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Nos últimos meses, pesquisadores vêm se manifestando, pedindo que as orientações das autoridades de saúde passem a priorizar medidas de proteção que podem conter a transmissão do vírus pelo ar (máscaras, distanciamento e ventilação) e tornem mais claras as diretrizes para a desinfecção de superfícies, consideradas de baixíssimo risco de contaminação de acordo com os estudos mais recentes.
"A falta de clareza sobre os riscos das superfícies -comparado ao risco muito maior da transmissão pelo ar– tem sérias implicações. Pessoas e organizações continuam a priorizar esforços custosos de desinfecção, quando eles poderiam colocar mais recursos enfatizando a importância das máscaras e investigando medidas para melhorias em ventilação", diz a revista científica Nature em editorial publicado no início de fevereiro.
Em janeiro deste ano, quando o caos na saúde pública teve início em Manaus devido ao aumento nos números de casos da Covid-19, moradores se aglomeravam nas ruas para lavar as calçadas, enfrentando um risco desnecessário para aplicar uma medida sem efeitos significativos contra o vírus.
Em um artigo publicado no periódico científico The Lancet Infectious Diseases, o professor de microbiologia Emanuel Goldman, da Universidade Rutgers (Estados Unidos), afirma que as chances de transmissão do Sars-CoV-2 pelas superfícies é muito baixa, havendo risco apenas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra sobre a superfície e outra pessoa toca o mesmo local em um período de cerca de 1h a 2h.
"Embora a desinfecção peródica de superfícies e o uso de luvas sejam precauções razoáveis, especialmente dentro de hospitais, acredito que superfícies que não tenham tido contato com pessoas infectadas por muitas horas não representam risco de transmissão fora de hospitais. Não discordo dos cuidados, mas eles podem ir a extremos não justificados pelos dados", afirma Goldman no texto.
Em nota publicada no dia 18 de fevereiro, a FDA, agência regulatória dos EUA, afirma que o risco de transmissão do coronavírus por meio de alimentos ou embalagens de alimentos é extremamente baixo. "Considerando os mais de 100 milhões de casos da Covid-19, não temos visto evidência epidemiológica de que alimentos ou embalagens de alimentos sejam fontes da transmissão do Sars-CoV-2 aos humanos", diz o texto.
Já a transmissão do vírus pelo ar vem sendo observada cada vez com maior clareza. Um estudo realizado por cientistas brasileiros, publicado no fim de janeiro deste ano na revista científica Environmental Research, detectou a presença do Sars-CoV-2 em amostras do ar de um hospital de Minas Gerais, mesmo em locais dedicados a pacientes sem a Covid-19 e com ventilação natural.
"Precisamos incorporar que os aerossóis são rota importante de infecção e pensar na engenharia para a infraestrutura dos ambientes, em formas de se alocar pessoas em locais fechados com segurança", afirma Ricardo Gomes Passos, pesquisador no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CDTN) que liderou o estudo.
Passos faz um alerta sobre o risco de contágio em espaços como restaurantes e bares. Nesses ambientes, o barulho da conversa ou de música faz com que as pessoas levantem ainda mais o som da voz, emitindo mais aerossóis. Assim, ações como o uso de álcool em gel nas mãos e nas superfícies são insuficientes sem uma boa ventilação para permitir a saída do ar contaminado.
Outros locais de risco são as academias, onde as pessoas fazem atividades que aumentam a intensidade da respiração, e as igrejas, onde há música, canto e nem sempre distanciamento social. Aviões, mesmo fechados e abrigando pessoas por horas, são considerados de baixo risco. O ar da cabine é renovado a cada três minutos. Metade desse fluxo vem de fora do avião e metade passa por filtros Hepa, sistema de alta eficiência que retém 99,9% dos vírus.
Embora o coronavírus tenha sido encontrado em aerossois durante experimentos, alguns cientistas ponderam que as gotículas maiores de saliva contaminadas, que podem ser respiradas quando alguém está muito perto de uma pessoa infectada, são a principal forma de transmissão da doença.
