09;
- um vírus similar ao vírus influenza A/Singapore/INFIMH-16-0019/2016 (H3N2);
- um vírus similar ao vírus influenza B/Phuket/3073/2013.
Já as vacinas quadrivalentes, podem conter também o influenza B da forma Brisbane/60/2008.
"Há uns 9 anos mais ou menos, não era comum ter a circulação simultânea de dois tipos de influenza B. Essa situação mudou e, por isso, começaram a surgir as vacinas com quatro subtipos do vírus", diz Kfouri.
Entenda os tipos de influenza e mutações
O infectologista Renato Kfouri explica que o vírus influenza é dividido em tipos, subtipos e linhagens. Todas essas variações correspondem a diferenças encontradas no material genético do vírus.
Primeiro, em relação ao tipo, o influenza é dividido em A, B e C. O vírus A e B são os que infectam seres humanos; já o tipo C, não é incluído em vacinas e não tem relevância para a saúde pública até o momento.
Já essas formas H3N2, H1N1, dentre outras, referem-se aos subtipos do influenza A. As letras H e N referem-se a proteínas encontradas na superfície do vírus, respectivamente, neuraminidase e hemaglutinina.
Os números, por sua vez, são referentes a maneira como essa proteína é apresentada, como uma haste mais longa, por exemplo.
Já o influenza B é dividido em duas linhagens, que passaram a circular simultaneamente nos últimos anos.