Em um artigo publicado na revista científica Journal of the American Medical Association (Jama) em julho do ano passado, pesquisadores da Escola de Medicina de Harvard afirmam que os aerossóis podem não ser a forma principal de transmissão do vírus, mas também é impossível dizer que a transmissão não pode ocorrer pelos aerossóis, mesmo com evidências ainda não conclusivas.
"As pessoas produzem gotículas e aerossóis, e a transmissão pode ocorrer em um espectro", escrevem os cientistas. Eles reafirmam que o uso de máscaras, o distanciamento físico e uma boa ventilação são suficientes para mitigar os riscos do contágio por qualquer uma dessas vias.
Ainda não se sabe qual a quantidade de vírus (carga viral) suficiente para dar início à infecção, e outros fatores como o tempo de exposição às gotículas e aerossóis contaminados e o sistema imunológico da pessoa exposta também contam nessa equação. Por isso, a recomendação de médicos e cientistas do mundo todo vai sempre na mesma direção: priorizar a proteção respiratória.
Para o imunologista Gustavo Cabral de Miranda, da USP, o reconhecimento da importância da transmissão pelo ar não significa o fim do uso do álcool em gel e outras formas de desinfecção de superfícies. "Mesmo tendo menor probabilidade de infecção, ainda existe a possibilidade", diz.
Miranda afirma que mesmo com a chegada das vacinas ainda serão necessárias as medidas de proteção por algum tempo. O quadro se agrava com o surgimento das variantes do Sars-Co-V-2, que podem infectar novamente quem já teve a doença.
"Agora temos a vacina, mas a logística ruim e a atuação do governo federal e do Ministério da Saúde tem sido muito falha. O programa de vacinação vai ser importante, mas precisamos também de um programa nacional de conscientização. É isso que vai evitar a dispersão do vírus", diz.
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Em um artigo publicado no periódico científico The Lancet Infectious Diseases, o professor de microbiologia Emanuel Goldman, da Universidade Rutgers (Estados Unidos), afirma que as chances de transmissão do Sars-CoV-2 pelas superfícies é muito baixa, havendo risco apenas quando uma pessoa infectada tosse ou espirra sobre a superfície e outra pessoa toca o mesmo local em um período de cerca de 1h a 2h.
"Embora a desinfecção peródica de superfícies e o uso de luvas sejam precauções razoáveis, especialmente dentro de hospitais, acredito que superfícies que não tenham tido contato com pessoas infectadas por muitas horas não representam risco de transmissão fora de hospitais. Não discordo dos cuidados, mas eles podem ir a extremos não justificados pelos dados", afirma Goldman no texto.
Em nota publicada no dia 18 de fevereiro, a FDA, agência regulatória dos EUA, afirma que o risco de transmissão do coronavírus por meio de alimentos ou embalagens de alimentos é extremamente baixo. "Considerando os mais de 100 milhões de casos da Covid-19, não temos visto evidência epidemiológica de que alimentos ou embalagens de alimentos sejam fontes da transmissão do Sars-CoV-2 aos humanos", diz o texto.
Já a transmissão do vírus pelo ar vem sendo observada cada vez com maior clareza. Um estudo realizado por cientistas brasileiros, publicado no fim de janeiro deste ano na revista científica Environmental Research, detectou a presença do Sars-CoV-2 em amostras do ar de um hospital de Minas Gerais, mesmo em locais dedicados a pacientes sem a Covid-19 e com ventilação natural.
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Passos faz um alerta sobre o risco de contágio em espaços como restaurantes e bares. Nesses ambientes, o barulho da conversa ou de música faz com que as pessoas levantem ainda mais o som da voz, emitindo mais aerossóis. Assim, ações como o uso de álcool em gel nas mãos e nas superfícies são insuficientes sem uma boa ventilação para permitir a saída do ar contaminado.
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